Nova York, 28 de agosto de 2017 – As autoridades salvadorenhas devem levar a cabo uma investigação rápida e convincente da escalada de ameaças físicas e on-line contra jornalistas em dois meios de comunicação digitais e promulgar medidas suficientes para garantir a segurança dos jornalistas, informou hoje o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ).
Desde de 22 de agosto, El Faro e a Revista Factum, dois meios de comunicação digitais especializados em jornalismo investigativo, começaram a receber ameaças nas redes sociais, incluindo Twitter e Facebook, de acordo com informações da imprensa. As ameaças identificaram jornalistas por nome e inclusive fotos. Jornalistas dos dois meios de comunicação disseram ao CPJ que acreditavam que as ameaças eram uma resposta a uma reportagem publicada no site da Revista Factum no mesmo dia sobre o suposto envolvimento de uma unidade de elite contra a criminalidade em atividades criminosas, incluindo três execuções extrajudiciais, agressões sexuais e extorsão. Howard Cotto, chefe da Polícia Nacional salvadorenha, e o vice-presidente Óscar Ortiz disseram à Factum na época que estavam cientes de relatos de atividades ilegais por policiais e prometeram abrir uma investigação.
Uma mensagem ameaçadora pelo Twitter dizia, em referência aos jornalistas da Factum e El Faro, “tenho que ver vocês como Christian Poveda”, um jornalista franco-espanhol assassinado por membros da Mara (gangue) Salvatrucha em 2009. Outro compartilhou uma foto de um soldado supostamente assassinado por membros de gangues com a legenda: “a favor disso escrevem a revista Factum e El Faro“. As contas responsáveis pelas ameaças frequentemente compartilham conteúdo em apoio as forças de segurança, e celebram a violência contra supostos ladrões e membros de gangues.
” Os jornalistas que cobrem a violência generalizada em El Salvador frequentemente correm o risco de tornarem-se eles mesmos um alvo”, declarou Robert Mahoney, subdiretor executivo do CPJ. ” Factum e El Faro são fontes informativas vitais para os salvadorenhos, e as autoridades devem garantir que seus jornalistas possam exercer a profissão sem sofrer atos de violência por parte do mesmo grupo que eles investigam, entre eles as forças de segurança encarregadas de combater as gangues”.
As ameaças se intensificaram nos últimos três dias, segundo jornalistas de ambas as publicações. César Castro, chefe de redação da Factum, declarou ao CPJ que quatro indivíduos que se passavam por membros da Procuradoria para a Defesa dos Direitos Humanos (PDDH) de El Salvador visitaram a Factum em 26 de agosto e perguntaram sobre o horário da revista e a que horas normalmente chegava o pessoal. Castro contou que a Procuradoria lhe disse que não havia enviado nenhum funcionário para visitar a Factum naquele dia.
Esta manhã, outros dois grupos de pessoas que se passavam por “fontes policiais de repórteres” foram a sede de ambos os grupos de imprensa, segundo jornalistas das duas publicações. O primeiro grupo pediu o endereço da Factum ao vigilante do El Faro, enquanto que o segundo grupo bateu na porta da sede da Factum, que se encontrava vazia naquele horário, segundo Castro.
Castro declarou ao CPJ que na semana passada a PDDH havia determinado medidas cautelares para proteger a publicação, assim como os dois autores da reportagem original.
Castro explicou que a polícia, depois das ameaças pessoais há dois dias, havia prometido designar duas patrulhas para oferecer segurança adicional na quadra da sede da Factum. No entanto o jornalista afirmou que as patrulhas haviam se apresentado brevemente hoje, e que não estavam presentes quando apareceu o segundo grupo de indivíduos.
A Polícia Nacional de El Salvador não respondeu de imediato a uma solicitação por e-mail enviado pelo CPJ para fornecer declarações a respeito.
De acordo com Castro, a Factum não havia recebido nenhuma ameaça antes da publicação da reportagem de 22 de agosto. Em março de 2012, depois que El Faro revelou um acordo secreto entre o governo e as gangues criminosas, um funcionário do governo disse que os jornalistas do El Faro poderiam estar em perigo por seu trabalho jornalístico, mas não ofereceu nenhuma proteção, como divulgou o CPJ naquela época.