Nova York, 7 de julho de 2010 – A Igreja Católica cubana afirmou hoje que o governo do Presidente Raúl Castro concordou em libertar dezenas de prisioneiros políticos durante as próximas semanas, alimentando a esperança de que numerosos jornalistas encarcerados possam ser liberados.
“A eventual libertação de jornalistas presos, como sugerido no anúncio da igreja, deveria ter ocorrido há muito tempo. Estes repórteres e suas famílias têm passado pela angustia de um encarceramento injusto e um tratamento cruel”, disse Carlos Lauría, coordenador sênior do programa das Américas do CPJ. “Instamos o Presidente Castro a libertar todos os jornalistas aprisionados e a garantir a liberdade de expressão para todos os cidadãos cubanos”.
Em um comunicado, a Igreja Católica de Cuba informou que cinco prisioneiros políticos serão libertados nas próximas horas e que outros 47 em um período de três a quatro meses. O anúncio, assinado pelo porta-voz da igreja, Orlando Márquez Hidalgo, assinalou que todos os que serão libertados foram detidos durante a massiva investida contra a dissidência e a imprensa independente em março de 2003, um período conhecido como Primavera Negra.
O anúncio foi feito após uma reunião que ocorreu hoje em Havana entre o cardeal Jaime Ortega Alamino, arcebispo de Havana e representante da igreja católica, e o presidente Castro, segundo o comunicado da igreja. O ministro de Relações Exteriores da Espanha, Miguel Angel Moratinos, e seu colega cubano, Bruno Rodríguez, também participaram da reunião, segundo o jornal oficial Gramma.
A igreja católica em Cuba tem negociado ativamente com o governo a libertação de prisioneiros políticos. Em maio, a igreja chegou a um acordo para transferir presos políticos detidos em prisões distantes de suas famílias para centros de detenção mais próximos de suas residências, segundo as informações da imprensa. Seis jornalistas presos, incluindo o ganhador do Prêmio Internacional de Liberdade de Imprensa do CPJ, Héctor Maseda Gutiérrez, foram transferidos para penitenciárias mais próximas de suas casas.
A saúde dos jornalistas cubanos se deteriorou seriamente devido às precárias condições carcerárias e insuficiente atenção médica, segundo uma investigação do CPJ. Familiares e amigos descreveram uma série de problemas de saúde que vão de diabetes e tumores até pneumonia e catarata. Indicaram que, em alguns casos, os jornalistas receberam atendimento médico deficitário. Também ressaltaram que em condições carcerárias anti-higiênicas, onde também faz muito calor, os problemas médicos dos jornalistas se exacerbaram. Enfermidades pré-existentes se acentuaram, segundo parentes e amigos, enquanto alguns dos jornalistas presos desenvolveram novas e graves doenças.
Com 21 jornalistas independentes na prisão, Cuba continua sendo um dos países com maior número de jornalistas presos por seu trabalho no mundo – atrás do Irã e da China. Vinte deles foram detidos durante a ofensiva de março de 2003, conhecida como Primavera Negra. Após julgamentos sumários a portas fechadas, os jornalistas foram sentenciados a até 28 anos de prisão sob acusações de traição vinculadas ao seu trabalho jornalístico. Os repórteres trabalhavam para agências de notícias independentes e enviavam seus artigos por fax ou telefone para meios de comunicação e sites no estrangeiro.
Ao longo dos últimos sete anos, Cuba libertou um escasso número de jornalistas em troca de concessões políticos no âmbito internacional. Desde fevereiro de 2008, no entanto, não foram registradas libertações, segundo a pesquisa do CPJ.