Terminando uma era obscura, Cuba liberta o último jornalista preso

Nova York, 8 de abril de 2011 – O governo cubano libertou na quinta-feira o último jornalista que permanecia em suas prisões, terminando assim um longo e obscuro período de oito anos no qual o país foi um dos maiores carcereiros de jornalistas do mundo, chegando a manter aprisionados durante uma época quase 30 repórteres e editores independentes. O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) expressou alívio hoje pela libertação de Albert Santiago Du Bouchet Hernández, um marco em uma intensa campanha internacional liderada pela Igreja Católica, o governo espanhol e organizações internacionais de imprensa e direitos humanos.

Du Bouchet Hernández chegou esta manhã a Madri após ter sido libertado no dia anterior, segundo as informações da imprensa. Du Bouchet Hernández se exilou na Espanha como parte de um grupo de 37 prisioneiros políticos libertados e mais 200 familiares, segundo a agência Associated Press. Os detidos e suas famílias voaram de Havana em um voo charter do governo espanhol, segundo noticiado pela imprensa.

“Estamos muito aliviados pela libertação do último jornalista cubano preso. Um pesadelo de anos de sofrimento e humilhação para um grande número de jornalistas e suas famílias chegou ao fim”, afirmou Carlos Lauría, coordenador sênior do programa das Américas do CPJ. “Entretanto, os jornalistas independentes em Cuba continuam enfrentando assédio e intimidação por seu trabalho. Instamos o governo cubano a desarticular o obsoleto marco legal que pune o jornalismo independente com penas de prisão, e a garantir a liberdade de expressão para todos os cubanos”.

Du Bouchet Hernándes, ex-diretor da agência independente de notícias Havana Press, foi sentenciado em maio de 2009 a três anos de prisão por acusações de desacato e distribuição de propaganda inimiga. No momento de sua libertação, estava recluso na prisão Melena II, na província de Havana. Segundo seu colega Roberto De Jesús Guerra, Du Bouchet Hernández enfrentou péssimas condições carcerárias, incluindo má alimentação e transbordamento de esgoto.

Em um acordo estabelecido em 7 de julho de 2010, mediado pela Igreja Católica cubana com a assistência do governo espanhol, as autoridades cubanas concordaram com a libertação de 52 presos políticos – incluindo vários jornalistas – que haviam sido aprisionados em uma ofensiva em massa contra a dissidência em março de 2003, conhecida como Primavera Negra.

O governo prendeu um total de 29 jornalistas na Primavera Negra, e os submeteu a julgamentos sumários de um dia de duração com acusações amplas de agir contra os interesses do Estado cubano, impondo sentenças de até 27 anos de prisão. Alguns poucos repórteres foram libertados durante estes oito anos, enquanto outros jornalistas independentes, como Du Bouchet Hernández, que foi preso em 2009, foram detidos.

O acordo anunciado em julho de 2010 levou à libertação gradual dos prisioneiros da Primavera Negra, apesar de a maioria ter sido obrigada a abandonar o país com destino à Espanha. Du Bouchet Hernández não foi diretamente incluído no acordo de 2010, mas sua libertação ocorreu com a condição similar de ir para o exílio.

Apenas três jornalistas da Primavera Negra, Héctor Maseda Gutiérrez, Iván Hernández Carillo e Pedro Argüelles Morán receberam permissão para permanecer em Cuba depois de recusarem o exílio na Espanha como condição para sua libertação. Os três foram liberados sob licença extrajudicial.

O CPJ realizou uma intensa campanha para libertar os 29 jornalistas da Primavera Negra, assim como no caso de Du Bouchet, documentando o injusto encarceramento e os maus-tratos em dezenas de informes, comunicados e cartas. O CPJ também se reuniu com embaixadores latino-americanos nas Nações Unidas e trabalhou através de canais diplomáticos para atrair a atenção para a causa. Desde 2007, o CPJ engajou o governo espanhol do presidente José Luiz Rodríguez Zapatero para garantir a libertação dos jornalistas.

Os jornalistas recentemente libertados estão contando sobre sua prisão e libertação em uma série de relatos escritos na primeira pessoa, em uma seção chamada “Depois da Primavera Negra” no blog do CPJ. Hoje, o jornalista Juan Adolfo Fernández Saínz descreve os “horrores do antro” na prisão.