Nova Iorque, 3 de junho de 2016–Vários jornalistas foram agredidos e alguns tiveram seus equipamentos de trabalho roubados enquanto cobriam protestos na quinta-feira em Caracas, segundo meios noticiosos e uma organização de liberdade de expressão local. Alguns dos jornalistas agredidos afirmaram que a Guarda Nacional venezuelana não interveio para evitar as agressões e, em um caso, seu efetivo obrigou uma jornalista a apagar imagens, segundo versões jornalísticas.
Os jornalistas cobriam um protesto no centro da capital, que começou logo após um caminhão de abastecimento, ao que parece, foi desviado pela Guarda Nacional para um comitê local de abastecimento, segundo o El Nacional. Cerca de 200 manifestantes bloquearam uma rua central aos gritos de “Temos fome!”, segundo versões jornalísticas. A Venezuela atravessa uma grave crise econômica e muitas pessoas fazem fila durante horas para obter produtos em escassez, segundo informações. Um decreto presidencial emitido no mês passado outorgou às Forças Armadas e aos Comitês Locais de Abastecimento e Produção a autoridade de distribuir alimentos.
“O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) condena a violência cometida contra a imprensa na Venezuela e insta a que realizem uma investigação exaustiva para que os autores sejam levados à justiça”, declarou Carlos Lauría, coordenador sênior do programa das Américas do CPJ. “As autoridades venezuelanas devem garantir o direito dos jornalistas de informar sobre os protestos livremente e sem temor de sofrer atos de violência”.
De acordo com a organização venezuelana de liberdade de expressão Espacio Público, 19 jornalistas foram agredidos durante o protesto, e pelo menos sete tiveram seus equipamentos de trabalho roubados. Jornalistas do El Universal e do site noticioso digital em formato vídeo VivoPlay estavam entre os agredidos, informou a organização. Espacio Público denunciou que civis armados roubaram equipamentos de trabalho dos jornalistas. Efetivos da Guarda Nacional também hostilizaram jornalistas, confiscaram a credencial de um repórter, e obrigaram um jornalista do canal internacional NTN24 a apagar imagens, segundo versões noticiosas. A Guarda Nacional não respondeu de imediato as chamadas realizadas pelo CPJ para obter suas declarações.
Três fotógrafos e um repórter do El Universal ficaram feridos e tiveram seus equipamentos de trabalho roubados durante o protesto, informou o jornal venezuelano. Quatro indivíduos armados se aproximaram do fotógrafo Pablo Pupo, o golpearam na cara e nas costas e roubaram seu equipamento de trabalho e pertences. Outros dois fotógrafos, Adolfo Acosta e Luis Morillo, também foram agredidos, e roubaram o telefone do jornalista Deivis Ramírez, informou o jornal, sem oferecer maiores detalhes das agressões. O El Universal declarou que seus jornalistas haviam apresentado uma denuncia ante às autoridades ontem e que o Ministério Público havia anunciado a designação de um promotor para investigar as agressões.
Em outro caso, também documentado pelos meios locais, individuos armados obrigaram Andrea Cedeño, do VivoPlay, o cinegrafista e o chofer que a acompanhavam, a deitarem-se no chão na mira de uma pistola. Os sujeitos ameaçaram a equipe de notícias e os roubaram, segundo versões de imprensa. Em um segmento da agressão transmitido por VivoPlay, as imagens mostram dois efetivos da Guarda Nacional venezuelana que passam pelo lado em uma motocicleta no momento da agressão e não intervêm.
O Espacio Público também informou que civis armados agrediram Francisco Bruzco, repórter do Diario 2001, e destruíram sua câmara. Um vídeo publicado pelo meio de imprensa mostra Bruzco fugindo e outro jornalista que é dominado por efetivos da Guarda Nacional enquanto um civil tenta roubar a câmera.
Carlos Correa, diretor do Espacio Público, culpou os civis armados pela violência, mas também acrescentou que as forças de segurança do estado foram cúmplices. “A agressão contra os jornalistas visa assegurar que eles não mostrem as ações das forças de segurança neste contexto de distribuição de alimentos”, declarou Correa ao CPJ.
As investigações do CPJ mostram que durante a gestão do mandatário venezuelano Nicolás Maduro, a liberdade de imprensa se deteriorou e os jornalistas independentes sofrem restrições para informar. Os jornalistas que nos últimos anos têm coberto protestos na Venezuela também têm sido objeto de violência e detenções.