Nova York, 20 de maio de 2015 – As autoridades brasileiras devem investigar plenamente o assassinato de um blogueiro brasileiro, identificar o motivo, e levar os assassinos à justiça, disse hoje o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ). O corpo decapitado de Evany José Metzker foi encontrado na segunda-feira no estado de Minas Gerais, sudoeste do país, segundo informações da imprensa.
“Condenamos o brutal assassinato de Evany José Metzker e instamos as autoridades brasileiras a não deixar pedra sobre pedra ao investigar este crime e todos os seus possíveis motivos”, disse em Nova York o coordenador sênior do programa das Américas do CPJ, Carlos Lauría. “A capacidade dos jornalistas de relatar as notícias está sendo claramente minada pela violência letal contra a imprensa brasileira”.
A polícia, respondendo a um telefonema anônimo, encontrou o corpo de Metzker em uma vala na periferia da cidade de Padre Paraíso, no nordeste de Minas Gerais, de acordo com informações da imprensa local. Sua cabeça tinha sido cortada e foi encontrada a 100 metros de seu corpo, de acordo com notícias da imprensa. Ele estava seminu e tinha as mãos atadas atrás das costas, informou o jornal O Globo. Ele ainda tinha sua carteira, relógio e anel.
Francisco Couy, funcionário do escritório do legista local, disse ao CPJ por telefone que Metzker provavelmente foi morto na quarta-feira ou quinta-feira. Ele também leu detalhes do caso em um vídeo no YouTube.
Metzker, 67, escrevia um blog chamado Coruja Do Vale, que focava em notícias gerais políticas e má conduta oficial na empobrecida região norte e em partes do leste de Minas Gerais, um dos maiores estados do Brasil. O blog relatou notícias como prisões feitas em barreiras policiais, violações de estacionamento por parte de autoridades locais, e histórias de interesse da comunidade, de acordo com a avaliação do CPJ de seu conteúdo.
A esposa do jornalista, Hilma Chaves Silva Borges, disse ao CPJ que eles viviam na cidade de Medina, mas que Metzker tinha viajado para Padre Paraíso há cerca de três meses para fazer algum trabalho de investigação, sobre o qual ela não forneceu mais detalhes. “Ele estava fazendo jornalismo investigativo em uma região que é muito perigosa”, Borges disse ao CPJ. “Há muitos assassinatos aqui. Eu acho que o motivo, dado a barbárie do seu assassinato, foi que ele atingiu algo. Ele investigou prefeitos, políticos, roubos de carga, prostituição “, disse ela.
De acordo com alguns relatos da imprensa local, Metzker estava investigando uma rede de prostituição infantil que estava ativa na área. Um post em seu blog de 9 de maio contou com uma imagem de um pistoleiro de estilo cowboy com as palavras: “Bem-vindo ao Padre Paraíso”. No subtítulo, abaixo, se lê: “Aqui não há regras nem leis”.
Fabrícia Noronha, principal investigadora do caso, disse ao CPJ que as autoridades estavam perseguindo duas linhas de investigação. “Uma delas é que o crime estava relacionado com seu trabalho como jornalista investigativo, e a outra é um possível crime passional”, disse ela. Ela não forneceu mais detalhes.
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais emitiu uma declaração pedindo que o assassinato seja “rigorosamente investigado” e os seus autores responsabilizados.
Blogueiros independentes em capitais e cidades do interior que cobrem crime e corrupção estão particularmente em risco no Brasil, segundo a pesquisa do CPJ. Blogueiros que divulgam notícias têm crescido em influência no país, tornando-se assim os mais novos alvos daqueles que querem amordaçar a imprensa, demonstram as investigações do CPJ.
O Brasil tem visto um aumento acentuado da violência letal contra a imprensa nos últimos anos, de acordo com a pesquisa do CPJ. Pelo menos 14 jornalistas foram mortos em represália direta por seu trabalho desde 2011, segundo o CPJ. O histórico de impunidade no Brasil contribui para a violência e intimidação. O país ficou em 11º no Índice de Impunidade 2014 do CPJ, que destaca os países onde jornalistas são assassinados e seus homicidas ficam em liberdade.
- Para mais informações sobre o Brasil, clique aqui para ler o relatório especial do CPJ sobre o país em 2014.