Manifestantes protestam em frente ao Ministério da Justiça em Brasília pedindo a libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a prisão do ministro da Justiça do Brasil em 10 de junho de 2019. A equipe do 'The Intercept Brasil' recebeu ameaças após a publicação de uma reportagem em 9 de junho a respeito da
Manifestantes protestam em frente ao Ministério da Justiça em Brasília pedindo a libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a prisão do ministro da Justiça do Brasil em 10 de junho de 2019. A equipe do 'The Intercept Brasil' recebeu ameaças após a publicação de uma reportagem em 9 de junho a respeito da

Glenn Greenwald e equipe do Intercept Brasil recebem ameaças após publicar investigação de corrupção

São Paulo, 18 de junho de 2019 – O fundador, o editor e outros membros da equipe do The Intercept Brasil disseram ter recebido ameaças por e-mail e por mídia social após a publicação de matérias politicamente sensíveis neste mês.

A partir de 9 de junho, o Intercept Brasil, site independente de notícias investigativas, publicou uma série de reportagens com base em documentos, gravações e mensagens privadas do WhatsApp vazadas anonimamente à agência, que levantaram questões éticas e legais sobre a conduta do ministro da Justiça brasileiro e a do procurador que coordena a “Operação Lava Jato”, investigação sobre corrupção política que está em andamento desde 2014.

Desde que as reportagens foram publicadas, o fundador Glenn Greenwald e seu marido, David Miranda, deputado federal pelo Partido Socialismo e Liberdade, receberam ameaças de morte e violência que “continham informações pessoais e privadas substanciais” sobre nós, contou Greenwald ao CPJ por e-mail.

O editor executivo do Intercept Brasil, Leandro Demori, e outros membros da equipe editorial do site receberam ameaças semelhantes, disse Demori ao CPJ.

“A investigação da Operação Lava Jato é uma das histórias mais importantes do Brasil em anos, mas se tornou uma cobertura perigosa no ambiente cada vez mais polarizado do país”, disse na Cidade do México a coordenadora do Programa da América Central e do Sul do CPJ, Natalie Southwick. “Glenn Greenwald e toda a equipe do Intercept Brasil devem ser capazes de informar sobre assuntos de interesse público sem intimidação e assédio.”

Greenwald disse que as ameaças que recebeu, principalmente por e-mail, “foram muito explícitas, detalhadas e pensadas”. As ameaças mencionaram as crianças e os cães do casal, disse Greenwald ao CPJ.

“Estamos sempre atentos à nossa segurança, mas precisamos aumentar consideravelmente o nível de segurança que nós e nossa família temos diante do jornalismo que estamos fazendo e da seriedade das ameaças que estamos recebendo”, disse Greenwald.

Demori, que foi também um dos repórteres na investigação sobre a Operação Lava Jato, disse ao CPJ por telefone que recebeu dezenas de ameaças via e-mail e mídia social após a publicação da investigação, e que ele não sabe quem está fazendo as ameaças. Os advogados da agência as estão estudando para determinar sua seriedade.

“Recebemos ameaças físicas, como pessoas escrevendo ‘vou cortar seu estômago com uma faca’ ou ‘a caça continua’, mas você nunca sabe se é real ou apenas para assustá-lo”, disse Demori. “Estamos monitorando esses perfis e tentando identificar padrões. Tomamos mais medidas de proteção, inclusive físicas. É controlável agora, mas estamos preocupados”.

Os advogados não levaram as ameaças à polícia, disse Demori.

Andrew Fishman, editor geral do Intercept Brasil, disse ao CPJ que o site tem sido alvo de ciberataques desde a publicação das revelações.

“Alguém está claramente tentando sobrecarregar nossos servidores”, disse Fishman, acrescentando que o site estava preparado para tais ameaças e permaneceu on-line durante os ataques.

O Intercept Brasil é uma publicação irmã do The Intercept, agência de notícias investigativa sediada em Nova York, onde Greenwald é editor.