Nova York, 29 de maio de 2007—A cabeça de um funcionário local, envolta em jornal, foi abandonado na manhã de sábado em frente ao escritório de um jornal no estado de Tabasco, informou a imprensa mexicana.
Indivíduos não identificados estacionaram duas caminhonetes Grand Cherokee em frente ao diário Tabasco Hoy, em Villahermosa, situada 745 quilômetros a leste da Cidade do México. Um indivíduo vestido de preto desceu de um dos veículos e deixou um refrigerador portátil em frente à porta de entrada do jornal, segundo informes da imprensa local.
Ao ser chamada, a polícia encontrou uma cabeça decapitada dentro do refrigerador portátil. Mais tarde, as autoridades descobriram que a cabeça pertencia a Terencio Sastre, delegado municipal de El Cedro, um povoado próximo a Villahermosa. O delegado havia sido seqüestrado na quinta-feira, informou o jornal La Jornada.
Em um comunicado publicado no domingo, o Tabasco Hoy classificou o incidente como “um ato intimidador com o propósito de impedir a tarefa diária de informar veraz e objetivamente os fatos que vêm ocorrendo em Tabasco”. O comunicado, dirigido ao Presidente Felipe Calderón, ao Procurador Geral Eduardo Medina-Mora, e às autoridades estaduais, solicitava garantias do governo para a proteção dos funcionários do jornal.
O jornal se negou a especular sobre o que pode ter provocado a ação. Não foi informado sobre um vínculo entre o delegado e o diário.
Os funcionários do Tabasco Hoy têm razão em estar preocupados depois do desaparecimento, em 20 de janeiro, do repórter Rodolfo Rincón Taracena. No dia de seu desaparecimento, Rincón publicou uma reportagem investigativa sobre o narcotráfico em Tabasco. No dia seguinte, o jornal publicou outro artigo de Rincón sobre um grupo local de ladrões de caixas eletrônicos automáticos.
O CPJ renovou hoje seu apelo ao presidente Calderón para que converta a proteção dos jornalistas em uma das prioridades de sua administração. “Este ato, qualquer que tenha sido a razão, terá um efeito muito negativo sobre a imprensa mexicana que já enfrenta constantes intimidações e violências” declarou o Diretor Executivo do CPJ, Joel Simon. “Instamos o governo federal a adotar ações decisivas para pôr fim a esta onda de agressões e a defender o direito constitucional de todos os mexicanos à liberdade de expressão”.
O tráfico de drogas e o crime organizado converteram o México em um dos lugares mais perigosos para jornalistas na América Latina, indicam as investigações do CPJ. Desde que a guerra entre poderosos cartéis de droga se intensificou, há dois anos, dezenas de repórteres mexicanos foram silenciados porque as autoridades não foram capazes de proporcioná-lhes nem mesmo a mínima proteção.
Desde o ano de 2000, seis jornalistas foram mortos em represália direta por seu trabalho, enquanto o CPJ continua investigando as circunstâncias que cercam outros 12 assassinatos. Além disso, outros cinco jornalistas, incluindo Rincón, desapareceram desde 2005, sendo três deles somente este ano.
Em 9 de maio, uma delegação do CPJ se reuniu com o embaixador mexicano nos Estados Unidos, Arturo Sarukhan Casamitjana. A delegação instou o governo federal do México a adotar medidas concretas para proteger a liberdade de imprensa e a processar os responsáveis por crimes contra jornalistas.