Nova York, 10 de agosto de 2006 O corpo de Enrique Perea Quintanilla, veterano repórter de casos policiais que atualmente dirigia uma revista especializada em crime, foi encontrado nos arredores da cidade de Chihuahua, no norte do país, na tarde de quarta-feira. O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) está investigando se o assassinato de Perea está relacionado com seu trabalho jornalístico.
O corpo de Perea foi encontrado às 14h00 próximo a uma rodovia, cerca de 15 quilômetros ao sul de Chihuahua, informou ao CPJ Eduardo Esparza, porta-voz da Procuradoria de Justiça de Chihuahua. No corpo havia um impacto de bala de calibre 45mm na cabeça e outro nas costas.
Perea era editor da revista mensal Dos Caras, Una Verdad, especializada em informações sobre assassinatos e tráfico de drogas. Havia trabalhado durante 20 anos como repórter policial nos jornais El Heraldo de Chihuahua e El Diario de Chihuahua, antes de se tornar editor da revista em 2005, disse ao CPJ seu antigo colega e editor em El Heraldo, César Ibarra.
Segundo Esparza, o jornalista foi visto pela última vez por volta das 11h00 de terça-feira, quando saía em seu carro após deixar o escritório. Seu veículo foi encontrado na mesma noite, abandonado no centro de Chihuahua. Os dois filhos de Perea reportaram seu desaparecimento.
Esparza disse que a Procuradoria acredita se tratar de um homicídio orquestrado pelo crime organizado. Ainda que o motivo não esteja claro, o trabalho de Perea como jornalista não foi descartado como linha de investigação.
Na edição de julho de Dos Caras, Una Verdad, Perea publicou uma entrevista com um chefe do narcotráfico local, não identificado, em que detalhava suas operações, indicou Ibarra ao CPJ. Ibarra ressaltou que Perea nunca mencionou ter sido ameaçado de morte.
Quatro jornalistas mexicanos morreram quando cumpriam seu trabalho jornalístico nos últimos cinco anos, segundo as informações do CPJ. O CPJ continua investigando os casos de outros cinco jornalistas cuja morte pode estar relacionada com a profissão.
Também, dois jornalistas continuam desaparecidos. Alfredo Jiménez Mota, repórter do diário de Hermosillo El Imparcial, está desaparecido desde 2 de abril de 2005. Presume-se que esteja morto. Rafael Ortiz Martinez, repórter do Zócalo de Monclava e apresentador do programa de notícias matinal “Radio Zócalo“, está desaparecido desde 8 de julho.
Em 22 de fevereiro, em resposta a uma onda de violência contra a imprensa relacionada com o narcotráfico, o presidente Vicente Fox designou David Veja Vera, um conhecido advogado e perito em direitos humanos, como promotor especial encarregado de investigar os delitos contra jornalistas. O presidente mexicano havia assumido o compromisso de criar a promotoria quando se reuniu com o CPJ em Nova York, no ano passado. A promotoria especial assumirá o caso se houver evidência suficiente de que o assassinato de Perea está relacionado com seu trabalho jornalístico.
“Instamos o Promotor Especial a mobilizar todos os poderes de seu cargo para investigar em profundidade o assassinato de Enrique Perea Quintanilla”, destacou o Diretor-executivo do CPJ, Joel Simon. “É necessário poder estabelecer se sua morte está relacionada com seu trabalho como jornalista”.
Em dois informes especiais lançados em fevereiro, o CPJ analisou o alcance da violência e o dano que gera no livre fluxo de informações. A investigação do CPJ demonstra que as represálias violentas contra a imprensa mexicana geraram uma autocensura generalizada. Para ler a análise de CPJ: http://www.cpj.org/attacks05/lang/AtaquesPrensa2005.pdf. (em espanhol)
Também em fevereiro, o CPJ examinou os efeitos da crescente violência contra os meios de comunicação e os jornalistas em uma cidade da fronteira, em um informe especial intitulado “Terror na Fronteira”. Após uma série de entrevistas com jornalistas na cidade de Nuevo Laredo, assolada pela violência e pelo crime, o CPJ indicou que os ataques e intimidações devastaram os meios de comunicação locais e censuraram qualquer tipo de trabalho jornalístico investigativo sobre a criminalidade, a corrupção e o narcotráfico. Para ler o informe do CPJ, em espanhol: http://www.cpj.org/Briefings/2006/nuevo_laredo_sp/nuevo_laredo_sp.html.