Nova York, 17 de abril de 2020 – As autoridades de Moçambique devem conduzir uma investigação rápida e transparente sobre o paradeiro do jornalista Ibraimo Abú Mbaruco e levar à Justiça os responsáveis por seu desaparecimento, informou hoje o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ).
Em 7 de abril, Mbaruco, repórter e apresentador de notícias da emissora da Rádio Comunitária de Palma na província de Cabo Delgado, no norte, deixou o trabalho por volta das 18:00 e, logo depois, enviou uma mensagem de texto a um colega dizendo que estava “cercado por soldados”, de acordo com uma declaração da seção moçambicana do Instituto de Mídia da África Austral (Media Institute of Southern Africa – MISA), grupo regional de liberdade de imprensa, e informações da imprensa local.
Ele não foi visto desde então e não respondeu aos telefonemas ou mensagens de texto de seus colegas, segundo a declaração do MISA.
“As autoridades moçambicanas devem ser minuciosas e transparentes na investigação do paradeiro de Ibraimo Abú Mbaruco e garantir a prestação de contas sobre o ocorrido, já que Cabo Delgado se tornou uma área onde a imprensa e defensores dos direitos humanos não são bem-vindos”, disse Angela Quintal, coordenadora do programa para África do CPJ. “É inaceitável que, 10 dias após ele desaparecer, sua família e colegas permaneçam no escuro sobre seu paradeiro.”
Fernando Gonçalves, presidente da seção de Moçambique do MISA, disse ao CPJ em uma entrevista por telefone que um policial, que falou com sua organização sob a condição de anonimato, contou que os soldados levaram Mbaruco para Mueda, uma cidade a cerca de 300 quilômetros de distância, para interrogatório. O CPJ não pôde verificar de forma independente essas informações.
Gonçalves acrescentou que os militares não tinham autoridade para deter civis e que as leis moçambicanas não permitiam prisões sem mandado.
O irmão do jornalista, Juma Abú Mbaruco, disse hoje ao CPJ via aplicativo de mensagens que a família ainda não recebeu nenhuma informação sobre o paradeiro de Ibraimo e não sabia se ele estava vivo. Também informou que denunciou o desaparecimento à polícia local e ao gabinete do procurador da província.
Mbaruco também trabalhava como defensor dos direitos humanos e fazia parte da rede Sekelekani, uma organização da sociedade civil local que treina pessoas para se tornarem jornalistas cidadãos, de acordo com uma reportagem do site de notícias local Zitamar News.
Outro colaborador da Sekelekani em Palma, Roberto Abdala, não é visto desde março, segundo o mesmo texto.
Ataques antigovernamentais de grupos insurgentes aumentaram na província de Cabo Delgado nas últimas semanas, conforme as informações da imprensa. As forças armadas moçambicanas foram acusadas de violar os direitos humanos em sua luta contra a insurgência, o que o governo nega, segundo as notícias. A polícia recentemente aplicou um toque de recolher em Pemba e Palma, forçando as pessoas a ficar em suas casas, de acordo com o Zitamar News.
Em 14 de abril, soldados em Pemba, capital de Cabo Delgado, detiveram Izidine Acha, repórter da emissora de televisão local STV, por cerca de duas horas e o forçaram a excluir as imagens que havia feito das operações policiais e militares, disse o jornalista ao CPJ por aplicativo de mensagens.
O CPJ enviou mensagens de texto ao porta-voz da polícia, Augusto Guto, e ao governador de Cabo Delgado, Valige Tawabo, para obter seus comentários, mas não recebeu nenhuma resposta.
No ano passado, soldados em Cabo Delgado prenderam o jornalista Amade Abubacar e mais tarde também o seu colega Germano Adriano, mantendo-os em prisão preventiva por três meses; eles continuam enfrentando processo judicial, de acordo com a pesquisa do CPJ.
Os militares também prenderam anteriormente o jornalista investigativo Estacio Valoi e Pinde Dube, correspondentes zimbabuenses da emissora privada sul-africana eNCA, enquanto cobriam a insurgência na província, de acordo com a pesquisa do CPJ.