Nova York, 16 de julho de 2007—Quase um ano e meio depois de ter desaparecido no norte do Paraguai, um repórter de rádio paraguaio reapareceu com vida na cidade brasileira de São Paulo. O Comitê para a Proteção dos Jornalistas saudou a notícia do ressurgimento, com vida, de Enrique Galeano e exortou as autoridades paraguaias e brasileiras a investigarem o caso em profundidade.
Dois jornalistas paraguaios descobriram o paradeiro de Galeano durante sua própria investigação do caso, segundo as informações da imprensa e entrevistas realizadas pelo CPJ. Galeano contou aos repórteres que havia sido seqüestrado de sua residência por dois homens que o forçaram a entrar em um carro. Na manhã seguinte, o levaram ao Brasil e ameaçaram matar a ele e a sua família caso voltasse ao Paraguai. O CPJ não pôde contatar Galeano, que se encontra no Uruguai, para pedir seu comentário. Intermediários disseram que as informações para contatá-lo não estavam disponíveis no momento.
“Estamos muito aliviados de saber que Galeano está são e salvo” declarou o Diretor Executivo do CPJ, Joel Simon. “Instamos as autoridades a investigarem o relato do jornalista a fundo, e a proporcionarem a segurança necessária para ele e sua família. As fronteiras nacionais não devem ser um obstáculo para esta investigação”.
Andrés Colmán Gutiérrez, repórter investigativo do jornal Última Hora, de Assunção, contou ao CPJ que ele e o veterano jornalista Oscar Cáceres se encontraram com Galeano em São Paulo, na semana passada. Cáceres, assessor de rádios comunitárias, havia trabalhado com Galeano antes de seu desaparecimento. Gutiérrez e Cáceres se reuniram com Galeano nos escritórios da Organização Regional Interamericana de Trabalhadores em São Paulo.
Gutiérrez explicou que contatou Galeno pela primeira vez na terça-feira, durante um chat via internet sobre atividades criminais no norte do Paraguai. Galeano comprovou sua identidade através de fotos digitais e detalhes sobre sua vida pessoal.
Galeano relatou aos jornalistas que dois homens não identificados, que falavam português, o seqüestraram na tarde de 4 de fevereiro de 2006 quando se dirigia para casa, no povoado de Yby Yaú, e o obrigaram a entrar em um automóvel. Na manhã seguinte, os seqüestradores atravessaram a fronteira com o repórter e ameaçaram matá-lo – ou a um membro de sua família – caso ele regressasse ao Paraguai, disse Gutierrez ao CPJ.
Os seqüestradores não especificaram o motivo, mas Galeano ressaltou a Gutiérrez que havia recebido ameaças de morte em várias ocasiões, depois de informar sobre laços entre o governo local e traficantes de drogas.
Galeano explicou que se escondeu em São Paulo por medo do que poderia acontecer com sua família. Declarou a Gutiérrez e Cáceres que havia decidido divulgar seu caso porque considerava que havia passado tempo suficiente para que a ameaça cedesse.
O repórter se transferiu para o Uruguai neste fim de semana e pediu asilo, informou ao CPJ Vicente Páez, secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas Paraguaios. Como medida de precaução, sua esposa e seus quatro filhos também foram transportadas para uma casa-abrigo administrada pela Igreja Católica em Assunção, disse Páez. Ligações telefônicas feitas pelo CPJ para a promotora de Yby Yaú, Camila Rojas, permaneceram sem retorno hoje.