Jornalista será processada em caso de vazamento de documentos

Nova York, 2 de fevereiro de 2005 – O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) está muito preocupado pela imputação à jornalista Patricia Poleo dos supostos delitos de obter e publicar ilicitamente documentos reservados de um expediente judicial, e violar a Lei contra a Corrupção.

A Procuradoria Geral da República anunciou nesta última segunda-feira que processaria Poleo por publicar informação de caráter reservado sobre as investigações do assassinato do promotor Danilo Anderson, ocorrido em novembro de 2004. Recentemente, o governo iniciou uma investigação sobre o vazamento, que foi atribuído a membros das forças policiais.

Atuando com uma ordem judicial, agentes da polícia e promotores realizaram uma busca na casa de Poleo em 28 de janeiro, revistaram disquetes de computador e levaram cópias de documentos que, segundo a Procuradoria, foram vazados. Em uma entrevista prévia com o procurador Alejandro Castillo, Poleo havia negado possuir documentos vazados, segundo versões difundidas pela imprensa local. Poleo declarou que o Ministério Público esconde informações que podem prejudicar o governo, e já disse que não revelará suas fontes.

Poleo, conhecida jornalista que apoiou a oposição, é colunista e diretora do diário de Caracas El Nuevo País, de propriedade de seu pai, o também jornalista Rafael Poleo. Em dezembro de 2004 e janeiro de 2005, a jornalista informou que documentos do caso vinculavam Anderson com uma rede de extorsão a que pertenciam vários advogados e promotores.

Anderson era o promotor encarregado de investigar a suposta participação de empresários, políticos e ex-funcionários do governo no golpe de estado de abril de 2002 contra o presidente Hugo Chávez Frías. Anderson morreu vítima de um atentado à bomba quando dirigia seu carro em Caracas, em 18 de novembro de 2004, ato chamado de “terrorista” por funcionários do governo. A polícia deteve três suspeitos de cometerem o assassinato, mas outros dois continuam foragidos da justiça. O Ministério Público continua a sua busca pelos autores intelectuais da morte de Anderson. Nos dias seguintes ao assassinato, alguns partidários do governo reclamaram a aprovação de uma legislação “antiterrorista”.

Em dezembro de 2004 e janeiro de 2005, a imprensa local divulgou as declarações de um vereador de Caracas que assegurou que a polícia havia encontrado uma volumosa soma de dinheiro no apartamento de Anderson. O vereador, Carlos Herrera, sustentou que Anderson teria vínculos com uma rede de extorsão formada por advogados e promotores que solicitava dinheiro em troca de suspender investigações.

Por sua vez, o Promotor Geral Isaías Rodríguez afirmou que a investigação feita pela Procuradoria trabalha com três hipóteses que apontam para uma represália contra Anderson por seu trabalho como promotor. Rodrigues criticou a imprensa pela atenção dada às acusações de extorsão com a intenção de favorecer aos acusados e possíveis evolvidos no assassinato de Anderson.

“Nos preocupa que Poleo tenha sido seletivamente acusada”, declarou Ann Cooper, Diretora-executiva do CPJ. “Os jornalistas não devem ser castigados por informar sobre assuntos de interesse público, como é o caso Anderson”.

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