Nova York, 24 de agosto de 2020 – As autoridades moçambicanas devem conduzir em passo acelerado uma investigação meticulosa sobre o incêndio criminoso no Canal de Moçambique, disse hoje o Comitê para a Proteção dos Jornalistas.
Por volta das oito da noite de ontem na capital, Maputo, indivíduos não identificados invadiram as instalações do semanário independente de investigação e de sua publicação digital diária CanalMoz, jogaram gasolina nos móveis e equipamentos e os colocaram em chamas, segundo as informações da imprensa.
O incêndio destruiu a redação, o mobiliário e todo o equipamento utilizado para a produção de conteúdo, bem como o arquivo do jornal, de acordo com um comunicado da seção moçambicana do Media Institute of Southern Africa (MISA), um grupo regional de direitos de imprensa, que o CPJ analisou.
“O ataque ao escritório do Canal de Moçambique é o mais recente capítulo de um ambiente cada vez pior para a imprensa independente em Moçambique e uma ofensiva flagrante à democracia e ao direito do público de ser informado,” disse Angela Quintal, coordenadora do programa do CPJ para a África. “Pedimos às autoridades de Moçambique que investiguem o ataque de forma rápida e credível e garantam que não se torne mais um exemplo da impunidade que está a tornar-se norma com os ataques à imprensa no país.”
Em comunicado na sua página oficial do Facebook, o presidente moçambicano, Filipe Nyusi, disse condenar veementemente o ataque e ter instruído as autoridades a investigar.
Matias Guente, o editor executivo do jornal, disse ao CPJ por meio de aplicativo de mensagens, que os agressores “estão tentando fechar o jornal, porque sabem o quão relevantes somos para a democracia”.
Ele chamou o ataque de “terrorismo contra a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa”.
O Centro para a Democracia e Desenvolvimento em Moçambique, um grupo local de direitos humanos, afirmou em um comunicado analisado pelo CPJ que o ataque pode estar ligado a uma investigação do Canal de Moçambique sobre alegada corrupção entre altos funcionários envolvidos com o Ministério dos Recursos Minerais e Energia, que foi publicado na semana passada. O ministério suspendeu um acordo de marketing de combustível após essa investigação, de acordo com a declaração.
O porta-voz da polícia Orlando Mudumane não respondeu a um pedido de comentário via aplicativo de mensagens.
Guente e o Canal de Moçambique têm enfrentado perseguições e intimidações oficiais nos últimos anos, disse o jornalista ao CPJ.
Em 31 de dezembro de 2019, agressores não identificados espancaram Guente e tentaram sequestrá-lo, de acordo com notícias da época. Em junho de 2020, a Procuradoria-Geral da República interrogou-o por suposta violação de segredos de Estado para a publicação de informações sobre um contrato de segurança entre o governo e um consórcio multinacional de petróleo na província de Cabo Delgado, segundo reportagens e Guente.
Guente disse hoje ao CPJ que acredita que os incidentes estão relacionados, incluindo sua tentativa de sequestro, acrescentando que a polícia ainda não divulgou resultados sobre esta investigação mais de nove meses depois.
Até o momento, a polícia ainda não investigou de forma credível e informou sobre o sumiço do jornalista de rádio Ibraimo Mbaruco, desaparecido a 7 de abril em Cabo Delgado, depois de enviar uma mensagem de texto a um colega [dizendo] que ele estava “rodeado de soldados”, como o CPJ documentou na época.