Bogotá, 25 de junho de 2015 – Um tribunal colombiano sentenciou na quarta-feira o mentor do assassinato de um jornalista a 36 anos de prisão em uma condenação histórica que ocorre depois de anos de campanha e busca por justiça por parte de jornalistas locais.
O político Francisco Ferney Tapasco González foi condenado por ordenar em 2002 o homicídio de Orlando Sierra Hernández, colunista crítico e subdiretor do jornal La Patria na cidade central de Manizales, segundo as informações da imprensa. Sierra, de 42 anos, foi assassinado com três tiros na cabeça, crime que aconteceu na frente de sua filha.
O veredito foi uma vitória para os jornalistas que lutaram durante anos para pôr fim à impunidade crônica na Colômbia. A Fundação para a Liberdade de Imprensa (FLIP, sigla em espanhol) afirmou que foi a primeira vez que todos os envolvidos no assassinato de um jornalista foram condenados.
“Finalmente, depois de 13 anos, se fez justiça no homicídio de Orlando Sierra, um caso que refletiu as sérias deficiências do sistema de justiça criminal na Colômbia”, afirmou em Nova York o coordenador sênior do programa das Américas do CPJ, Carlos Lauría. “Isso demonstra o que os jornalistas podem obter quando trabalham unidos: a impunidade não tem que ser a norma e os poderosos podem ser castigados”.
A decisão do tribunal de Manizales ocorreu após anos de atrasos, assassinato de testemunhas e sentenças judiciais controvertidas. O tribunal também condenou Fabio López Escobar e Jorge Hernando López Escobar no caso de Sierra e os sentenciou a quase 29 anos de prisão. Tapasco, que tinha uma longa ficha criminal, também foi condenado em 2010 por ter colaborado com esquadrões da morte paramilitares, segundo as informações da imprensa.
Sierra acusou, frequentemente , proeminentes políticos dos partidos Liberal e Conservador de nepotismo, compra de votos e roubo de fundos públicos. Tapasco foi prefeito e um veterano líder político em Manizales, capital do departamento [estado] de Caldas, a noroeste de Bogotá; Também foi deputado estadual e presidente do partido Liberal em Caldas.
Sierra começou a receber ameaças de morte no final dos anos noventa, depois de escrever sobre como Tapasco havia sido destituído do cargo após a revelação que na década de setenta havia sido condenado por vender tickets de racionamento militar quando era prefeito de Supia, município de Caldas.
Segundo a pesquisa do CPJ, Sierra apoiou publicamente o processo legal para destituir Tapasco e também utilizou sua coluna para destacar a condenação de Tapasco por ocultar informações sobre o assassinato, em 1991, de um docente em Caldas. Sierra também investigou possíveis vínculos entre Tapasco e um esquadrão da morte. Pouco antes de ser morto, ele havia informado seus colegas que, se algo lhe acontecesse, Tapasco seria o responsável.
Sierra foi baleado em 30 de janeiro de 2002 em frente à redação do La Patria. Morreu dois dias depois. No dia do tiroteio, a polícia prendeu Luis Fernando Soto Zapata, de 21 anos, que confessou ter cometido o crime. Soto foi sentenciado a 19 anos de prisão, mas saiu depois de cumprir 5 anos de sua condenação por bom comportamento. Em julho de 2008, Soto morreu em um confronto com a polícia na cidade de Cali.
Temendo que o assassinato de Sierra ficasse insolúvel, sete jornais e revistas colombianos formaram o Projeto Manizales para tentar investigar o caso. O homicídio de Sierra também foi objeto de um documentário, intitulado “La Batalla del Silencio”.
Mas, apesar do acúmulo de evidências, Tapasco só foi vinculado ao caso três anos mais tarde, e seu julgamento começou uma década depois do assassinato, segundo a FLIP. Então, informou a FLIP em um comunicado, nove testemunhas haviam sido assassinadas. Em 2013, um juiz declarou Tapasco inocente do homicídio de Sierra.
Mas houve recurso impetrado por promotores do governo e pelo procurador-geral que monitora a conduta dos funcionários judiciais. Em sua decisão de quarta-feira, o tribunal afirmou que as colunas de Sierra criticando Tapasco “geraram um ressentimento dele para com Sierra, como jornalista, por questionar seu poder, sua liderança política. (Tapasco) não deixaria ninguém interferir em sua gestão”, de acordo com as informações da imprensa.
“Este é um caso que vinha sendo trabalhado pela Procuradoria há muitos anos, tivemos vários tropeços, como a sentença de absolvição, A Procuradoria argumentou, pediu que se revisasse essa sentença e essa sentença foi revogada no dia de hoje. Esperamos, com isto, encerrar um ciclo muito importante, pois não estamos falando apenas dos autores materiais, mas também dos intelectuais” afirmou Jorge Fernando Perdomo, Vice-procurador-geral da Nação, em um comunicado.
Apesar da segurança na Colômbia ter melhorado nos últimos anos, a impunidade esta arraigada, enquanto as ameaças e a violência contra jornalistas continua, segundo a pesquisa do CPJ. Problemas como promotores sobrecarregados e o manuseio precário de evidências fazem com que as investigações criminas se arrastem por anos. A Colômbia está em oitavo lugar no Índice de Impunidade do CPJ de 2014, um censo anual que destaca países onde jornalistas são assassinados e os homicidas ficam livres. Em 26 de maio, o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, afirmou ao CPJ que daria prioridade ao combate da impunidade nos casos de crimes contra jornalistas e que instaria as autoridades judiciárias a acelerar as investigações.