São Paulo, 8 de abril de 2016 – As autoridades brasileiras devem investigar minuciosamente o tiroteio do jornalista Ivan Pereira Costa, levar os responsáveis à justiça, e assegurar que os jornalistas possam trabalhar sem medo de represálias, disse hoje o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ). Pereira foi hospitalizado após um ataque a tiros na segunda-feira na pequena cidade amazônica de Cujubim, no estado de Rondônia.
Pereira – que dirige o site de notícias local Veja Notícias com sua esposa, Ediléia Santos – estava conversando com um vizinho em frente de sua casa por volta da 20h30 na segunda-feira quando um indivíduo não identificado se aproximou em uma motocicleta Honda e abriu fogo, relatou o site Veja Notícias. O agressor disparou cinco vezes, atingindo Pereira no braço e no estômago, disse o site Veja Notícias. Pereira tentou fugir correndo em zig-zag e saltando sobre uma cerca. Dois policiais, mais tarde, o encontraram escondido, e o levaram a um hospital, onde foi tratado de seus ferimentos e está se recuperando, Santos disse ao CPJ por telefone e mensagens de texto.
“As autoridades brasileiras devem investigar exaustivamente o ataque contra Ivan Pereira Costa, levar os responsáveis à justiça e garantir que ele possa continuar a fazer o seu trabalho”, disse em Nova York o coordenador sênior do programa do CPJ para as Américas, Carlos Lauría. “Em todo o Brasil, a violência intolerável tem sido usada como uma tática para silenciar os jornalistas e impelir temas sensíveis para fora da discussão pública”.
A polícia encarregada do caso disse que as investigações estão no estágio inicial.
“As pessoas são mortas ou baleadas hoje sem o menor motivo,” Tiago Flores, o chefe da polícia local que conduz o inquérito, disse ao CPJ por telefone. “Ele diz que foi por causa do [seu jornalismo], mas que é a sua versão. Precisamos investigar mais”.
Além de possuírem e operarem o site Veja Noticias, Pereira e sua esposa possuem também um negócio de carvão na cidade, que está localizada a 220 km da capital do estado, Porto Velho.
Santos disse ao CPJ que a área ao redor da cidade de 9.000 habitantes tem sido assolada por conflitos de terra e violência entre os camponeses e homens armados contratados por fazendeiros. Pereira escreveu sobre ocupações camponesas, sobre homens contratados para incendiar campos improvisados dos camponeses, e sobre o crime organizado na região, de acordo com o site Veja Notícias. Dois policiais foram presos em janeiro em conexão com a morte de um camponês e o desaparecimento de outro, segundo a imprensa.
Santos, que também escreve para o site Veja Noticias, disse que ambos receberam ameaças anônimas no início deste ano.
“Eu fui ameaçada”, ela disse ao CPJ. “Ele foi ameaçado e ele sabia que estava em perigo”.
Santos disse também que amigos e vizinhos tinham dito a ela e a seu marido que eles estavam cobrindo conflitos que deviam ignorar.
Pereira disse ao CPJ que ameaças mais específicas haviam sido feitas por telefone. “Eu não sei quem faria essas ameaças”, disse ele em uma conversa curta de sua cama de hospital.
Este ataque é pelo menos o segundo atentado a tiros contra um jornalista brasileiro no espaço de duas semanas, de acordo com a pesquisa do CPJ. Em 27 de março, o radialista brasileiro Jair Pereira Teixeira sobreviveu após ser baleado no estado nordestino do Ceará.
Apesar de alguns progressos na luta contra a impunidade de crimes contra jornalistas, os meios de comunicação brasileiros continuam a enfrentar ameaças enormes. No ano passado, o Brasil foi o país mais letal para jornalistas nas Américas, e pesquisa do CPJ indica que 36 jornalistas foram assassinados em represália direta por seu trabalho desde 1992.