O carro do radialista Marco Antônio Ferreira foi incendiado em 12 de dezembro de 2020, cerca de um mês depois de receber mensagens ameaçadoras via WhatsApp sobre sua cobertura eleitoral. (Devair Muchiutti)

Radialista brasileiro Marco Antônio Ferreira é ameaçado e teve o carro queimado

Rio de Janeiro, 23 de dezembro de 2020 – As autoridades brasileiras devem investigar imediata e integralmente as ameaças ao radialista Marco Antônio Ferreira e o incêndio de seu carro, e determinar se estão relacionados à sua cobertura noticiosa, disse hoje o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ).

Por volta das 3:30 de 12 de dezembro o apresentador da emissora privada Rádio Nova Brasil, onde é conhecido por “Marco Serelepe”, acordou em sua casa, na cidade de Araçatuba, no sul do estado de São Paulo, e encontrou seu carro em chamas na garagem, segundo Ferreira, que conversou com o CPJ por telefone e informações da imprensa.

Ferreira disse que cerca de um mês antes, em 15 de novembro, durante as eleições municipais de Araçatuba, ele recebeu mensagens de voz ameaçadoras no WhatsApp. Nas mensagens, às quais o CPJ teve acesso, um homem pode ser ouvido dizendo “vou encontrar você e vou arrebentar a sua cara”. Ferreira disse acreditar que as ameaças estão relacionadas às suas reportagens sobre as eleições, já que o homem lhe disse que não gostava do radialista “falando do candidato dele”.

“As autoridades brasileiras devem investigar a fundo como o carro de Marco Antônio Ferreira pegou fogo em sua casa, bem como ameaças anteriores ao radialista”, disse Natalie Southwick, coordenadora do programa do CPJ para a América do Sul e Central, em Nova York. “Os que noticiam localmente nas rádios do Brasil são uma fonte importante de informação para suas comunidades, especialmente durante as eleições, e eles devem ser capazes de cumprir esse papel sem arriscar suas vidas.”

Marco Antônio Ferreira tirou esta foto de seu carro, que foi queimado em 12 de dezembro de 2020. (Marco Antônio Ferreira)

Ferreira disse ao CPJ que a polícia foi a sua casa para investigar o veículo queimado e que ele havia fornecido à polícia as mensagens de correio de voz ameaçadoras. Ele também falou ao CPJ que alertou a polícia sobre uma série de mensagens postadas no Facebook e grupos do WhatsApp chamando Ferreira, entre outras coisas, de um “radialista de merda” e usando a hashtag #CalaBocaSerelepe. Os grupos de mídia social, esclareceu Ferreira, são coordenados por DJs que ficaram chateados com suas reportagens sobre festas realizadas em violação às restrições da COVID-19.

Em nota enviada por e-mail ao CPJ pela assessora de imprensa Bárbara Zaghi, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo informou que a Delegacia de Investigações Gerais de Araçatuba está investigando o caso de Ferreira e que a polícia aguarda o resultado de um laudo pericial. Zaghi não especificou qual dos incidentes envolvendo Ferreira a delegacia está investigando. O CPJ não recebeu resposta aos e-mails enviados à Polícia Civil do Estado de São Paulo solicitando comentários.

Ferreira disse ao CPJ que trabalhou como radialista em várias outras emissoras locais desde 1998. Em seu programa “Nova Manhã Araçatuba”, ele cobre notícias gerais sobre a cidade, como política, crime e policiamento.