Júri condena traficante acusado pela morte de Tim Lopes

Nova York, 25 de maio de 2005 ­ O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) saúda a condenação, hoje, do traficante de drogas acusado pelo brutal assassinato, em 2002, do repórter investigativo Tim Lopes. Um júri no Rio de Janeiro sentenciou o réu, Elias Pereira da Silva, a 28 anos e meio de prisão, de acordo com as informações da imprensa.

Lopes, um premiado repórter da TV Globo, foi torturado e morto com uma espada em junho de 2002, enquanto investigava a proliferação de festas envolvendo drogas e sexo entre menores em uma favela carioca.

“Estamos encorajados pela condenação de Pereira da Silva pelo cruel assassinato de nosso colega Tim Lopes”, disse a Diretora-executiva do CPJ, Ann Cooper. “Esperamos que a justiça seja feita no caso de seis outros acusados que ainda aguardam julgamento por este odioso crime”.

Pereira da Silva, conhecido como “Elias Maluco”, foi considerado culpado esta manhã após o júri acompanhar mais de 16 horas de depoimentos. O júri votou pela condenação por 4 votos a 3, informou a agência The Associated Press. Seus advogados disseram que vão apelar, sustentando que os jurados foram influenciados pela mídia, informou a imprensa brasileira.

Pesquisa do CPJ demonstra que este tipo de condenação é rara. Assassinos de jornalistas foram levados à justiça em menos de 15 por cento dos casos de jornalistas mortos em todo o mundo durante a última década. “Nós esperamos que este exemplar processo demonstre aos governantes, na América Latina e em todo o mundo, que a impunidade reinante não precisa ser aceita”, acrescentou Cooper.

Pereira da Silva foi condenado por homicídio triplamente qualificado, formação de quadrilha e ocultação de cadáver. Ele foi o primeiro dos sete acusados a enfrentar julgamento pela morte do renomado jornalista brasileiro. Os outros seis acusados serão julgados em 14 de junho.

Pereira da Silva não testemunhou em seu julgamento. Em uma declaração lida pelo juiz Fábio Uchôa, Pereira da Silva disse não ser traficante de drogas.

Contexto:
Lopes desapareceu em 2 de junho de 2002 enquanto fazia uma matéria na Vila Cruzeiro, uma das favelas do Rio de Janeiro. Carregando uma câmera escondida, Lopes trabalhava em uma reportagem sobre festas promovidas por traficantes de drogas na Vila Cruzeiro, envolvendo drogas e exploração sexual de menores. Moradores disseram a Lopes que eles eram impotentes contra os traficantes e reclamaram sobre a falta de ação da polícia.

Em 3 de junho, a TV Globo informou o desaparecimento de Lopes à polícia. Dois suspeitos, ambos membros do bando encabeçado por Pereira da Silva, foram presos uma semana depois, segundo a polícia carioca.

De acordo com os depoimentos dos suspeitos, divulgado em detalhes pela polícia e publicado pela imprensa brasileira, um traficante próximo a Pereira da Silva seqüestrou Lopes na Vila Cruzeiro por volta da meia-noite de 2 de junho. Depois que Lopes informou ser um repórter da TV Globo, os traficantes chamaram Pereira da Silva.

Nos depoimentos, os suspeitos deram a seguinte explicação: membros do bando amarraram as mãos de Lopes, o forçaram para dentro de um carro e o levaram para Pereira da Silva. Lá, eles o espancaram e atiraram em seus pés para impedi-lo de fugir. Então, eles fizeram um julgamento simulado e sentenciaram Lopes à morte. Pereira da Silva matou Lopes com uma espada, e seu corpo foi queimado e escondido em um cemitério clandestino, disseram os suspeitos. A polícia encontrou os restos mortais de Lopes em 12 de junho.

Lopes havia recebido o mais importante prêmio jornalístico do Brasil em dezembro de 2001, por uma reportagem da TV Globo sobre tráfico de drogas. A matéria, intitulada “Feira de Drogas” e veiculada em agosto de 2001, foi filmada com uma câmera escondida e mostrava como traficantes vendiam drogas em um mercado de drogas a céu aberto no Rio de Janeiro.

A polícia prendeu Pereira da Silva em 19 de setembro de 2002. Um mês antes, vários membros do bando foram presos depois de um tiroteio com a polícia e acusados do assassinato do jornalista.

FIN