VENEZUELA: Líder de grupo pró-governo ameaça diretor da RCTV e a Globovisión

Nova York, 9 de fevereiro de 2009 – Em uma entrevista publicada na sexta-feira, o líder do grupo pró-governamental venezuelano La Piedrita assumiu a responsabilidade por uma série de ataques contra jornalistas e meios de comunicação locais, e ameaçou o canal de notícias 24 horas Globovisión e o diretor da RCTV, Marcel Granier. O Comitê para a Proteção dos Jornalistas instou hoje as autoridades venezuelanas a investigarem as declarações e a levarem à justiça, imediatamente, todos os responsáveis pelos ataques.

Em sua edição de 6 de fevereiro, o semanário venezuelano Quito Día publicou uma extensa entrevista com Valentín Santana, líder do La Piedrita, na qual ele detalhava a posição política e as ações passadas do grupo favorável ao governo. Na entrevista, Santana ameaçou “pegar em armas” contra Granier e a Globovisión, que ele acusa de promoverem a violência contra o presidente venezuelano Hugo Chávez.

Granier publicou um comunicado, no mesmo dia, instando as autoridades locais a deterem Santana. Durante o fim de semana, Chávez condenou as declarações de Santana e descreveu as ações do La Piedrita como “terroristas”, informou a imprensa venezuelana. Segundo o jornal El Universal, Chávez ordenou a detenção de Santana no domingo. Porém, o líder do La Piedrita ainda não havia sido detido.

 

Valentín também se responsabilizou por vários ataques com bombas de gás lacrimogêneo durante os últimos cinco meses: contra o escritório, em Caracas, da Globovisión e do diário nacional El Nuevo País; contra a residência de Granier, e contra a casa de Marta Colomina, apresentadora de um programa opinativo na Unión Radio e colunista do jornal El Universal. Valentín disse que La Piedrita atacou os jornalistas e meios de comunicação em represália por suas posturas contrárias a Chávez.

“Saudamos a condenação pública do presidente Chávez contra este grupo e seus ataques aos meios de comunicação venezuelanos”, declarou o subdiretor do CPJ, Robert Mahoney. “Agora, instamos o presidente a converter suas palavras em ações e a investigar, de forma completa, as escandalosas declarações efetuadas na semana passada por Valentín Santana, e a levar todos os responsáveis por tais ataques à justiça”.

 

Na manhã de 23 de setembro, indivíduos não identificados lançaram bombas de gás lacrimogêneo em frente ao escritório da Globovisión em Caracas. Uma das bombas explodiu, mas ninguém ficou ferido. Os agressores deixaram folhetos assinados pelo La Piedrita, advertindo que responsabilizariam o canal de televisão – agora, considerado um objetivo militar – por qualquer coisa que pudesse acontecer a Chávez, segundo uma transcrição publicada no jornal de circulação nacional El Nacional. Em 14 de outubro, mais duas bombas lacrimogêneas explodiram dentro do escritório do El Nuevo País. De acordo com os informes da imprensa local, os agressores também deixaram panfletos, assinados pelo La Piedrita, declarando que o diretor do jornal, Rafael Poleo, era um alvo militar. Ninguém ficou ferido no ataque.

Em 1º de dezembro, indivíduos não identificados lançaram folhetos semelhantes e várias bombas de gás lacrimogêneo em frente ao prédio, em Caracas, onde reside Colomina, jornalista que critica severamente o governo de Chávez, segundo a imprensa local. Colomina informou que os folhetos a acusavam de promover o assassinato de Chávez, de acordo com a imprensa local. Segundo o El Universal, um ataque semelhante ocorreu em 19 de janeiro em frente à residência de Granier, na capital venezuelana. Granier declarou à imprensa local que sua casa também havia sido atacada em dezembro. Ninguém ficou ferido nestes incidentes. 

A tensão entre os grupos que apóiam Chávez e os que o criticam cresce na medida em que se aproxima o referendo popular que será realizado para que os venezuelanos decidam se Chávez ou outros funcionários públicos podem ser reeleitos indefinidamente. O referendo está marcado para 15 de fevereiro. Em 6 de outubro, o CPJ enviou uma carta a Chávez expressando sua preocupação pela recente onda de violência e intimidação contra os meios de comunicação venezuelanos.

Em maio de 2007, a RCTV, o canal privado de televisão mais antigo do país, saiu do ar após uma decisão sem precedentes do governo venezuelano, que se negou a renovar sua concessão. A RCTV Internacional lançou, em julho de 2007, um serviço pago de TV via cabo ou satélite que continua oferecendo programação crítica.  

A violência crescente no país também afeta os meios de comunicação venezuelanos. Ainda que a violência letal contra jornalista não seja comum na Venezuela, de acordo com as investigações do CPJ um jornalista foi morto e outro foi gravemente ferido. Em 16 de janeiro, um agressor não identificado atirou contra Orel Sambrano, diretor do semanário local ABC de la Semana e da Radio América, segundo os informes da imprensa local. Jornalistas locais acreditam que Sambrano foi assassinado em represália direta por seu trabalho, segundo declarações feitas ao CPJ. Apenas três dias antes, indivíduos não identificados feriram a tiros Rafael Finol, editor de política do jornal El Regional, quando ele deixava o escritório do periódico com vários colegas. Finol, que está se recuperando, disse ao CPJ acreditar que o ataque ocorreu em represália por seu trabalho informativo, em apoio ao governo, que realiza no El Regional