Sub-procurador informa ao CPJ que narcotraficantes são responsáveis pelo assassinato de jornalista

Cidade do México, 21 de junho de 2005 – Um alto funcionário do Ministério Público mexicano informou hoje, a uma delegação do Comitê para a Proteção dos jornalistas (CPJ), que o cartel de drogas dos Arellano Félix é responsável pelo assassinato de um conhecido jornalista de Tijuana, crime praticado há um ano, e que as autoridades federais detiveram mais de 100 pessoas como parte de uma ampla operação contra o cartel.

A delegação do CPJ teve um encontro com José Luis Vasconcelos, Sub-procurador de Investigação Especializada em Delinqüência Organizada da Procuradoria Geral da República (PGR), para falar a respeito das investigações das autoridades sobre os recentes assassinatos de vários jornalistas mexicanos. A reunião de hoje focou o assassinato de Francisco Ortiz Franco, editor do semanário Zeta, de Tijuana, que foi morto a tiros em 22 de junho de 2004.

Vasconcelos declarou à delegação do CPJ que um dos pistoleiros suspeitos de matar Ortiz Franco, Jorge Eduardo Ronquillo Delgado (conhecido como “El Niño”), foi executado por outros membros do cartel dos Arellano Félix em outubro passado.

No total, afirmou Vasconcelos, 107 indivíduos foram detidos devido às investigações e a maioria deles foi processada por outros delitos. Vasconcelos afiançou que três dos detidos estavam implicados indiretamente no assassinato de Ortiz Franco e foram processados. Um dos suspeitos foi vinculado ao veículo utilizado para cometer o crime, enquanto os outros dois supostamente teriam informação sobre o planejamento do assassinato.

De acordo com Vasconcelos, continuam foragidos dois dos supostos autores intelectuais do crime: Arturo Villarreal Albarrán (conhecido como “El Nalgón”) e Jorge Briceño (conhecido como “El Cholo”). As autoridades possuem mandato para a prisão de ambos por tráfico de drogas.

“O encontro foi proveitoso, mas o verdadeiro teste consiste nas medidas que serão tomadas pelas autoridades mexicanas para deter o assassinato de jornalistas”, disse Andrés Oppenheimer, membro da diretoria do CPJ e colunista, ganhador do prêmio Pulitzer, do diário The Miami Herald. “O fato é que o CPJ identificou o México como um país extremamente perigoso para o exercício do jornalismo, a altura de países como a Colômbia”.

Além de Oppenheimer, a delegação do CPJ é composta por Joel Simon, sub-diretor do CPJ; Carlos Lauría, coordenador do Programa das Américas do CPJ; e os destacados jornalistas mexicanos Rossana Fuentes e Jorge Zepeda. Os representantes do CPJ entregaram um dossiê intitulado “Jornalistas assassinados no México”, uma análise dos casos de assassinato documentados pelo CPJ desde o ano de 2002, quando Vicente Fox foi eleito presidente.

Nos últimos cinco anos, quatro jornalistas mexicanos foram assassinados em represália ao trabalho informativo que realizavam. O CPJ continua investigando os casos de outros cinco comunicadores que podem ter sido assassinados por seu trabalho jornalístico. As investigações do CPJ demonstram que o norte do México, em particular a fronteira com os Estados Unidos, se converteu em uma das regiões mais perigosas para exercer o jornalismo de toda a América Latina.

Na reunião com Vasconcelos, a delegação do CPJ também expressou preocupação pelo destino de Alfredo Jiménez Mota, repórter do diário El Imparcial, de Hermosillo. Jiménez se especializara em temas de segurança pública e crime organizado, e está desaparecido desde 2 de abril. (Para mais informações, ver a carta que o CPJ enviou ao Ministério Público do Estado: http://www.cpj.org/protests/05ltrs/Mexico14apr05pl_Pt.html )

Os jornalistas mexicanos que trabalham nos estados do norte e cobrem temas delicados como o narcotráfico, o crime organizado e a corrupção política, freqüentemente são alvo de ataques como represália ao trabalho informativo que desempenham. Fox reconheceu publicamente o problema da violência contra os jornalistas e declarou que seu governo se comprometeu a protegê-los.

No entanto, o sistema de justiça mexicano não conseguiu pôr fim ao ciclo de violência e parece ser incapaz de resolver os recentes assassinatos. E, como a maioria dos casos continua não esclarecida, perpetuou-se um clima de impunidade que deixa os meios de comunicação em uma posição vulnerável frente a novos ataques.

O clima de violência ficou evidente no ano passado, quando Ortiz Franco foi baleado em plena luz do dia em um tranqüilo bairro de Tijuana, a duas quadras da sede da Polícia Ministerial. O jornalista acabava de sair de uma clínica de reabilitação física com seus dois filhos quando indivíduos mascarados se aproximaram de seu carro e dispararam quatro vezes em sua cabeça e pescoço. Ortiz Franco morreu no local, seus filhos não foram alvejados.

As autoridades federais, que assumiram o controle da investigação em agosto de 2004, acreditam que Ortiz Franco foi assassinato por seu trabalho jornalístico e consideram como provável motivo os artigos que escreveu sobre o cartel de drogas dos Arellano Félix.

Em setembro de 2004 uma delegação do CPJ, formada por Joel Simon e Carlos Lauría, viajou a Tijuana por uma semana para investigar o assassinato de Ortiz Franco. Com as informações recolhidas durante a viagem, o CPJ publicou em novembro um informe intitulado “Free-Fire Zone” (Zona de Tiro Livre), que descreve como a guerra entre os cartéis do narcotráfico pelo controle das lucrativas rotas de contrabando colocou em perigo os jornalistas locais. (A íntegra do texto, em inglês, está disponível em http://www.cpj.org/Briefings/2004/tijuana/tijuana.html )

Os procuradores federais também se encarregaram da investigação do caso de Guadalupe García Escamilla, que cobria a área de polícia para a rádio Stereo 91 XHNOE, de Nuevo Laredo, estado de Tamaulipas, e que faleceu em 16 de abril em conseqüência dos ferimentos sofridos em 5 de abril, quando foi baleada em frente à emissora. O mesmo ocorreu com o caso de Raúl Gibb Guerrero, proprietário e diretor do diário La Opinión, que morreu vítima de um tiroteio perto da cidade de Poza Rica, estado de Veracruz, em 8 de abril.

Ainda que, geralmente, os procuradores estaduais sejam os encarregados de investigar os casos de assassinato no México, as autoridades federais podem se encarregar de uma investigação se determinarem que o assassinato está relacionado com o crime organizado.

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