Fitas revelam conspiração contra jornalista mexicana

Nova York, 16 de fevereiro de 2006 ­ O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) está alarmado com os informes da imprensa sobre uma conspiração, entre empresários e funcionários públicos mexicanos, para prender e agredir a jornalista e ativista dos direitos humanos Lydia Cacho Ribeiro. Gravações telefônicas entre várias pessoas, duas delas identificadas pela imprensa local como o governador do estado de Puebla, Mario Marín, e um empresário local, foram enviadas aos escritórios do diário La Jornada e da W Radio na Cidade do México, afirma o noticiário.

Segundo a imprensa, o empresário é o ex-fabricante de roupas José Camel Nacif Borges, que apresentou uma ação criminal por difamação contra Cacho. Cacho foi presa em 17 de dezembro de 2005 pelas ações de difamação e calúnia apresentada contra ela e libertada no dia seguinte, após pagar a fiança.

As reportagens da imprensa mexicana afirmam que as gravações foram feitas antes e durante a detenção de Cacho. Nas fitas, é utilizada linguagem obscena na descrição dos planos para prender e perseguir Cacho. Em uma das conversas anteriores a sua prisão, um homem identificado pela imprensa como Hanna Nakad Bayeh, fabricante de roupas de Puebla, solicita a Nacif que contrate alguém para estuprar Cacho no cárcere. De acordo com as transcrições publicadas pelo La Jornada, Nacif responde: “sim, já cuidamos disso”.

Em outra conversa, identificada pelo La Jornada como posterior à libertação sob fiança de Cacho, Marín diz: “Pois ontem acabei de alfinetar essa cadela. Disse que aqui em Puebla se respeita a lei e não há impunidade, e quem comete um delito se chama delinqüente. E que não queira se fazer de vítima nem se aproveitar para fazer publicidade. Já mandei uma mensagem e estou esperando para ver como ela responde. Mas ela tem nos ferrado o tempo todo, e assim que tomar na cabeça, os outros vão aprender também”.

As gravações também implicam outros funcionários públicos em uma possível conspiração contra Cacho. Nem Nacif nem os outros funcionários e empresários fizeram comentários sobre as acusações.

Um porta-voz de Marín negou que o governador tenha se envolvido em uma conspiração contra Cacho e disse que as gravações violam as leis mexicanas de privacidade, noticiou a imprensa.

“Estas acusações são escandalosas e instamos o governador Marín a respondê-las”, disse a Diretora-executiva do CPJ, Ann Cooper. “Como as conversas sugerem uma possível conspiração criminal, deve ser iniciada imediatamente uma agressiva investigação”.

Cacho é colunista das revistas semanais Dia Siete e Tentaciones. Além disso, dirige um centro de ajuda às vítimas de violência e estupro em Cancun.

Em dezembro de 2005, a polícia de Puebla levou Cacho de Cancun a Puebla, argumentando que ela havia não havia respondido a uma citação do tribunal. Cacho afirmou nunca ter recebido a citação, fato que o promotor confirmou como verdadeiro mais tarde, segundo o noticiário local.

O processo de difamação contra Cacho se baseia em uma ação apresentada por Nacif. Em um livro publicado em maio, intitulado Los demonios del Edén (Os Demônios do Éden), Cacho descreveu as atividades de um grupo de prostituição infantil que, segundo ela, operava com a cumplicidade da polícia e de políticos locais. Segundo Cacho, Nacif estava vinculado a um indivíduo acusado de pedofilia. O empresário afirmou que Cacho havia manchado sua reputação.

Em 18 de janeiro, Cacho foi absolvida pelo delito de calúnia baseada nas acusações apresentadas no livro por falta de evidências, segundo informou o diário El Universal. A ação por difamação, no entanto, continua.