Nova York, 21 de março de 2012- O editor do El Faro, jornal digital salvadorenho, afirmou que profissionais foram seguidos após realizarem uma investigação sobre uma rede criminosa que envolve funcionários locais. Acrescentou que um funcionário do alto escalão do governo lhe disse, na semana passada, que membros de gangue estavam irritados com as informações veiculadas pelo site noticioso sobre os supostos vínculos entre agentes das forças de segurança e grupos criminosos locais, e poderiam retaliar.
Em maio de 2011, o El Faro publicou um artigo intitulado “O cartel de Texis” que revelou uma rede de crime organizado envolvendo líderes de gangues, proeminentes empresários e políticos no noroeste de El Salvador. Carlos Dada, diretor e fundador do jornal digital, disse ao CPJ que foram utilizadas fontes anônimas da polícia para o artigo.
Dada afirmou ao CPJ que em fevereiro, nove meses depois da publicação do artigo, funcionários do site o avisaram que estavam sendo seguidos e fotografados por indivíduos não identificados. Dado indicou suspeitar que a polícia estivesse seguindo o pessoal do jornal para identificar as fontes do artigo publicado em maio. O ministro da Segurança, general da reserva David Munguía Payés, afirmou ao CPJ que desconhecia que profissionais do El Faro estivessem sendo seguidos e que tal ordem não foi dada por nenhum órgão do governo.
Na quarta-feira passada, o El Faro publicou uma reportagem revelando supostas negociações secretas nas quais as gangues limitariam o número de assassinato em troca de concessões do governo, como a transferência de membros das gangues encarcerados para presídios de menor segurança. Na sexta-feira, o governo negou as acusações durante uma coletiva de imprensa, de acordo com as notícias veiculadas.
Funcionários do governo fizeram uma reunião a portas fechadas na sexta-feira com jornalistas de vários meios de comunicação, mas não convidaram profissionais do El Faro, contou Dada ao CPJ. Na reunião, os funcionários afirmaram que informações da inteligência sugeriam que membros de gangues estavam furiosos com o artigo do El Faro e que o pessoal do site estava em perigo, assinalou Dada.
No dia seguinte, o ministro de Segurança Munguía Payés disse aos funcionários do El Faro que corriam risco de serem atacados por grupos criminosos, mas não forneceu mais detalhes nem ofereceu proteção aos profissionais, ressaltou Dada.
Quando questionado sobre as ameaças contra o El Faro, Munguía Payés assegurou ao CPJ que como ministro era sua “responsabilidade dar proteção a qualquer salvadorenho que esteja ameaçado e em perigo”. Afirmou que a polícia havia cumprido esta responsabilidade ao advertir o El Faro sobre a informação recebida. Acrescentou que estavam em vias de confirmar a veracidade das ameaças. Se forem corroboradas, disse, serão analisadas possíveis medidas de proteção ao El Faro.
Dada contou que o pessoal do El Faro está confuso sobre a origem e a gravidade das ameaças. Ressaltou não saber se é uma tentativa de “silenciar-nos ou se realmente possuem informações de que estamos em perigo”. Dado indicou que não havia solicitado proteção.
“Estamos preocupados com a segurança dos profissionais do El Faro e estamos monitorando a situação de perto”, afirmou Carlos Lauría, coordenador sênior do programa das Américas do CPJ. “Responsabilizamos o governo salvadorenho pelo bem-estar dos jornalistas do El Faro“.
A pesquisa do CPJ indica que jornalistas que informam sobre a violência das gangues em El Salvador correm o risco de se converterem em alvo. Em 2009, Christian Poveda, cineasta franco-espanhol, foi assassinado por membros da Mara 18.