Nova York, 31 de julho de 2017 – As autoridades venezuelanas devem parar de assediar jornalistas e censurar meios de comunicação em meio a agitação e protestos violentos no país, disse hoje o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ). Os jornalistas que cobriam a votação de ontem para eleger representantes para uma assembleia constituinte para reformar a Constituição venezuelana foram arbitrariamente detidos, atacados e ameaçados.
Pelo menos quatro jornalistas foram detidos, manifestantes atacaram dois fotógrafos e roubaram seus equipamentos, e um soldado ameaçou jornalistas, de acordo com os grupos locais de liberdade de imprensa e o noticiário. As autoridades também cercearam a capacidade dos jornalistas de cobrir as votações e o presidente pediu que uma estação de televisão fosse investigada por sua cobertura da votação e da agitação, de acordo com as informações da imprensa.
“A crise política na Venezuela criou um ambiente em que o assédio e a violência física fazem parte da rotina diária de muitos jornalistas, e os meios de comunicação estão impedidos de denunciar”, disse Carlos Lauría, coordenador sênior do programa das Américas do CPJ. “O povo venezuelano tem o direito de conhecer os eventos vitais, e as autoridades devem garantir que os meios de comunicação possam fornecer essa informação sem enfrentar restrições ou violência”.
A polícia deteve ontem Felipe Royet, fotojornalista do semanário espanhol Cambio16, em Caracas, Brigitte Gerdel e Daniel Rodríguez, do site de notícias Las Noticias de Cojedes, em San Carlos, de acordo com o Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Imprensa. A agência de inteligência nacional deteve o repórter da Venevisión, Euclides Sotelo, em Caracas. Todos os quatro foram mais tarde libertados sem acusações, informou o sindicato.
Também ontem, um vídeo gravado pelo noticiário digital VivoPlay no bairro El Paraíso de Caracas parece mostrar um soldado da Guarda Nacional ameaçando quebrar os equipamentos dos jornalistas se eles continuassem filmando. A Guarda Nacional da Venezuela não respondeu imediatamente ao e-mail pedindo comentários enviado pelo CPJ.
Em outro caso, a fotojornalista independente Fabiola Ferrero disse ao CPJ que um grupo de pelo menos 20 civis armados – conhecidos como coletivos – ameaçou a ela e a um colega fotógrafo e os roubaram em Caracas. Ferrero disse que o grupo perguntou aos jornalistas para quem trabalhavam e, em seguida, forçou-os a entregar seus coletes, máscaras de gás, capacetes, equipamentos de câmera e celulares.
Os coletivos têm sido responsáveis por vários incidentes de ameaça, assédio e violência contra jornalistas desde que os protestos começaram no final de março, apurou o CPJ. Ferrero disse ao CPJ que a polarização no país aumentou o risco para os jornalistas. “Quem vê um jornalista nos vê como uma ameaça. Não importa quem eles são ou de que grupo fazem parte”, disse ela.
As autoridades também impuseram restrições aos jornalistas que cobririam a votação. Em uma conferência de imprensa realizada no dia 28 de julho, Tibisay Lucena, presidente do Conselho Nacional Eleitoral, entidade responsável pela supervisão do processo de votação, anunciou que os meios de comunicação seriam obrigados a permanecer a pelo menos 500 metros dos centros de votação.
O conselho também negou credenciais a pelo menos nove dos 15 meios de comunicação que pediram credenciamento para cobrir a votação de 30 de julho, de acordo com o Instituto de Imprensa e Sociedade (IPYS Venezuela), com sede em Caracas. Três funcionários da assessoria de imprensa do Conselho Nacional Eleitoral disseram ao CPJ que não estavam autorizados a comentar as credenciais da imprensa.
O governo usou restrições de vistos para negar a pelo menos quatro jornalistas internacionais o ingresso na Venezuela para cobrir a votação para a assembleia constituinte, de acordo com os grupos locais de liberdade de imprensa e noticiário.
Separadamente, o presidente Nicolás Maduro pediu que o órgão regulador estatal de telecomunicações Conatel investigasse a rede de televisão privada Televen para “pedir desculpas por crimes”, de acordo com as informações da imprensa. O presidente fez seus comentários durante uma aparição na televisão às 12:30 da manhã de hoje. Maduro criticou a Televen pela cobertura da votação, dizendo que o meio de comunicação preferiu mostrar “o fogo em Altamira” – referindo-se a uma explosão em um bairro de Caracas que feriu pelo menos três policiais, de acordo com as reportagens.
Manifestantes violentos contra o governo de Maduro e contraprotestos foram realizados desde março. Pelo menos 10 pessoas morreram ontem, no dia mais impetuoso até a data, elevando o número de mortos desde que os protestos começaram a mais de 120, de acordo com as notícias. Em uma declaração em 28 de julho, Maduro culpou os manifestantes pela violência e disse que estavam tentando iniciar uma guerra civil, de acordo com reportagens.