A 2 de outubro de 2021, um grupo de agentes policiais da capital de Moçambique, Maputo, detiveram e agrediram Armando Nenane, repórter da agência privada Imprensa Paralegal, que distribui conteúdos a outros meios, enquanto ele cobria um acidente de trânsito, segundo o jornalista, que falou com o CPJ numa entrevista telefónica e publicou sobre o incidente no Facebook.
Nenane filmou as vítimas do acidente no seu telefone para a Imprensa Paralegal, colocando fotografias e vídeo na sua página do Facebook. Às 10.30, cerca de uma hora e meia após o acidente, chegaram duas carrinhas com cerca de 10 agentes da polícia que se aproximaram dele, relatou o jornalista ao CPJ. Os agentes cercaram-no e confiscaram o seu telefone antes de cinco deles o levarem a pé para o Nono Posto de Polícia, próximo ao local.
No posto, os agentes exigiram que Nenane desbloqueasse o seu telemóvel e apagasse as filmagens que tinha gravado da chegada da polícia ao local, disse Nenane ao CPJ. Quando recusou, um dos agentes deu-lhe uma bofetada na cara. Nenane afirmou que protestou, esse agente saiu, e depois outro agente disse ao jornalista que precisava de apresentar os seus documentos de imprensa para que as filmagens não fossem apagadas. Após cerca de 30 minutos, a mulher de Nenane trouxe o seu cartão de identificação de imprensa ao posto, e os oficiais devolveram-lhe o telefone e libertaram-no sem qualquer acusação.
Ao sair do posto policial, Nenane retornou ao local do acidente para continuar a reportagem. Foi detido novamente por agentes que mais uma vez e o levaram de volta para o mesmo posto policial numa van da polícia, onde foi algemado e retido durante cerca de 15 minutos, até ser novamente libertado sem acusação por ordem de um oficial superior, disse Nenane.
Uma equipa de jornalistas da emissora privada TV Sucesso esteve no local do acidente e viu Nenane ser levado pelos agentes pela segunda vez, segundo Nenane e Romeu Pascoal, um repórter da TV Sucesso, que não se econtrava no local mas que está familiarizado com o incidente e conversou com o CPJ pelo telefone.
Um dos repórteres da TV Sucesso explicou à polícia que Nenane era jornalista e devia ser libertado, mas os agentes ignoraram os seus pedidos, disseram Nenane e Pascoal.
“Este tipo de abuso por parte das autoridades é frequente”, disse Nenane ao CPJ. “É assim que os jornalistas são tratados pelas autoridades em Moçambique”. O CPJ tem documentado numerosas detenções e assédio de policiais a jornalistas em Moçambique nos últimos anos.
Contactado por telefone, o comandante da polícia de Maputo, Fabião Nhancololo, afirmou ao CPJ a 19 de outubro que não tinha conhecimento das detenções de Nenane, que iria investigar e entrar em contacto com o comandante do Nono Posto de Polícia. Nhancololo também disse ao CPJ que partilharia as informações obtidas junto ao chefe do Nona Posto, mas não o fez nem respondeu a chamadas e mensagens subsequentes.