Deslocados internos descarregam comida, cobertores e outros bens depois de fugirem dos ataques de combatentes em Naunde, no norte de Moçambique, em 13 de junho de 2018. Um jornalista moçambicano foi detido em 5 de janeiro de 2019 e mantido numa prisão militar depois de fotografar famílias que fugiram de ataques de militantes. (AFP/Joaquim Nhamirre)
Deslocados internos descarregam comida, cobertores e outros bens depois de fugirem dos ataques de combatentes em Naunde, no norte de Moçambique, em 13 de junho de 2018. Um jornalista moçambicano foi detido em 5 de janeiro de 2019 e mantido numa prisão militar depois de fotografar famílias que fugiram de ataques de militantes. (AFP/Joaquim Nhamirre)

Jornalista moçambicano preso, detido em prisão militar

Nova Iorque, 9 de janeiro de 2019 – Os militares moçambicanos devem libertar imediatamente Amade Abubacar, radiojornalista da Rádio e Televisão Comunitária estatal Nacedje de Macomia, no norte da província de Cabo Delgado, afirmou hoje o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ).

A polícia prendeu Abubacar em uma estação de autocarros em Macomia em 5 de janeiro, enquanto fotografava famílias que fugiram dos ataques de combatentes na província costeira, segundo um boletim enviado em 7 de janeiro pelo jornal independente Zitamar News, do qual Abucar também é correspondente. Autoridades mantêm Abubacar em Mueda, a 200 km de Macomia, em uma prisão militar por alegadas suspeitas de terrorismo, segundo uma declaração de 6 de janeiro da seção moçambicana do Instituto de Mídia da África do Sul (MISA) que foi enviada ao CPJ.

“As autoridades moçambicanas devem libertar imediatamente Amade Abubacar sem acusações e parar de censurar a cobertura da insurgência, detendo jornalistas e acusando-os de conluio com os combatentes”, disse Angela Quintal, coordenadora do programa da África do CPJ. “Com Moçambique pronto para eleições cruciais em outubro, Cabo Delgado não pode ser uma área proibida para a mídia. Os cidadãos têm o direito de receber informações de fontes independentes e diversificadas sobre o que está acontecendo em seu país”.

Zitamar relatou em seu boletim que Amade conseguiu entrar em contato com um membro da família por um telefone emprestado no dia de sua prisão. Ele disse que foi “repetidamente e brutalmente chutado” e acusado de ter ligações com uma conta agora banida do Facebook por promover e recrutar insurgentes, segundo um post de 6 de janeiro do Pinnacle News, que publica no Facebook.

Em sua coletiva de imprensa semanal, o porta-voz da polícia nacional, Inácio Dina, foi questionado sobre a prisão, segundo reportagem publicada ontem no jornal O País, de Moçambique. “Estamos coordenando e compartilhando informações. Vamos compartilhar as circunstâncias da prisão ou detenção de seu colega, que também é nosso colega”, disse ele, segundo O País.

No momento da publicação, as autoridades moçambicanas ainda não tinham feito nenhum comentário oficial sobre o caso de Abubacar.

Em uma declaração ao CPJ ontem, o irmão do jornalista, Ali Abubacar, disse que sua família não sabia por que Amade foi preso e não teve nenhum contato com ele desde o dia de sua prisão. “No que nos diz respeito, é uma maneira de silenciar a voz de um jornalista. Condenamos essa ação como uma ameaça completa à liberdade de expressão”.

Ele disse que sua família estava muito preocupada e pediu às autoridades que ajudassem a garantir que seu irmão fosse libertado o mais rápido possível.

Tom Bowker, editor do Zitamar News, disse ao CPJ que Abubacar era um diligente jornalista local que servia sua comunidade em Macomia, uma das áreas mais atingidas pela insurgência islâmica no norte de Moçambique. O jornal Mail & Guardian da África do Sul noticiou no ano passado que os combatentes são conhecidos por vários nomes, incluindo al-Sunnah wa Jama’ah, Swahili Sunna ou al-Shabab, embora não houvesse ligações formais com militantes somalis de mesmo nome. Pouco se sabe sobre o grupo armado ou suas motivações, ou o que pode ter provocado a onda de violência que começou em outubro de 2017, sem declarações públicas verificadas ou reivindicações de crédito por ataques, informou o Mail & Guardian.

Abubacar foi rebaixado de chefe da emissora de rádio para jornalista em setembro de 2018 por “supostamente informar com muita frequência sobre a insurgência”, disse Bowker. O jornalista foi preso “simplesmente por fazer seu trabalho de documentar as notícias em sua região”, disse Bowker, acrescentando: “A atitude das autoridades em reprimir a liberdade de expressão é completamente contraproducente e contradiz o suposto império da lei em Moçambique.”

Amade Chale, que sucedeu Abubacar como chefe da estação de rádio, não respondeu ao pedido de comentários do CPJ via WhatsApp.

Em 17 de dezembro, os militares em Cabo Delgado prenderam o jornalista investigativo Estacio Valoi, o pesquisador da Anistia Internacional David Matsinhe e seu motorista, Girafe Saide Tufane, e os mantiveram por dois dias antes de liberá-los sem acusação, de acordo com uma declaração no capítulo zimbabuense da MISA. Em junho de 2018, Pinde Dube, correspondente no Zimbábue para a emissora privada sul-africana eNCA, também foi preso em Cabo Delgado enquanto cobria os ataques de combatentes na área, conforme uma reportagem local.