Nova Iorque, 7 de junho de 2024 – O Comité para Proteção de Jornalistas (CPJ) expressou na sexta-feira o seu alarme pelo facto de a polícia ter detido uma jornalista e dois outros terem ainda sido roubados enquanto cobriam um protesto na capital moçambicana, Maputo.
Por volta das 18h00 do dia 4 de junho, sete agentes da polícia perseguiram e detiveram Sheila Wilson enquanto esta fazia a reportagem em direto de um protesto de centenas de antigos agentes dos serviços secretos por alegado não pagamento de pensões, de acordo com notícias dos media e com a jornalista, que falou com o CPJ.
Wilson, repórter da organização não governamental Centro para a Democracia e Direitos Humanos, estava a transmitir em direto na página do Facebook do presidente do grupo de defesa, Adriano Nuvunga.
Wilson disse que os agentes da polícia a agarraram, atiraram-na para debaixo do banco de uma carrinha da polícia e levaram-na para a Quarta Esquadra em Maputo, onde ficou detida durante seis horas sem poder contactar ninguém.
Wilson disse ao CPJ que, após a sua libertação, a polícia reteve o seu telemóvel e disse-lhe que iria enfrentar uma investigação, sem especificar as acusações.
“Entreguei a minha vida a Deus quando me disseram que iriam ter uma pequena conversinha comigo na esquadra”, disse ela, acrescentando que receava morrer sob custódia policial, como aconteceu com um ativista em 2023. “Tive a sorte de sair apenas com uma nódoa negra e um galo na cabeça”.
Assaltados enquanto entrevistavam o porta-voz da polícia
Durante o protesto de 4 de junho, cinco homens não identificados agarraram os braços do repórter Laves Macatane e do operador de câmara Hélder Matwassa, imobilizando-os e empurrando Matwassa para o chão. Macatane e Matwassa, que trabalham ambos para a emissora privada STV, estavam a entrevistar o porta-voz da polícia de Maputo, Leonel Muchina, quando os agressores lhes roubaram a câmara, segundo o capítulo moçambicano do grupo regional de liberdade de imprensa Media Institute of Southern Africa (MISA) afirmou num comunicado, e o que os jornalistas disseram ao CPJ.
Os jornalistas disseram ao CPJ que os seus assaltantes atravessaram um cordão de segurança da polícia e saíram num veículo Toyota sem matrícula sem serem questionados ou perseguidos, apesar da forte presença de agentes da polícia.
“O facto de, em vez de proteger os jornalistas que cobriam um protesto, a polícia ter prendido violentamente uma repórter e ter ficado parado enquanto dois outros eram assaltados, pinta um quadro muito desanimador da liberdade de imprensa em Moçambique”, disse Muthoki Mumo, coordenadora do programa do CPJ em África, em Nairobi. “As autoridades devem investigar de forma credível o assalto aos dois jornalistas da STV e cessar qualquer processo criminal contra a repórter do CDD Sheila Wilson.”
Macatane disse ao CPJ que o porta-voz da polícia Muchina o abordou depois de terem filmado a polícia a atacar manifestantes idosos, incluindo uma mulher que chorava enquanto era arrastada para o chão e espancada, e pediu aos jornalistas para não divulgarem as imagens devido ao risco de causarem “agitação”. Perante a recusa de Macatane, Muchina falou com os seus colegas e, alguns minutos mais tarde, voltou e pediu para ser entrevistado.
“Enquanto estávamos a fazer [a entrevista], os homens à paisana vieram e agarraram-nos, atiraram Matwassa para o chão e tiraram-lhe a câmara – tudo isto enquanto o porta-voz da polícia observava impávido e sereno”, disse Macatane.
Nessa noite, dizem os jornalistas, a polícia da Terceira Esquadra de Maputo recusou-se inicialmente a registar a queixa, alegando que o equipamento roubado pertencia à STV e não aos jornalistas.
Quando o chefe de redação da STV, Emildo Sambo, foi à esquadra para pressionar sobre o caso, a polícia finalmente concordou em registar a queixa, disseram os jornalistas e a directora de informação da STV, Olivia Massango, ao CPJ.
Macatane disse acreditar ter reconhecido alguns dos seus agressores entre os agentes que se encontravam no interior da esquadra, bem como a mesma viatura Toyota sem matrícula no exterior do edifício.
O agente que registou a queixa dos jornalistas disse que esta seria tratada pelo Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC) independente, porque estava fora da jurisdição da polícia, disse Macatane.
Muchina encaminhou o pedido de comentário do CPJ para a polícia nacional, dizendo que não estava autorizado a falar com uma “instituição internacional”.
O comandante da polícia nacional, Bernardino Rafael, não respondeu aos telefonemas e mensagens de texto do CPJ solicitando comentários.