Nova Iorque, 12 de julho de 2021 — As autoridades moçambicanas devem investigar uma agressão policial recente contra jornalistas, cobrar a prestação de contas por parte dos responsáveis, e assegurar que os profissionais dos meios de comunicação social possam noticiar sem represálias, disse hoje o Comité para Proteção de Jornalistas (CPJ).
A 29 de junho, Simão Mugas e Faizal Abudo, repórteres da emissora privada online TV Muniga, Leonardo Gimo e Edmilson Luís, repórteres da estação privada TV Sucesso, e Emerson Joaquim, diretor do canal privado online Afro TV, reportavam o alegado espancamento policial de ativistas num posto de polícia em Nampula, a capital da província nordeste de Nampula, quando a força policial os empurrou para fora da esquadra, de acordo com informações da imprensa e Mugas, Abudo, Gimo, e Joaquim, que falaram com o CPJ por telefone. A polícia socou, pontapeou e esbofeteou Mugas e arrastou Abudo de volta ao posto policial, onde o socaram e pontapearam enquanto os outros jornalistas fugiam, disseram Mugas e Abudo ao CPJ.
O CPJ telefonou a Luís, mas ele não atendeu; Gimo explicou ao CPJ que Luis está em missão numa área fora do alcance dos telemóveis.
“O uso da força pela polícia contra jornalistas que estão simplesmente a fazer o seu trabalho é escandaloso e as autoridades moçambicanas têm de assegurar que este incidente seja investigado e que os perpetradores sejam levados à justiça”, disse a Coordenadora do Programa para a África do CPJ, Angela Quintal. “Não deve ser dada rédea solta aos agentes da polícia para abusarem do seu cargo e censurarem o escrutínio dos seus atos sem consequências”.
Simão Mugas (esquerda), repórter da emissora privada online TV Muniga, Leonardo Gimo (centro), repórter da emissora privada TV Sucesso, e Emerson Joaquim (direita), diretor da emissora privada online Afro TV, foram todos expulsos de um posto de polícia depois de terem denunciado alegados abusos policiais no local. (Fotografias da esquerda para a direita de Sadamo Muzé, Leonardo Gimo, e Camões Manuel)
Abudo, Gimo e Joaquim disseram ao CPJ que foram à esquadra para cobrir a detenção de ativistas que denunciaram a alegada brutalidade policial contra vendedores de ambulantes.
Na esquadra foi-lhes dito para esperarem por que o comandante da polícia ainda estava ocupado a interrogar os ativistas declararam os jornalistas ao CPJ. Quando os ativistas surgiram, alegaram aos jornalistas que a polícia os tinha espancado, acrescentaram.
“Comecei instintivamente a filmar, apesar de ainda estarmos dentro da esquadra da polícia”, disse Mugas.
Quando a polícia reparou que as câmaras dos jornalistas estavam a filmar, começaram a gritar com ele e Abudo e empurraram e expulsaram os cinco jornalistas do posto de polícia, relatou Mugas.
Cerca de 12 polícias cercaram-nos no exterior, revelou Mugas. “Vi dois polícias sobre Abudo e dois vieram atrás de mim para apanhar a câmara de vídeo”.
Quando a polícia percebeu que os jornalistas ainda estavam a gravar, eles tornaram-se mais agressivos, disse Mugas. “Deram-me socos, pontapés e esbofetearam-me nas costas e na cabeça, antes de eu ter conseguido fugir”, prosseguiu Mugas.
Abudo explicou ao CPJ que foi repetidamente espancado por um dos agentes que lhe deu pontapés e socos nas ancas, nas costas e na cabeça. Ele revelou que um dos oficiais lhe disse que se o primeiro presidente de Moçambique, Samora Machel, ainda estivesse no poder, ele o teria espancado até à morte.
Gimo contou ao CPJ que a polícia cercou Mugas e Luis e tentou apreender suas câmaras de vídeo. Luis entregou a sua à polícia que apagou parte das filmagens na esquadra antes de a devolver várias horas mais tarde, disse Gimo.
A polícia confiscou o microfone da TV Muniga e mais tarde devolveu-o, disse Abudo.
Abudo foi ao hospital e receitaram-lhe analgésicos para a anca e dores de cabeça, de acordo com o jornalista e uma prescrição médica revista pelo CPJ. Mugas não procurou cuidados médicos, disse ele ao CPJ.
Contactada pelo CPJ via telefone, a porta-voz da polícia municipal Zaida Nampuio disse que só o comandante podia comentar o incidente e pediu ao CPJ que voltasse a ligar. Ela não respondeu a quaisquer chamadas subsequentes.
Citado na Voz da América, media financiado pelo Congresso dos EUA, o comandante da polícia municipal António Maneque defendeu a conduta da polícia, dizendo que haviam agido “involuntariamente” depois de os jornalistas terem filmado dentro da estação em violação das regras, e que os jornalistas não tinham provas de que haviam sido espancados.