Jornalista ameaçado depois de noticiar assassinato em Veracruz

Cidade do México, 17 de abril de 2013A revista mexicana de circulação nacional Proceso noticiou terça-feira que tomou conhecimento de um complô de funcionários do governo de Veracruz contra a integridade do jornalista Jorge Carrasco, que tem reportado extensivamente sobre o assassinato da correspondente da revista no estado. O Comitê para a Proteção dos Jornalistas insta as autoridades a investigar completamente as supostas ameaças e garantir a segurança de Carrasco. 

A Proceso afirmou que desde domingo está recebendo informações de fontes confidenciais dando conta que atuais e antigos funcionários do governo estadual, polícia estadual e gabinete do procurador geral estariam se encontrando para discutir “ações hostis contra o repórter em represália a sua mais recente publicação sobre o caso de Regina Martínez”. O jornalista e editor sênior Jorge Carrasco escreveu reportagens profundas e críticas sobre a investigação do assassinato, em abril de 2012, da correspondente da Proceso em Veracruz, Regina Martínez Pérez.

Desde a morte de Martínez, a revista alega que o motivo mais provável para seu homicídio foi a série de reportagens críticas da jornalista sobre funcionários estaduais, embora não tenha fornecido nenhuma prova. As autoridades negam a alegação. Em nove de abril, Jorge Antonio Hernández Silva foi sentenciado a 38 anos de prisão pelo assassinato, que as autoridades afirmam ter sido motivado por roubo. No domingo, a Proceso publicou uma reportagem de Carrasco que questionava seriamente o caso do Estado contra Hernández.

“As autoridades devem investigar completamente essas ameaças, inclusive todos os possíveis vínculos com as autoridades de Veracruz, e garantir a segurança de Carrasco e de sua família”, disse em Nova York o vice-diretor do CPJ, Robert Mahoney.

Segundo a Proceso, as autoridades haviam discutido maneiras de utilizar os bancos de dados da polícia para localizar Carrasco. A revista informou que a polícia foi enviada a vários estados mexicanos para coleta informações sobre Carrasco, mas não entrou em detalhes. Uma fonte próxima ao caso que pediu para permanecer anônima disse ao CPJ que havia um plano em andamento para assassinar o repórter, com homens procurando por ele na Cidade do México. A Proceso publicou hoje uma carta que recebeu do procurador geral do estado Felipe Amadeo Flores Espinosa chamando as acusações de “infundadas” e pedindo que a revista apresente imediatamente quaisquer evidências que pudessem ter corroborando as alegações para que as autoridades pudessem investigar.

Autoridades federais que pediram para permanecer anônimas disseram que o caso está sendo acompanhado por funcionários federais desde segunda-feira e que foi oferecido a Carrasco e sua família proteção da polícia federal.

Enquanto o governador Javier Duarte faz esforços em declarações públicas para elencar seu estado como um local seguro para a imprensa, sob seu mandato Veracruz se tornou um dos estados mais perigosos para jornalistas no México. Ao menos oito foram assassinados desde que tomou posse no final de 2010, e muitos outros fugiram – temporária ou definitivamente – não apenas por causa de ameaças oriundas do crime organizado, como também de funcionários do governo estadual, de acordo com a pesquisa do CPJ. Eles afirmam que reportagens que retratam corrupção ou ligações entre funcionários do governo e crime organizado são impossíveis.

A corrupção em muitos estados levou o Senado mexicano a aprovar uma emenda constitucional em março de 2012 que dá às autoridades federais ampla jurisdição para investigar e processar crimes contra a liberdade de expressão. A legislação secundária que vai efetivamente implementar a reforma passou recentemente no Senado, e aguarda aprovação na Câmara dos Deputados.

“Este caso demonstra por que as autoridades mexicanas devem completar o processo de federalização dos crimes contra a imprensa”, disse Mahoney. “Enquanto os jornalistas que informam sobre corrupção estiverem à mercê das autoridades locais, eles e a liberdade de imprensa não estarão seguros”.