Ataques à imprensa: Os países mais mortais em 2021

Durante uma vigília em Nova Deli, na Índia, em 17 de julho de 2021, velas são acesas ao lado de uma foto do jornalista Danish Siddiqui, da Reuters, que foi morto cobrindo um confronto entre as forças afegãs e o Talibã perto de uma fronteira com o Paquistão. Segundo pesquisa do CPJ, pelo menos 27 jornalistas foram mortos devido ao seu trabalho em 2021. (Reuters/Anushree Fadnavis)

Por Jennifer Dunham/ Vice-diretora Editorial do CPJ

Pelo menos 27 jornalistas foram mortos devido ao seu trabalho em 2021, com a Índia e o México no topo da lista dos países com mais mortes de trabalhadores da mídia, de acordo com os dados de fim de ano do Comitê para Proteção de Jornalistas.  Do total – que aumentou em três desde a publicação do relatório do CPJ sobre ataques à imprensa em 9 de dezembro – conclui-se que 21 foram assassinados em retaliação por suas reportagens. Outros quatro foram mortos enquanto trabalhavam em zonas de conflito, e dois cobrindo protestos ou confrontos de rua que se tornaram fatais.

O CPJ ainda está investigando as mortes de 18 outros jornalistas – incluindo seis do México – para determinar se seus homicídios foram relacionados ao trabalho.

Enquanto o total geral de mortes de jornalistas caiu em relação à cifra de 32 em 2020, o número de assassinatos por retaliação confirmados permaneceu praticamente o mesmo, sugerindo que os jornalistas ainda são vistos como alvos. Os dois países com o maior número de homicídios – Índia e México, que registraram quatro e três assassinatos confirmados, respectivamente – figuram no Índice Global de Impunidade do CPJ, que destaca os países onde os membros da imprensa são alvo de assassinato e os perpetradores ficam livres.

Pelo menos dois jornalistas foram mortos em Myanmar, em meio à brutal repressão da junta militar contra a imprensa, que também viu pelo menos 26 jornalistas presos por suas reportagens em 1º de dezembro de 2021. As duas mortes, ambas em dezembro, representaram a maior contagem anual registrada pelo CPJ de homicídios de jornalistas em Myanmar desde 1999, o país emergiu como o segundo país que mais encarcera jornalistas no mundo, abaixo da China no censo prisional de 2021 do CPJ.

Outras constatações da pesquisa do CPJ sobre assassinatos de jornalistas incluem:

● Grupos políticos, tais como grupos anti-governo ou combatentes, formam o maior número de suspeitos de homicídio de jornalistas em 2021, e política foi o tema de cobertura mais perigoso.

● A âncora da televisão afegã Mina Khairi – que foi morta em junho em Cabul quando agressores não identificados detonaram um dispositivo explosivo improvisado preso a uma van em que ela viajava – foi a única mulher jornalista confirmada como sendo alvo de assassinato em 2021. Outra repórter, a fotojornalista iemenita Rasha Abdullah al-Harazi – que estava grávida na época – foi morta por um carro-bomba em 9 de novembro de 2021, mas acredita-se que o ataque foi dirigido a seu marido, Mahmoud al-Atmi. Al-Atmi, também jornalista, que foi gravemente ferido na explosão.

● A grande maioria dos jornalistas mortos era de jornalistas locais cobrindo as notícias em seus países de origem. Três jornalistas estrangeiros foram mortos em 2021: o fotojornalista indiano Danish Siddiqui, que faleceu no Afeganistão devido aos ferimentos sofridos durante a cobertura dos confrontos entre as forças afegãs e o Talibã em julho; e a equipe espanhola de documentários composta por David Beriain e Roberto Fraile, ambos sequestrados e mortos em Burkina Faso em abril.

● O jornalista libanês Lokman Slim – que foi assassinado em fevereiro – foi o único homicídio confirmado no Oriente Médio e no Norte da África em 2021, o que representa um declínio acentuado após os níveis recorde de mortes de jornalistas na região na última década.

Saiba mais sobre os dados de 2021 do CPJ sobre jornalistas assassinados e presos em nosso mapa interativo e no censo prisional anual.

Metodologia

A CPJ começou a compilar registros detalhados sobre todas as mortes de jornalistas em 1992. A equipe do CPJ investiga e verifica de forma independente as circunstâncias por trás de cada morte. O CPJ considera um caso relacionado ao trabalho somente quando sua equipe pessoal está razoavelmente certa de que um jornalista foi morto em represália direta por seu trabalho; em fogo cruzado relacionado a combate; ou enquanto realiza uma missão perigosa, como cobrir um protesto que se torna violento.

Se os motivos de um assassinato não são claros, mas é possível que a morte do jornalista tenha relação com seu trabalho, o CPJ classifica o caso como “não confirmado” e continua a investigar.

A lista do CPJ não inclui jornalistas que morreram de doença ou em acidentes de carro ou avião, a menos que tenha sido causado por ação hostil. Outras organizações de imprensa que utilizam critérios diferentes citam números distintos de mortes.

O banco de dados de jornalistas mortos em 2021 do CPJ inclui relatos individuais sobre cada vítima e filtros para examinar as tendências nos dados. O CPJ mantém um banco de dados de todos os jornalistas mortos desde 1992 e daqueles que desapareceram ou estão presos por seu trabalho.

Jennifer Dunham é a vice-diretora editorial do CPJ. Antes de ingressar no CPJ, ela foi diretora de pesquisa dos relatórios Freedom in the World e Freedom of the Press da Freedom House.

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