A polícia de choque fica de guarda durante uma manifestação política em 19 de março de 2018, em Bagé, Brasil. As autoridades de Bagé mostraram uma foto do jornalista investigativo local Giovani Grizotti em 13 de janeiro de 2022, colocando-o em risco de retaliação por suas reportagens. (AFP/Itamar Aguiar)

Prefeito brasileiro coloca em risco o jornalista Giovani Grizotti ao divulgar sua imagem em vídeo

Rio de Janeiro, 26 de janeiro de 2022 – As autoridades locais da cidade de Bagé, no sul do Brasil, devem parar de assediar e tentar censurar o jornalista investigativo Giovani Grizotti e permitir que a imprensa faça seu trabalho sem retaliações, disse na quarta-feira o Comitê para Proteção de Jornalistas (CPJ).

No dia 13 de janeiro, o prefeito de Bagé, Divaldo Lara, e a assessora de comunicação Roberta Mércio compartilharam uma foto que alegam ser do repórter investigativo Giovani Grizotti em um vídeo postado no YouTube, de acordo com uma declaração da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), uma declaração do Sindicato dos Jornalistas do Estado do Rio Grande do Sul e uma reportagem da Revista Fórum.

O vídeo foi supostamente uma retaliação à reportagem de Grizotti no início deste mês sobre denúncias de corrupção envolvendo o prefeito, que tentou proibir a publicação por vários meses, de acordo com documentos judiciais analisados pelo CPJ.

Grizotti, repórter da TV privada RBS, afiliada do grupo nacional de mídia Globo, informa sobre suposta corrupção envolvendo funcionários públicos da região e não se deixa fotografar para se proteger. A biografia de Grizotti no Twitter o descreve como um “repórter sem rosto”.

“As autoridades de Bagé devem parar qualquer outra ação destinada a intimidar, assediar ou censurar o jornalista Giovani Grizotti para impedi-lo de relatar assuntos de interesse público”, disse em Nova York a coordenadora de programas da América Latina e Caribe do CPJ, Natalie Southwick. “Revelar intencionalmente o rosto de um jornalista investigativo em retaliação por sua reportagem coloca um alvo nas suas costas e põe sua vida em perigo”.

A reportagem de Grizotti foi publicada em 11 de janeiro de 2022 depois que a RBS apelou com sucesso ao Supremo Tribunal Federal brasileiro para reverter as decisões de agosto de 2021 da 18ª Vara Cível e do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul que haviam atendido ao pedido de Lara para impedir sua publicação.

Em 13 de janeiro de 2022, o vídeo, intitulado “Prefeito Divaldo Lara revela quem é Giovani Grizotti, jornalista da Globo”, que o CPJ analisou, foi postado por uma conta no YouTube chamada “Gabriel Lm”. A conta divulgou apenas um outro vídeo, também de um funcionário da cidade de Bagé.  Embora o vídeo com Grizotti não tenha sido postado em nenhuma página oficial da mídia social do município de Bagé, possui links para a página oficial do prefeito no Facebook e apresenta tanto o prefeito de Bagé quanto a assessora de comunicação.

No vídeo de cinco minutos, Lara acusa Grizotti, a quem ele chama de “jornalista de esquerda”, alegando que ele “armou uma matéria” e se dirige ao jornalista diretamente no vídeo, dizendo-lhe para “mostra a cara, seja homem”. Lara também diz que vai “combater o jornalismo tendencioso como esse teu, que ataca o presidente, que ataca seus aliados “.

Anteriormente no vídeo, Mércio, assessora de comunicação de Bagé desde janeiro de 2021, de acordo com uma reportagem local e sua página no Facebook, acusa “grupos de esquerda” de criarem “fake news” com  “poder destrutivo sobre a reputação de alguém” e de usar a mídia “como arma” para isso.

O CPJ enviou um e-mail para Lara solicitando comentários, mas não recebeu nenhuma resposta. O CPJ tentou se comunicar com Mércio através do número de telefone da administração municipal, mas não conseguiu contatá-la ou encontrar qualquer outra informação adicional para fazê-lo.

Em uma breve declaração publicada em sua conta no Twitter em 13 de janeiro, Grizotti disse que estava sendo atacado pelo prefeito de Bagé e pela assessora de imprensa e que as informações em sua reportagem “desmentem a péssima montagem feita para me atacar”, acrescentando que ele seguiria “em busca da verdade”.

“Matérias jornalísticas investigativas são um serviço muito importante que os meios de comunicação prestam à população”, disse a RBS em uma declaração enviada por e-mail pela assessora de comunicação Mariana Mondini, acrescentando que “Ataques a um jornalista investigativo como Giovani Grizotti, cujo ofício exige muitas vezes técnicas como a infiltração, põem em risco não apenas o seu trabalho, mas ameaçam a sua segurança”.

Em sua declaração condenando a decisão do prefeito de revelar a foto de Grizotti, o Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande do Sul disse que um jornalista investigativo especializado em desvendar atividades criminosas e corrupção “mantém preservada a sua identidade visual, uma vez que corre risco de represálias que podem ser de extrema violência”.

“É inaceitável que uma pessoa com mandato público intimide e exponha jornalistas como forma de retaliação por seu exercício profissional”, disse Natália Mazotte, presidente da Abraji, ao CPJ através de um aplicativo de mensagens. “Ao lançar mão deste tipo de expediente, o prefeito de Bagé sinaliza que não quer ser cobrado pelos atos que pratica em seu mandato”. Grizotti já ganhou mais de 50 prêmios de jornalismo, segundo a RBS, incluindo o Prêmio Esso em 2006 e 2007. O jornalista fez parte de uma equipe indicada para um prêmio IRE (Broadcast Video – Grande categoria) em 2014, de acordo com a RBS, e foi indicado para um Emmy Internacional em 2014.