Libertados dois funcionários suspeitos de disparar contra jornalista dos EUA

Nova York, 4 de dezembro de 2006 – O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) renovou seu apelo às autoridades federais para que assumam a investigação do assassinato do jornalista norte-americano Bradley Roland Will após a libertação de dois funcionários públicos suspeitos de terem sido os autores dos disparos.

Will, 36, que era documentarista independente e repórter do site de notícias Indymedia, foi assassinado enquanto cobria os protestos antigovernamentais na cidade de Oaxaca, em 27 de outubro. Ativistas do grupo de esquerda Assembléia Popular do Povo de Oaxaca (APPO) e um grupo de indivíduos armados, que aparentemente incluía funcionários públicos e policiais fora de serviço, se enfrentaram no município de Santa Lucía del Camino.

“Julgamos que, dado o atual clima político em Oaxaca, as autoridades locais são incapazes de levarem a cabo uma investigação imparcial e rápida” disse o Diretor Executivo do CPJ, Joel Simon. “As autoridades federais deveriam buscar uma base legal para atrair a investigação e poder assegurar-se de que o assassinato de Bradley Will não fique impune”.

Em 1 de dezembro, o juiz Victoriano Barroso Rojas liberou o intendente municipal Abel Santiago Zárate e seu chefe de segurança Orlando Manuel Aguilar, explicando que ambos os homens estavam demasiado longe de Will para terem sido os autores dos disparos. Ambos os funcionários haviam sido detidos alguns dias depois da morte de Will. Fotografias e gravações do incidente ajudaram as autoridades a identificar os suspeitos.

O juiz Barroso disse hoje ao CPJ que os resultados da autópsia e dos informes da balística indicam que Will foi atingido por uma arma de 9mm a mais de um metro de distância. Cópias dos informes não foram publicamente divulgadas. “Segundo a investigação da Procuradoria de Justiça os funcionários não são responsáveis pelo assassinato, já que não estavam suficientemente próximos do jornalista” declarou Barroso.

De acordo com Barroso, testemunhas indicaram aos investigadores que Zárate e Aguilar disparara com pistolas calibre 38 a uma distância de pelo menos 35 metros. Gravações e fotografias mostravam os dois funcionários disparando contra simpatizantes da APPO.

Os dois homens reconheceram a participação no tiroteio, alegando que haviam disparado para o ar para defender uma família que estava sendo agredida por ativistas da APPO, acrescentou Barroso.

Barroso disse que após o exame perito de balística, a procuradoria acredita que as duas balas que atingiram Will vieram da mesma arma.

A Procuradora de Oaxaca, Lizbeth Caña, sugeriu que ativistas da APPO foram os autores dos disparos contra Will. Partidários dos ativistas descartaram a sugestão, como sendo uma tentativa de encobrir os verdadeiros assassinos.

O Juiz Barroso afirmou que a libertação dos suspeitos não queria dizer que o caso estava sendo encerrado, e sim que a Procuradoria prosseguiria investigando. Segundo a revista Proceso, sete pessoas continuam sendo investigadas, ainda que as autoridades não tenham indicado porque continuam suspeitando delas.

Em 30 de outubro, o CPJ enviou uma carta ao Procurador Geral da República, Daniel Cabeza de Vaca, pedindo às autoridades federais do México que investigassem a fundo o assassinato e que apresentassem à justiça os culpados. Ainda que o escritório do promotor especial para crimes contra jornalistas esteja monitorando a investigação, o caso ainda está sendo processado pelas autoridades do estado de Oaxaca.

A cidade de Oaxaca foi controlada durante os últimos sete meses por ativistas que pediam a renúncia do governador de Oaxaca, Ulises Ruiz, que alegam ter fraudado as eleições de 2004 e tem usado de violência contra os manifestantes. Pelo menos nove pessoas, incluindo Will, foram mortas durante os confrontos, segundo a agência Associated Press. Vários jornalistas que cobriam o evento foram golpeados ou agredidos tanto por manifestantes quanto por policiais em trajes civis, indicou a investigação do CPJ.

O CPJ é uma organização independente, sem fins lucrativos, sediada em Nova York, que trabalha pela liberdade de imprensa em todo o mundo.