Os jornalistas Daniel Fernandes (esquerda) e Romão De Jesus foram agredidos por militares e polícias enquanto reportavam sobre despejos em Luanda, Angola. (Fotografias: Daniel Fernandes e Romão De Jesus)

Forças de segurança angolanas atacam jornalistas que cobriam despejos em Luanda

A 13 de abril de 2022, oficiais militares e policiais na capital angolana de Luanda impediram os repórteres Daniel Fernandes e Romão De Jesus de noticiar sobre a demolição de casas para dar lugar a um novo aeroporto na cidade, de acordo com reportagens dos media e ambos os jornalistas, que falaram ao CPJ por telefone e aplicativo de mensagens.

Os oficiais insultaram e empurraram Fernandes, repórter da Rádio Despertar, uma emissora pertencente ao partido de oposição União Nacional para a Independência Total de Angola, e De Jesus, repórter da Rádio privada MFM, segundo essas fontes.

As autoridades bateram em De Jesus com um bastão nas costas e agarraram Fernandes pelo colarinho da camisa e empurraram-no, disseram os jornalistas.

Fernandes explicou que queria entrevistar pessoas afetadas pelos despejos e demolições para o seu programa semanal de rádio, “Repórter da Minha Banda”.

“Quando chegámos, as escavadoras já estavam a destruir casas, e começámos a recolher testemunhos de residentes. Após 10 minutos, estávamos rodeados de oficiais militares furiosos, a insultar-nos, a gritar que não devíamos estar lá, a exigir o nosso equipamento de gravação, a intimidar-nos, sendo muito agressivos”, disse o jornalista ao CPJ. 

Um dos oficiais arrancou o gravador de Fernandes das suas mãos, dizendo que tinham ordens dos seus superiores para tirar toda a gente dali, incluindo os repórteres, afirmou o jornalista ao CPJ. O gravador só foi devolvido dias depois, após a intervenção do administrador da estação de rádio, que utilizou os seus contatos no comando militar para o recuperar, disse Fernandes. 

“Os residentes estavam a tentar dizer aos oficiais que éramos apenas jornalistas a trabalhar, mas os oficiais ignoraram-nos e continuaram a insultar-nos, dizendo que ninguém tinha autorização para estar no local. Estar rodeado de militares furiosos foi uma experiência assustadora, tivemos de sair de lá a correr”, relatou Fernandes.

De Jesus disse ao CPJ que mais de uma dúzia de polícias e militares se aproximaram dele e de Fernandes no local.

“Não estávamos a usar coletes, mas o meu microfone tem o logótipo da rádio MFM, e eles viram-nos a recolher declarações de pessoas”, informou De Jesus, acrescentando que deixou cair o seu microfone e o seu telemóvel enquanto tentava escapar a um oficial militar que lhe batia de costas com um bastão. 

“Tivemos de fugir. Voltei no dia seguinte e consegui encontrar o meu microfone com um dos residentes no local, mas disseram-me que o meu celular tinha sido levado por um dos oficiais que tinha a intenção de verificar as imagens que eu tinha recolhido”, disse De Jesus, acrescentando que ninguém lhe tinha devolvido o seu aparelho até 3 de maio.

A porta-voz da polícia nacional, Engrácia Costa, disse ao CPJ num telefonema que não tinha conhecimento do incidente e não podia comentar, mas acrescentou que todas as organizações de comunicação social em Angola gozam de uma boa relação com a polícia. 

O Coronel Adriano Lopes do Comando Militar Angolano declarou ao CPJ, num telefonema no dia 3 de maio, que não podia comentar o caso naquele momento. 
No ano passado, outro jornalista da Rádio Despertar, Jorge Manuel, foi detido durante cinco dias por cobrir protestos contrários a despejos em Luanda, como o CPJ documentou na ocasião.