Zapata Tamayo, um dissidente detido em 2003 e sentenciado a 25 anos de prisão por acusações de desacato às autoridades, morreu em 23 de fevereiro em um hospital de Havana após recusar-se a ingerir alimentos desde dezembro em protesto pelas condições carcerárias, de acordo com as informações da imprensa.
A morte de Zapata, que gerou condenações da comunidade internacional e uma incomum declaração de pesar do presidente Raúl Castro, ressaltou as terríveis condições das prisões cubanas e o tratamento desumano aos dissidentes políticos. Também provocou fortes reações de dissidentes na ilha.
“Instamos o presidente Castro a assegurar que os jornalistas presos recebam a atenção adequada”, declarou Carlos Lauría, coordenador sênior do Programa das Américas do CPJ. “Responsabilizamos o governo cubano pela saúde e bem-estar de todos os repórteres encarcerados”.
Guillermo Fariñas, 48 anos, jornalista cubano e ativista político na cidade de Santa Clara, está em greve de fome desde 24 de fevereiro para protestar pela morte de Zapata e pedir a libertação de mais de 20 dissidentes – incluindo vários jornalistas – que estão sofrendo de sérias enfermidades, disse por telefone ao CPJ seu colega Licet Zamora. Fariñas foi levado com urgência para um hospital na quarta-feira após a deterioração de seu estado, de acordo com a The Associated Press, mas já recebeu alta.
Fariñas, que quase morreu em 2006 após uma longa greve de fome em protesto pela falta de acesso à internet, não ingeriu alimentos nem água por uma semana e apresentava sintomas de desidratação, hipoglicemia e baixa pressão arterial, informou Zamora.
Os jornalistas presos Pedro Argüelles Morán e Adolfo Fernández Saínz também protestaram pela morte de Zapata e fizeram jejum por três dias, disse Laura Pollán, proeminente ativista dos direitos humanos.
Pollán, esposa do jornalista preso Héctor Maseda Gutiérrez – ganhador, em 2008, de um dos prêmios do CPJ – ressaltou que os jornalistas Pedro Argüelles Morán, José Luis García Paneque, Alfredo Pulido López, Adolfo Fernández Saínz, Normando Hernández González, Juan Carlos Herrera Acosta, José Ubaldo Izquierdo Hernández e Fabio Prieto Llorente padecem de sérias doenças e não recebem atenção médica adequada.
A pesquisa do CPJ demonstra que a saúde dos jornalistas cubanos se deteriorou seriamente devido às miseráveis condições carcerárias e à insuficiente atenção médica. Familiares e amigos descreveram uma série de problemas de saúde que abrangem desde diabetes e tumores até pneumonia e catarata. Indicaram que, em alguns casos, os jornalistas receberam atendimento médico deficitário. Ressaltaram ainda que nas condições anti-higiênicas das prisões, onde também faz muito calor, os problemas médicos dos jornalistas se acentuaram. Doenças pré-existentes se tornaram mais agudas, segundo parentes e amigos, enquanto alguns dos jornalistas presos desenvolveram novas e graves enfermidades.
Cuba continua sendo um dos países do mundo com maior número de jornalistas presos por seu trabalho – atrás de Irã e China –, com 22 repórteres independentes encarcerados atualmente. Vinte deles foram presos durante a forte repressão de março de 2003, conhecida como Primavera Negra. Após julgamentos sumários a portas fechadas, os jornalistas foram sentenciados a penas de até 28 anos de prisão por acusações de traição vinculadas ao seu trabalho jornalístico. Os repórteres trabalhavam para agências de notícia independentes e enviavam seus artigos, por fax ou telefone, para meios de comunicação e sites no exterior.
“Os jornalistas cubanos pagaram um preço altíssimo apenas por exercerem seu direito à liberdade de expressão”, disse Lauría. “Sete anos são suficientes; estas sentenças são cruéis e vingativas. Instamos o presidente Castro a libertar de forma imediata e incondicional todos os jornalistas presos e a garantir a liberdade de expressão e de informação a todos os cidadãos cubanos”.