Equipamento de transmissão danificado depois que homens armados não identificados, usando fardas da guarda nacional, atacaram a estação privada Rádio Capital FM em Bissau, Guiné-Bissau. (Rádio Capital FM)

Rádio Capital FM é vandalizada na Guiné-Bissau

Nova York, 3 de agosto de 2020 – As autoridades da Guiné-Bissau devem investigar o vandalismo na emissora Rádio Capital FM e levar os responsáveis à Justiça, afirmou hoje o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ).

No início da manhã de 26 de julho, homens armados não identificados usando uniformes da guarda nacional da Guiné-Bissau destruíram equipamentos e outros materiais na sede da emissora privada Rádio Capital FM em Bissau, capital, de acordo com Lassana Cassamá, proprietário e diretor da estação que conversou por telefone com o CPJ, e fotos dos danos que o CPJ analisou.

Cassamá disse que a Rádio Capital FM está com as transmissões paralisadas desde o ataque devido aos danos – inclusive a um transmissor, mixer, computadores e microfones – cujos reparos custarão cerca de 38.000 euros (44.663 dólares).

Ele disse ao CPJ que a estação recebe ameaças a cada poucos meses desde 2016, em resposta a sua programação. Cassamá acrescentou que a emissora denunciou repetidamente as ameaças à polícia, mas que elas continuaram.

“As reiteradas ameaças e ataques diretos à Rádio Capital FM e a seus funcionários enviam uma mensagem assustadora à imprensa da Guiné-Bissau – ainda mais que os recentes agressores usavam uniformes da guarda nacional”, disse Angela Quintal, coordenadora do programa do CPJ para a África. “As autoridades devem levar a sério essas ameaças e ataques, identificar os autores e responsabilizá-los.”

Entre o conteúdo transmitido pela Rádio Capital FM inclui-se um programa de debates ao vivo que permite que as pessoas telefonem e expressem suas opiniões sobre questões sociais, política e economia, disse Cassamá.

Ele contou ao CPJ que as recentes ligações ameaçadoras exigiram explicitamente que a estação interrompesse a veiculação desse programa, e que as ameaças também decorrem do compromisso geral da emissora de “dar voz ao povo”.

A estação é afiliada da emissora Voice of America, financiada pelo Congresso dos EUA, e transmite boletins de notícias da VOA diariamente, segundo Cassamá, que também trabalha como correspondente da VOA.

Em junho, homens armados atacaram e roubaram Serifo Camara, editor da Rádio Capital FM, quando ele saiu da estação após a apresentação do noticiário das 23 horas, contou Cassamá ao CPJ, acrescentando que acreditava que era uma represália pelas reportagens da emissora e que o incidente foi relatado à polícia judicial.

Bridget Ann Serchak, diretora de relações públicas da Voice of America, disse ao CPJ por e-mail que a emissora não possuía evidências para sugerir que a transmissão do conteúdo da VOA pela Rádio Capital FM tenha sido uma motivação para o ataque.

O site da VOA informou em 27 de julho que Mamadu Serifo Djaguite, ministro da presidência do Conselho de Ministros da Guiné-Bissau e porta-voz do governo, condenou o ataque à Rádio Capital FM.

Djaguite disse à imprensa que a polícia judiciária conduziria uma investigação sobre o ataque de 26 de julho, segundo Cassamá. As mensagens do CPJ para Domingos Correia, inspetor da polícia judiciária, foram marcadas como lidas, mas não respondidas. Perguntas semelhantes a Botché Candé, ministro do Interior da Guiné-Bissau, ficaram sem resposta.

Em 29 de julho, a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental, a União Africana, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, a União Europeia e as Nações Unidas emitiram uma declaração conjunta expressando preocupação com os ataques.