Nova York, 28 de julho de 2008 – Homens armados e encapuzados ameaçaram três fotógrafos brasileiros que cobriam uma visita do senador Marcelo Crivella, candidato à prefeitura do Rio de Janeiro, a uma comunidade pobre neste fim de semana. O Comitê para a Proteção dos Jornalistas pediu hoje às autoridades brasileiras que garantam que jornalistas que cobrem questões sensíveis, como tráfico de drogas e crime organizados, possam trabalhar livremente e sem medo de sofrer represálias.
Os fotógrafos, que cobriam a campanha eleitoral para a prefeitura para os jornais diários O Globo, O Dia e Jornal do Brasil, foram para o bairro de Vila Cruzeiro com Crivella na manhã de sábado, de acordo com os informes da imprensa local. Quando os profissionais tiraram fotos do senador se aproximando de um grupo de jovens que estavam em uma praça local, os homens cobriram suas faces e gritaram que não queriam ser fotografados, informou O Globo.
Os fotógrafos continuaram andando e foram abordados por, pelo menos, dois homens encapuzados em uma motocicleta, um deles armado com um fuzil. Os agressores disseram aos repórteres que eles estavam proibidos de deixar o bairro, a menos que apagassem todas as fotos tiradas, acrescentando que eles “queimariam todos” se as fotografias fossem publicadas, segundo as informações da imprensa local e internacional. Os jornalistas, cujos nomes não foram divulgados por temor de retaliações, aparentemente apagaram as fotos e foram liberados, de acordo com as reportagens.
Algumas fotos, porém, foram recuperadas, informou a imprensa local. Em sua edição de domingo, O Globo publicou uma fotografia de Crivella e dois jovens que olhavam para o chão.
A polícia e os jornalistas acreditam que os homens que foram fotografados e os que depois ameaçaram os jornalistas eram traficantes locais de drogas, de acordo com as matérias publicadas. Hoje, a polícia do Rio de Janeiro emitiu uma declaração informando que foi aberta uma investigação sobre as ameaças.
“Nós estamos horrorizados pelo recente ataque contra jornalistas que cobrem temas sensíveis, como crime organizado. Partes do Rio de Janeiro estão se tornando áreas onde repórteres não podem ir” disse Carlos Lauría, Coordenador Sênior do Programa das Américas do CPJ. “As autoridades devem reverter esta tendência e garantir a segurança de todos os jornalistas que cobrem questões que afetam a vida dos moradores do Rio. É inaceitável, em uma democracia como o Brasil, que homens armados possam evitar que fotógrafos cubram a campanha eleitoral de um candidato à prefeitura”.
Apesar de os jornalistas que atuam em áreas rurais isoladas no Brasil serem mais vulneráveis, recentemente os repórteres que trabalham em grandes centros urbanos começaram a ficar sob o ataque do crime organizado, demonstra a pesquisa do CPJ. Em 1º de junho, O Dia publicou uma reportagem especial detalhando o seqüestro e a tortura de uma equipe de reportagem por uma suposta milícia em 14 de maio na comunidade de Batan, outra favela da periferia do Rio de Janeiro. Depois de serem mantidos por, pelo menos, sete horas, a equipe d’ O Dia foi libertada sob a condição de que não identificasse seus captores, informou a reportagem. Os jornalistas estavam investigando a presença de paramilitares na favela de Baran.
Em 2 de junho de 2002, Tim Lopes, um premiado jornalista da TV Globo, desapareceu na Vila Cruzeiro enquanto trabalhava em uma reportagem sobre festas promovidas por traficantes de drogas que supostamente envolviam a exploração sexual de menores. Lopes foi encontrado morto dez dias depois. Ele foi torturado e assassinado com o uso de uma espada. Em 2005, seis acusados foram julgados, condenados e sentenciados a mais de 20 anos de prisão cada. Um sétimo acusado, cujo testemunho ajudou a condenar do outros seis homens, foi mais tarde sentenciado a nove anos e quatro meses de prisão. O autor intelectual também foi condenado e sentenciado a 28 anos de prisão.