Uma delegacia de polícia é vista em Niterói, perto da cidade do Rio de Janeiro, em 24 de agosto de 2020. A polícia está investigando ataques cibernéticos e uma tentativa de invasão à sede da Repórter Brasil, em São Paulo. (Reuters / Ricardo Moraes)

Organização investigativa Repórter Brasil alvo de ataques cibernéticos, ameaças, tentativa de invasão

Rio de Janeiro, 13 de janeiro de 2021 – As autoridades brasileiras devem investigar de forma rápida e completa as ameaças à Repórter Brasil e responsabilizar os autores, disse hoje o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ).

De 6 a 12 de janeiro, internautas não identificados orquestraram um ataque de negação de serviço distribuído (DDoS) ao site da Repórter Brasil, uma organização de reportagem investigativa e de direitos humanos, inundando a página com tráfego da web e forçando-a a ficar offline várias vezes, de acordo com uma declaração do veículo e de seu diretor, Leonardo Sakamoto, que falou ao CPJ em entrevista por telefone.

Após o início do ataque em 6 de janeiro, e novamente em 8 de janeiro, a conta de e-mail de contato do veículo recebeu mensagens anônimas exigindo que a Repórter Brasil removesse todas as suas reportagens de 2003 a 2005, ou enfrentaria novos ataques, de acordo com essas fontes.

No seu comunicado, a Repórter Brasil assegurou que a organização “não atendeu, nem atenderá nenhuma tentativa de constrangimento ilegal”.

Em nota enviada hoje ao CPJ por e-mail, Marco Antonio Dario, chefe da 23ª Delegacia de Polícia que investiga os ataques cibernéticos, disse que as autoridades ainda não identificaram nenhum suspeito.

“As autoridades brasileiras devem investigar os ataques cibernéticos e ameaças à Repórter Brasil, determinar quem está por trás deles e levar os responsáveis ​​à justiça”, afirmou em Nova York a coordenadora do programa do CPJ para a América Central e do Sul, Natalie Southwick. “Jornalistas investigativos independentes desempenham um papel vital na documentação de violações de direitos humanos no Brasil e muitas vezes estão sujeitos a assédio ou violência. As autoridades brasileiras devem intervir e garantir que eles possam noticiar com segurança.”

Além dos ataques cibernéticos, por volta das 8:00 do dia 7 de janeiro, testemunhas contaram a Sakamoto que viram pessoas não identificadas tentando entrar na sede da Repórter Brasil em São Paulo, disse ele. Sakamoto falou ao CPJ que a invasão não foi bem-sucedida, mas danificou um portão e ele não sabia se estava relacionada aos ataques cibernéticos. O comunicado da polícia enviado ao CPJ informa que os policiais estão investigando se os ataques cibernéticos e a tentativa de invasão estão relacionados.

A cobertura da Repórter Brasil de 2003 a 2005 inclui reportagens sobre as condições de trabalho dos trabalhadores rurais no nordeste do Brasil, escravidão no estado do Pará, uma usina hidrelétrica no estado de Minas Gerais, mineração de ouro no Pará, condições de trabalho nas plantações de cana-de-açúcar e tráfico de pessoas. A organização também mantém um banco de dados sobre a escravidão moderna, de 1995 a 2014.

Em 2015, a Repórter Brasil sofreu um ataque cibernético coordenado que retirou conteúdo de seu site e redirecionou alguns links para outras páginas, como noticiado pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).

Nos últimos anos, Sakamoto, que também é colunista do site de notícias UOL, tem enfrentado perseguições online e recebido várias ameaças de morte, segundo informações da imprensa.

Em seu comunicado, a Repórter Brasil afirmou que é “constantemente assediada por descontentes que exigem que reportagens sejam retiradas do ar”.

Sakamoto chamou os ataques cibernéticos de “um ataque absurdo à democracia e à liberdade de expressão” e disse não saber quem poderia estar orquestrando os ataques.