São Paulo, 11 de novembro de 2015 – O Comitê para a Proteção dos Jornalistas condena o assassinato do jornalista de rádio Israel Gonçalves Silva, que foi morto a tiros na terça-feira no estado brasileiro de Pernambuco. O ataque mostra que pelo menos quatro jornalistas foram assassinados em represália direta por seu trabalho no Brasil neste ano
“Estamos profundamente preocupados com o aumento alarmante da violência letal contra jornalistas no Brasil, que fez deste país um dos mais perigosos para a imprensa no mundo”, disse em Nova York Carlos Lauría, coordenador sênior do programa do CPJ para as Américas. “Nós pedimos que as autoridades brasileiras investiguem exaustivamente este crime, determinem se ele está relacionado com o trabalho de Silva como jornalista, e processem todos os responsáveis.”
Silva foi morto por volta das 07h30 em Lagoa de Itaenga, uma pequena cidade a cerca de 40 milhas (65 km) a noroeste de Recife, no nordeste pobre do Brasil, segundo informações da imprensa local.
O repórter de rádio estava em uma loja de eletrônicos depois de levar seus dois filhos para a escola, quando um homem abriu fogo e atingiu Silva pelo menos duas vezes, uma no braço e uma no pescoço, segundo reportagens. Pertences de Silva não foram levados no ataque, e o agressor fugiu em uma moto com cúmplices, de acordo com relatos citados testemunhas.
Silva apresentava o programa diário “microfone aberto” na emissora comunitária de FM da cidade Rádio de Itaenga. O show, que transcorria de meio-dia às 13h00, transmitia chamadas de ouvintes sobre a corrupção e prevaricação alegada por políticos e policiais, disse ao CPJ seu colega e amigo Edilson Gomes dos Santos em um telefonema a partir da estação. Silva também fez entrevistas com prefeitos, vereadores, deputados estaduais e discutia questões controversas, disse Gomes dos Santos.
Silva, que trabalhava na estação há cinco anos e também trabalhava como guarda municipal, denunciava muitas vezes autoridades por alegadas transgressões. Suas exigências francas para a justiça trouxe-lhe várias ameaças de morte, disse Gomes dos Santos.
“Ele sempre bateu cabeça com as autoridades e as pessoas vinham até ele na rua e diziam que ele ia morrer ou que era melhor ter cuidado porque sua vida estava em perigo”, Gomes dos Santos, que apresenta dois programas diários na Rádio Itaenga FM, disse ao CPJ. “Ele relatou todas as ameaças à polícia”, disse ele.
Quatro pessoas, duas delas menores de idade, foram presas após o assassinato, segundo informações da imprensa. Pablo Tenorio, um dos agentes responsáveis pelo caso, disse ao CPJ que o inquérito era “segredo”, uma designação que impede funcionários de revelar qualquer informação sobre o caso. Tenório disse que não diria que as prisões foram em conexão com o assassinato de Silva, mas apenas que “cada linha está sendo analisada.” Um porta-voz da polícia disse que Silva havia sido ameaçada anteriormente, de acordo com reportagens.
Em um comunicado, o secretário de defesa social do estado de Pernambuco, com a tarefa de coordenar e supervisionar a aplicação da lei em investigações forenses, disse um oficial especial foi nomeado para liderar o caso e urgiu uma investigação “completa e rápida”.
O CPJ tem documentado um aumento acentuado na violência letal contra a imprensa no Brasil nos últimos anos. Outros quatro jornalistas foram mortos este ano em retaliação direta por seu trabalho, incluindo dois que foram mortos em um período de uma semana em maio. Nenhum dos casos foi resolvido. Pelo menos 16 jornalistas foram assassinados em represália por seu trabalho desde 2011, mostra a pesquisa do CPJ. O país ocupa o 11º no Índice de Impunidade do CPJ que destaca os países onde os jornalistas são mortos e seus assassinos ficam livres.