As decisões que você tomar em campo tem relevância direta sobre sua segurança e a dos outros. Os riscos característicos em cobertura de guerra, instabilidade política e crime nunca podem ser eliminados, embora um planejamento cuidadoso e a avaliação de riscos possam minimizar os perigos.
As decisões que você tomar em campo tem relevância direta sobre sua segurança e a dos outros. Os riscos característicos em cobertura de guerra, instabilidade política e crime nunca podem ser eliminados, embora um planejamento cuidadoso e a avaliação de riscos possam minimizar os perigos.
Seja realista a respeito de suas limitações físicas e emocionais. Pode ser útil levar em conta previamente todos os indivíduos que poderiam ser afetados se você ficasse, digamos, inválido ou fosse morto. Leve em consideração também a carga emocional em relatar sucessivas histórias estressantes. Em algum momento, uma vítima de crime a mais, um cadáver a mais, mais uma família de luto, pode ser demais. Uma decisão de não cobrir uma história deve ser vista como um sinal de maturidade, não fonte de vergonha ou estigma.
Os editores devem levar em conta a segurança dos jornalistas em campo como a principal preocupação na atribuição de uma cobertura. Eles não devem punir um jornalista por se recusar a cobrir um tema com base no risco potencial. Organizações de notícias devem reconhecer suas responsabilidades em oferecer apoio a todos os jornalistas de campo, sejam eles membros da equipe ou colaboradores. Editores precisam ser francos a respeito do apoio específico que sua organização está disposta a fornecer, incluindo seguro de vida ou de saúde ou aconselhamento emocional. Questões que não forem resolvidas antes de o jornalista começar sua cobertura podem levar a complicações estressantes mais tarde.
Sempre prepare uma avaliação de segurança antes de uma cobertura potencialmente perigosa. O plano deve identificar as pessoas de contato, o tempo e os meios de comunicação; descrever todos os riscos conhecidos, incluindo o histórico de problemas na área da reportagem; e planos de contingência de estrutura de tópicos que abordem os riscos percebidos. Diversas fontes devem ser consultadas, incluindo jornalistas com experiência em reportagens locais ou temáticas, informes diplomáticas, reportagens sobre liberdade de imprensa e direitos humanos e pesquisa acadêmica. Editores que trabalham com repórteres em campo ou freelances devem fornecer dados substanciais para a avaliação, tomar a iniciativa de levantar questões de segurança e receber uma cópia da avaliação. Um jornalista independente, que trabalha sem relacionamento com uma organização de notícias deve ser especialmente rigoroso na elaboração de uma avaliação de segurança, consultar os colegas, pesquisar os riscos e organizar uma rede de contatos. Um exemplo de um formulário de avaliação de segurança está disponível para download aqui e para revisão no Apêndice G.
Os riscos devem ser reavaliados frequentemente de acordo com as mudanças das condições. “Sempre, sempre, sempre, a cada minuto, pondere os benefícios e os riscos. E logo que chegar ao ponto no qual você se sinta desconfortável com essa equação, saia, afaste-se, abandone. Não vale a pena,” Terry Anderson, ex-correspondente da Associated Press no Oriente Médio que foi mantido refém em Beirute por quase sete anos, escreveu no primeiro guia de segurança para jornalistas no CPJ, publicado em março de 1993. “Não há nenhuma história pela qual valha a pena ser morto.”Riscos a serem identificados:
A avaliação de risco também deve considerar a possibilidade de que em qualquer circunstância — desde uma tensa situação política até uma catástrofe natural — a gravidade pode se intensificar. A avaliação deve incluir informações sobre onde ficar e onde buscar refúgio se necessário; onde e como obter informações atualizadas dentro do país; se equipamentos como rádio de ondas curtas ou que emita alertas de desastres naturais sejam necessários; quem contatar no país, de grupos de direitos humanos locais a embaixadas estrangeiras, para informações de emergência; planos de viagem e ações no país; e múltiplas rotas de entrada e saída.
Na avaliação, resuma como você pretende se comunicar com editores, colegas e entes queridos fora da área de risco. Um jornalista deve estar em contato regular com o editor, colegas, membros da família ou outra pessoa de confiança. Você e as pessoas de contato devem decidir previamente a frequência com a qual desejam se comunicar, por quais meios e em quais momentos prescritos, e se você precisa tomar precauções para evitar que suas comunicações sejam interceptadas. Mais importante, você e a pessoa de contato devem decidir antecipadamente em qual ponto exatamente uma falha na comunicação será considerada uma emergência e a quem chamar para localizar você e assegurar sua saída ou libertação. A resposta muitas vezes implica sistematicamente em interagir com colegas e amigos que possam avaliar a situação, às autoridades que possam investigar e com a comunidade diplomática para fornecer potencial apoio e influência.
A avaliação deve abordar a infraestrutura de comunicações na área de reportagens, identificando qualquer equipamento que eventualmente possa ser necessário. Eletricidade, acesso à internet e serviço de telefonia móvel e fixa estão disponíveis? Eles provavelmente continuarão assim? Para manter o computador ligado, é necessário um gerador ou uma bateria de carro com um adaptador de corrente direta? Você poderá usar um telefone via satélite? Necessidades básicas como alimentação e cuidados médicos também devem ser abordadas. Alimento e água estão disponíveis? Há hospital, clínica ou médico disponíveis? Se precisar de um kit médico, o que ele deve incluir?
Qualquer avaliação de riscos deve levar em conta o perfil escolhido. Viajar em um veículo identificado como “Imprensa” ou “TV”, ou seria melhor misturar-se com outros civis? Devo evitar trabalhar sozinho ao invés de trabalhar em equipe, com os outros? Se você viaja com outras pessoas, escolha seus companheiros com cuidado. Você pode não querer viajar, por exemplo, com alguém que tenha uma tolerância ao risco muito diferente da sua.Proteger fontes de informações é a base do jornalismo. Isto é especialmente importante quando cobrir temas como conflitos armados, de segurança nacional e crimes violentos, nos quais as fontes poderiam ser colocadas em risco físico ou legal. Jornalistas freelances, em particular, precisam saber que este ônus recai principalmente sobre eles. Nenhum jornalista deve oferecer promessa de confidencialidade até que pondere sobre as possíveis consequências; se um meio de comunicação ou um jornalista faz uma promessa de confidencialidade, este compromisso carrega uma importante obrigação ética.
Jornalistas devem utilizar os métodos de proteção de fonte em suas comunicações. Considere como entrar em contato com as fontes, se chamá-los ao telefone fixo ou celular, visitá-los em sua casa ou escritório, ou usar e-mail com ou sem proteção.
A maioria das organizações de notícias estabeleceu regras para o uso de fontes confidenciais. Em alguns casos, as organizações de notícias exigem que jornalistas de campo compartilhem a identidade de uma fonte confidencial com seus editores. Jornalistas de campo devem conhecer estas regras antes de fazerem promessas para potenciais fontes confidenciais. Nos Estados Unidos e em muitos outros países, os tribunais civis e criminais têm autoridade para emitir intimações exigindo que jornalistas ou meios de comunicação revelem a identidade das fontes confidenciais. A escolha pode ser inflexível como a revelação ou, então, aplicação de multas e prisão. Meios de comunicação que já receberam intimações separadas deverão tomar suas próprias decisões sobre como responder. A revista Time, enfrentando a perspectiva de multas diárias e a prisão de um repórter, decidiu em 2005 que iria cumprir uma ordem judicial para entregar e-mails e anotações de um repórter sobre o vazamento da identidade de uma agente da CIA, apesar de não concordar com a posição do tribunal.
Empresas de comunicação têm o direito legal de entregar anotações do jornalista aos tribunais se eles forem de propriedade da organização de imprensa, de acordo com contrato ou protocolo. Se o jornalista é um trabalhador independente, a organização de imprensa tem menos autoridade para exigir que um jornalista identifique uma fonte ou entregue material jornalístico para cumprir uma intimação do Tribunal.
Em alguns países, jornalistas locais que cobrem o crime organizado, segurança nacional ou conflito armado são especialmente vulneráveis à prisão, tortura, coação ou ataque relacionados ao uso de informações confidenciais. Em 2010, o CPJ documentou numerosos exemplos em toda a África nos quais os oficiais do governo prenderam, ameaçaram ou perseguiram jornalistas que fizeram uso de documentos confidenciais. Em Camarões, por exemplo, autoridades prenderam quatro jornalistas que receberam um suposto memorando do governo que punha em dúvida a política fiscal. Um desses jornalistas foi torturado; um segundo morreu na prisão. É importante entender que sua responsabilidade ética pode ser severamente testada em zonas de conflito por agentes coercivos que podem recorrer a ameaças ou ao uso da força.
Jornalistas devem estudar e utilizar os métodos de proteção de fonte em suas comunicações e registros. Leve em consideração quando e como entrar em contato com as fontes, se chamá-los ao telefone fixo ou celular, visitá-los em sua casa ou escritório, e se usar e-mail com ou sem proteção, ou mensagens em sala de bate-papo. Pense em utilizar código simples ou pseudônimo para esconder a identidade de uma fonte em arquivos escritos ou eletrônicos. Proteja arquivos físicos escritos e arquivos eletrônicos através de criptografia e outros métodos descritos no Capítulo 3: Segurança da Informação.
A identidade de uma fonte pode ser revelada sob coação. Deste modo, muitos jornalistas em áreas de conflito evitam escrever ou até mesmo saber o nome verdadeiro ou completo das fontes que eles não planejam citar na reportagem.
Leis sobre privacidade, difamação e calúnia variam dentro e entre os países, como os estatutos que regem a gravação de telefonemas, reuniões e eventos públicos, segundo o Citizen Media Law Project no Centro Berkman para Internet & Sociedade, da Universidade de Harvard. Em muitos países, grupos de liberdade de imprensa locais podem fornecer detalhes essenciais das leis de privacidade e difamação e as práticas das autoridades na aplicação dessas leis. (Muitas dessas organizações estão descritas no Apêndice E Organizações de Jornalismo, uma lista completa dos grupos de liberdade de imprensa em todo o mundo está disponível através do Intercâmbio Internacional pela Liberdade de Expressão (International Freedom of Expression Exchange). Ser um jornalista não lhe dá o direito de roubar ou violar o direito comum a fim de obter informações.
A maioria dos jornalistas e especialistas em segurança recomenda que não se carregue armas de fogo ou outros equipamentos associados aos combatentes, ao cobrir um conflito armado. Isso pode prejudicar a sua situação como observador neutro e, por extensão, a situação de todos os outros jornalistas que trabalham na área de conflito. Em zonas de conflito como a Somália na década de 1990, e o Iraque e o Afeganistão na década de 2000, meios de comunicação contrataram tanto pessoal de segurança armado como desarmado para proteger jornalistas em campo. Enquanto a presença de guardas de segurança dificultou a observação dos jornalistas, muitas organizações de mídia acharam que não tinham alternativas a não ser confiar na segurança privada para proteger seu pessoal em situações de descontrole.
Carregar uma arma de fogo em outras coberturas também é fortemente desencorajado. Em países nos quais a aplicação da lei é fraca, alguns jornalistas ameaçados escolheram portar uma arma. Ao fazer essa escolha, você deve levar em conta que carregar uma arma de fogo pode ter consequências fatais e prejudicar sua condição de observador.A agressão sexual contra a correspondente da CBS e membro da Diretoria do CPJ, Lara Logan, enquanto cobria a agitação política no Cairo em fevereiro de 2011, destacou esta importante questão de segurança para os jornalistas. Em um relatório de 2011, o CPJ entrevistou mais de quarenta jornalistas que disseram que também tinham sido vítimas em coberturas anteriores. A maioria das vítimas citadas eram mulheres, apesar de haver alguns homens. Jornalistas relataram agressões que vão desde apalpamentos ao estupro por múltiplos atacantes.
Conhecer um ambiente e entender como alguém pode ser percebido neste cenário é importante para desencorajar a agressão sexual. O International News Safety Institute, um consórcio de organizações de mídia e grupos de jornalista que inclui o CPJ, e Judith Matloff, uma correspondente estrangeira veterana e professora de jornalismo, publicaram listas destinadas a minimizar o risco de agressão sexual em campo. Uma série de suas sugestões foi incluída aqui, junto com o conselho de inúmeros jornalistas e especialistas em segurança consultadas pelo CPJ.
Jornalistas devem se vestir de forma conservadora e de acordo com o costume local; usar lenços na cabeça em algumas regiões, por exemplo, pode ser aconselhável para jornalistas do sexo feminino. Jornalistas do sexo feminino devem usar uma aliança de casamento, ou um anel que se pareça com um, independentemente de serem casadas. Elas devem evitar usar colares, rabos de cavalo ou qualquer coisa que possa ser agarrada. Muitos especialistas aconselham jornalistas do sexo feminino a não usarem camisetas e jeans apertados, maquiagem e joias para evitar atenção indesejada. Usar cintos pesados e sapatos que sejam difíceis de tirar, com roupas folgadas. Carregar discretamente equipamentos em sacos sem identificação também pode evitar atenção indesejada. Leve spray de pimenta ou mesmo spray desodorante para desencorajar agressores.
Jornalistas devem viajar e trabalhar com colegas ou pessoal de apoio por várias razões de segurança. Guias locais, tradutores e motoristas podem fornecer uma importante forma de proteção para jornalistas internacionais, particularmente durante a viagem ou em tarefas envolvendo multidões ou condições caóticas. Pessoal de apoio pode monitorar a segurança geral de uma situação e identificar potenciais riscos, enquanto o jornalista está trabalhando. É muito importante ser cuidadoso na seleção da equipe de apoio local e buscar recomendações de colegas. Alguns jornalistas relataram casos de agressão sexual por pessoal de apoio.
Especialistas sugerem que jornalistas pareçam comuns e seguros em sua posição, mas evitem conversar ou fazer contato visual com estranhos. Jornalistas do sexo feminino devem estar cientes de que gestos de intimidade como abraçar ou sorrir, mesmo com colegas, podem ser mal interpretados e aumentam o risco de atenção indesejada. Não se misture numa multidão predominantemente masculina, dizem os especialistas; fique perto das saídas e tenha um caminho de fuga em mente. Escolha um hotel com guardas de segurança sempre que possível e evite os quartos com janelas acessíveis ou varandas. Use todas as travas nas portas do hotel e seu próprio alarme de fechadura e maçaneta também. O Instituto Internacional para a Segurança da Imprensa sugere que os jornalistas inventem um pretexto (“estou esperando meu colega chegar”, por exemplo) se estiverem recebendo atenção indesejada.
Em geral, tente evitar situações que aumentam o risco, dizem os especialistas. Isso inclui permanecer em áreas remotas sem um companheiro confiável; pegar táxis clandestinos ou com vários estranhos; usar elevadores ou andar em corredores onde você ficaria a sós com estranhos; comer sozinha, a menos que você esteja segura no ambiente; e passar longos períodos sozinha com fontes ou pessoal de apoio masculinos. Manter contatos regulares com seus editores na redação e elaborar e divulgar informações de contato sobre si mesmo e sobre o pessoal de apoio é sempre uma boa prática por uma série de razões de segurança. Levar um celular com números de segurança, incluindo os seus contatos profissionais e contatos de emergência locais. Ser discreto ao dar qualquer informação pessoal.
Se um jornalista percebe uma iminente agressão sexual, ela ou ele deve fazer ou dizer algo para mudar a dinâmica, recomendam os especialistas. Gritar e pedir socorro se as pessoas conseguirem ouvir é uma opção. Gritar algo inesperado como “aquele é o carro da polícia?” pode ser outra. Deixar cair, quebrar ou jogar algo que possa assustar poderia ser outra opção. Urinar ou sujar-se pode ser mais um passo.
A Humanitarian Practice Network (HPN), um fórum para os trabalhadores e os elaboradores de política engajados no trabalho humanitário, criou um guia de segurança que inclui alguns conselhos pertinentes aos jornalistas. A HPN, que faz parte do Overseas Development Institute, localizado no Reino Unido, sugere que as pessoas tenham algum conhecimento da língua local e usem frases e sentenças se forem ameaçados com agressão, como uma forma de mudar a situação.
Proteger e preservar a vida de alguém em situações de agressão sexual é a orientação geral, dizem a HPN e outros especialistas. Alguns especialistas em segurança recomendam que os jornalistas aprendam técnicas de autodefesa para livrar-se de agressores. Há uma crença entre alguns especialistas que lutar contra um agressor poderia aumentar o risco de violência fatal. Fatores a serem considerados: número de agressores, se armas estão envolvidas e se o ambiente é público ou privado. Alguns especialistas sugerem lutar se um assaltante tentar tirar alguém do ambiente do local inicial do ataque para outro.
Abuso sexual também pode ocorrer quando um jornalista é detido por um governo ou mantido em cativeiro por forças rebeldes. Desenvolver uma relação com os guardas ou captores pode reduzir o risco de todas as formas de agressão, mas os jornalistas devem estar cientes de que o abuso pode ocorrer e podem ter poucas opções. Proteger a vida é o objetivo principal.
Organizações de notícias podem incluir orientações sobre o risco de agressão sexual em seus manuais de segurança, como forma de aumentar a atenção e estimular o debate. Embora a documentação específica sobre agressões sexuais contra jornalistas seja limitada, as organizações podem identificar países onde o risco é maior, como zonas de conflito onde o estupro é usado como arma, países nos quais o estado de direito é fraco e nos quais a agressão sexual é comum. As organizações podem definir políticas claras sobre como responder às agressões sexuais e abordar as necessidades do jornalista com apoio médico, jurídico e psicológico. Esses informes devem ser tratados como urgência médica e como ameaça à segurança global que afeta outros jornalistas. Os responsáveis por abordar casos de abuso sexual devem ser sensíveis aos desejos do jornalista em termos de confidencialidade e levar em conta o impacto emocional de tal experiência. As necessidades imediatas do jornalista incluem compreensão, respeito e segurança.
Jornalistas que foram agredidos devem relatar o ataque como meio de obtenção de apoio médico adequado e documentar o risco de segurança para os outros. Alguns jornalistas disseram ao CPJ que estavam relutantes em relatar o abuso sexual porque não queriam parecer vulneráveis enquanto estivessem em missões perigosas. Os chefes de redação devem criar um clima no qual jornalistas possam relatar agressões sem medo de perder coberturas futuras e com confiança de que receberão apoio e assistência.
O Comitê para a Proteção dos Jornalistas está empenhado em documentar casos de agressão sexual. Jornalistas são encorajadas a contatar o CPJ para relatar tais casos; informações sobre um caso são tornadas públicas ou mantidas confidenciais, a critério do jornalista.O sequestro de jornalistas para obter resgate ou lucro político tem ocorrido com frequência ao longo dos 31 anos de história do CPJ. Inúmeros casos têm sido relatados em países como a Colômbia, Filipinas, Rússia, Iraque, Paquistão, Afeganistão, México e Somália, de acordo com a pesquisa do CPJ. Apenas no Afeganistão, pelo menos 20 jornalistas e funcionários de meios de comunicação foram sequestrados por grupos insurgentes ou criminosos, de 2007 a 2011, aponta a pesquisa do CPJ. Pelo menos dois deles morreram.
O melhor antídoto é a precaução. Ao viajar em equipe em áreas perigosas, certifique-se que editores e talvez um indivíduo local confiável conheçam seus planos. Prepare um plano de contingência com informações de contato para pessoas e grupos acionarem caso você desapareça. Em discussões prévias com editores e contatos confiáveis, decida o período no qual eles devam interpretar sua ausência como um sinal de emergência.
Se você for feito refém, uma das primeiras coisas que o sequestrador poderá fazer é pesquisar seu nome na internet. Tudo o que houver online sobre você será visto por seus sequestradores: onde você trabalhou, as histórias que você cobriu, sua educação, suas associações pessoais e profissionais e possivelmente o valor da sua casa e o patrimônio líquido de sua família. Você pode limitar os detalhes pessoais ou inclinações políticas revelados no seu perfil online. Esteja preparado para responder perguntas difíceis sobre sua família, finanças, reportagens e associações políticas.
Treinamento em ambiente hostil inclui mecanismos de enfrentamento e técnicas de sobrevivência. Entre elas está desenvolver um relacionamento com seus captores, um passo que pode reduzir a chance de os guardas lhe fazerem mal. Coopere com os guardas, mas não tente apaziguá-los. Da melhor forma possível, explique seu papel como observador não combatente e que seu trabalho inclui contar todos os lados de uma história. Mantenha a serenidade durante todo o difícil episódio e, tanto quanto possível, mantenha a imparcialidade emocional. Promessas de libertação podem não ser feitas; ameaças de execução sim.
Jornalistas capturados em grupo devem agir de maneira que levem os guardas a mantê-los juntos, em vez de separá-los. Isso pode envolver cooperação com as ordens dos guardas e persuadir os captores que seria mais fácil manter o grupo unido. Jornalistas devem oferecer apoio moral e emocional mútuo durante o cativeiro. Manter a coesão pode ajudar as chances de libertação de cada um dos cativos.
Oportunidades de fuga podem surgir durante o período de cativeiro, mas muitos jornalistas veteranos e especialistas em segurança alertam que a chance de sucesso é extremamente pequena e deve ser ponderada com as consequências potencialmente fatais de falha. Em 2009, no Paquistão, o repórter do New York Times, David Rohde, e o repórter local Tahir Ludin escaparam dos sequestradores do Talibã, que os mantinham presos há sete meses. Após refletir sobre os riscos, os dois chegaram à conclusão de que seus sequestradores não estavam negociando seriamente suas libertações e escolheram “pensar em fugir”, escreveu Rohde depois. Alguns sequestradores, no entanto, podem ter uma cadeia de comando estruturada na qual você eventualmente possa ter permissão para argumentar que é um repórter e merece ser libertado.
Em uma situação de cativeiro, editores e membros da família são incentivados a trabalhar em conjunto. Logo que a situação de cativo for confirmada, eles devem entrar em contato com representantes do governo da nação na qual está o refém, com as autoridades no país de origem do meio de comunicação e de cada um dos jornalistas. Devem procurar aconselhamento de diplomatas experientes nesta situação, especialistas em segurança privada e grupos de imprensa como o CPJ. O Instituto Internacional de Segurança para a Imprensa tem um centro de ajuda, o Global Hostage Crisis Help Centre, que pode recomendar especialistas em casos de reféns. O Dart Center for Journalism & Trauma pode aconselhar as partes afetadas sobre como obter aconselhamento para membros da família e outros. (Ver Capítulo 10 Reações de Estresse). Atender ou não os pedidos dos captores é uma pergunta difícil. Paciência e emoções serão testadas enquanto o suplício continuar.
Editores e parentes devem fazer todos os esforços para apresentar uma liderança coesa, designar uma pessoa como um canal para autoridades e como um porta-voz ao público. As autoridades também podem tomar decisões independentes (e contrárias) aos desejos da família e colegas, mas estabelecer uma mensagem clara e consistente para as autoridades e a imprensa melhora a chance de efetivamente influenciar a tomada de decisões.
A maioria dos governos tem políticas estabelecidas de não pagar os pedidos de resgate, embora na prática vários governos, incluindo os da França e Japão, supostamente ajudaram a pagar resgate em troca da libertação de jornalistas em cativeiro. Editores e membros da família podem ou não ser capazes de influenciar as decisões sobre a implementação de uma operação de resgate do governo. O governo britânico falou com os editores, mas depois decidiu ordenar uma operação de resgate para um britânico-irlandês nativo trabalhando para o The New York Times, no Afeganistão, em 2009. O repórter do Times, Stephen Farrell, foi resgatado, mas um jornalista afegão que trabalhava como guia de Farrell, Sultan Mohammed Munadi, foi morto.
Sequestradores podem tentar coagir um meio de comunicação a veicular propaganda ou cobertura unilateral do seu ponto de vista. Na década de 1990, as guerrilhas esquerdistas e paramilitares direitistas da Colômbia sequestraram várias vezes jornalistas para coagir os meios de comunicação a dar cobertura a suas reivindicações políticas. Em 2006, a TV Globo no Brasil levou ao ar um vídeo caseiro, detalhando as deficiências nas condições de prisão após uma quadrilha local ter sequestrado um repórter e um técnico. Os jornalistas foram libertados mais tarde. Editores precisam reconhecer que a aceitação das exigências dos sequestradores pode induzir futuras tentativas de cobertura coagida.
Em outra forma de coação, captores podem exigir que um jornalista faça declarações propagandísticas em vídeo. Alguns jornalistas concordaram, calculando que pode isso poderia aumentar suas chances de libertação segura. Outros têm resistido, na crença de que exibir independência pode dar-lhes alguma vantagem contra seus captores. A decisão dependerá das circunstâncias e das pessoas envolvidas.
Ameaças não são apenas táticas criadas para intimidar jornalistas críticos; muitas vezes são seguidas por ataques reais. Trinta e cinco por cento dos jornalistas assassinados nas últimas duas décadas foram anteriormente ameaçados, de acordo com a pesquisa do CPJ. Você deve levar a sério as ameaças, prestando particular atenção as que sugerem violência física.
Como responder depende, em parte, das circunstâncias locais. Registrar uma ameaça à polícia é geralmente uma prática boa em locais com forte estado de direito e aplicação da lei confiável. Em nações onde a aplicação da lei é corrupta, relatar uma ameaça pode ser fútil ou mesmo contraproducente. Esses fatores devem ser cuidadosamente ponderados.
Faça relatos das ameaças aos seus editores e colegas confiáveis. Certifique-se de que eles saibam detalhes da ameaça, incluindo a sua natureza e como e quando foi feita. Alguns jornalistas têm divulgado ameaças através de seus meios de comunicação ou em seus próprios blogs. E faça relatos das ameaças a grupos de liberdade de imprensa locais e internacionais, tais como o Comitê para a Proteção dos Jornalistas. O CPJ irá divulgar a ameaça ou mantê-la confidencial, a seu critério. Muitos jornalistas têm dito ao CPJ que publicar as ameaças os ajudou a se protegerem.
Jornalistas ameaçados também devem pensar em uma mudança de editoria temporária ou permanente. Editores devem consultar o jornalista que está recebendo ameaças e agilizar uma mudança na cobertura, se solicitado, por motivos de segurança. Alguns jornalistas ameaçados perceberam que no momento em que passaram a cobrir temas mais discretos permitiram que uma situação hostil diminuísse em intensidade.
Em circunstâncias graves, jornalistas podem pensar em se mudar dentro ou fora do seu país. Jornalistas ameaçados devem consultar seus entes queridos para avaliar uma potencial mudança e procurar a ajuda de sua organização de notícias e grupos profissionais, se a mudança for considerada necessária. O jornalista investigativo colombiano Daniel Coronell e sua família, por exemplo, mudaram-se para os Estados Unidos por dois anos no início de 2005, após ele enfrentar uma série de ameaças, incluindo a entrega de uma coroa de flores em sua casa. Coronell retomou seu trabalho de investigação quando voltou para a Colômbia e, apesar das ameaças continuarem, elas ocorriam num ritmo mais lento e com menor intensidade. O CPJ pode aconselhar os jornalistas ameaçados e, em alguns casos, dar apoio direto como assistência à mudança.