Ao menos 274 jornalistas encarcerados em todo o mundo, apesar dos riscos de COVID-19 nos presídios
Nova York, 15 de dezembro de 2020 – Um número recorde de jornalistas foi aprisionado em decorrência de seu trabalho em 2020 enquanto os governos reprimiam a cobertura de notícias de distúrbios civis e da pandemia de coronavírus, apurou o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) em seu último censo anual.
“É chocante e assustador ver uma cifra recorde de jornalistas encarcerados em meio a uma pandemia global”, disse o diretor-executivo do CPJ, Joel Simon. “Essa onda de repressão é uma forma de censura que está atrapalhando o fluxo de informações e alimentando a infodemia. Com COVID 19 assolando as prisões em todo o mundo, também está colocando a vida de jornalistas em risco.”
Pelo menos 274 jornalistas estavam presos em 1.º de dezembro, o maior número desde que o CPJ começou a coletar dados no início da década de 1990, e o quinto ano consecutivo com pelo menos 250 jornalistas aprisionados. China, Turquia, Egito e Arábia Saudita foram os piores carcereiros.
Protestos e tensões políticas foram um catalisador para muitas prisões. Dois países com aumentos significativos de jornalistas encarcerados foram a Etiópia, onde a agitação degenerou em conflito armado, e a Bielorrússia [Belarus], onde jornalistas foram detidos enquanto cobriam protestos contra o presidente Aleksandr Lukashenko, que alegou vitória em uma eleição amplamente considerada fraudulenta.
Embora nenhum estivesse atrás das grades nos Estados Unidos no momento do censo prisional do CPJ, um número sem precedentes de 110 jornalistas foi preso ou acusado em 2020, muitos enquanto cobriam manifestações contra a violência policial; pelo menos 12 ainda enfrentam acusações, de acordo com o U.S. Press Freedom Tracker.
A retórica dura do presidente Donald Trump ao longo de seu mandato, incluindo a denominação de reportagens críticas de “notícias falsas”, deu cobertura a líderes autoritários para reprimir jornalistas em seus próprios países. Globalmente, 34 jornalistas foram presos por “notícias falsas”, em comparação com 31 no ano passado. O CPJ publicou recentemente recomendações para que o próximo governo de Joe Biden restaure a liderança dos Estados Unidos em liberdade de imprensa, incluindo a priorização da questão em sua política externa e a nomeação de um Enviado Presidencial Especial para a Liberdade de Imprensa.
“O número recorde de jornalistas presos em todo o mundo é o legado em liberdade de imprensa do presidente Trump”, disse Simon. “O próximo governo Biden deve trabalhar como parte de uma coalizão global para reduzir este número.”
Em meio à pandemia, líderes autoritários tentaram controlar a narrativa prendendo jornalistas; eles também atrasaram julgamentos, restringiram as visitas e desconsideraram o aumento do risco à saúde na prisão; pelo menos dois jornalistas morreram após contrair a doença sob custódia. O CPJ documentou mais de 200 violações à liberdade de imprensa relacionadas ao COVID-19 e lançou a campanha #FreeThePress para pedir aos líderes mundiais que libertassem todos os jornalistas presos.
O censo do CPJ é um instantâneo dos que estavam encarcerados às 00:01 de 1.º de dezembro de 2020. Não inclui os muitos jornalistas presos e libertados ao longo do ano; relatos desses casos podem ser encontrados em http://cpj.org. Os jornalistas permanecem na lista do CPJ até que a organização determine com razoável certeza que foram libertados ou morreram sob custódia. Neste ano, o trabalho de advocacy do CPJ ajudou a levar à libertação antecipada de pelo menos 75 jornalistas aprisionados em todo o mundo.
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O CPJ é uma organização independente sem fins lucrativos que trabalha para proteger a liberdade de imprensa em todo o mundo.
Nota aos Editores:
O relatório do CPJ está disponível em amárico, árabe, chinês, inglês, farsi, francês, português, russo, espanhol e turco. Os especialistas do CPJ também estão disponíveis para entrevistas em vários idiomas; e-mail [email protected] para mais informações.
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