Lisboa, 30 de Março de 2021 – As autoridades guineenses devem investigar a agressão e tentativa de rapto do jornalista Adão Ramalho e garantir a responsabilização dos culpados, afirmou hoje o Comité para a Proteção dos Jornalistas (CPJ).
Em 12 de Março, na capital Bissau, cinco homens armados à paisana atacaram e tentaram raptar Ramalho, repórter da emissora local de Rádio Capital FM, enquanto cobria o regresso do líder exilado da oposição Domingos Simões Pereira, segundo o jornalista, que conversou com o CPJ por meio de um aplicativo de mensagens, e reportagens da imprensa.
Os homens espancaram Ramalho com as suas armas, socaram-no, pontapearam-no e tentaram empurrá-lo para um veículo sem identificação, disse ele. O jornalista resistiu e transeuntes intervieram e puxaram-no para longe dos agressores.
A 18 de Março, Ramalho apresentou uma queixa ao Ministério Público, que foi analisada pelo CPJ. Na denúncia, ele identifica um dos agressores como “Yaya Camara”, um membro da guarda presidencial do país. Ramalho relatou ao CPJ que uma testemunha reconheceu Camara durante o ataque e chamou-o pelo seu nome, e Camara respondeu.
Anteriormente, a 9 de Março, um grupo de quatro homens não identificados sequestrou, roubou e espancou o jornalista António Aly Silva em Bissau, como documentou o CPJ na altura. Silva disse ao CPJ que suspeitava que o ataque pudesse estar relacionado a um artigo recente que ele escreveu criticando o governo do presidente Umaro Sissoco Embaló.
“Esta tentativa de sequestrar mais um jornalista na Guiné-Bissau mostra que jornalistas considerados críticos do presidente Umaro Sissoco Embaló estão a trabalhar sob imenso risco”, disse em Nova York a coordenadora do programa do CPJ para a África, Angela Quintal. “Embaló deve garantir que a liberdade de imprensa seja respeitada e incentivada na Guiné-Bissau, garantindo que os responsáveis por atacar o jornalista Adão Ramalho, da Capital FM, sejam rapidamente presos e enfrentem toda a força da lei.”
Ramalho faz reportagens para a Capital FM e apresenta o “Primeira Hora”, programa de notícias que cobre temas sociais e econômicos, muitas vezes crítico ao governo, de acordo com o diretor da Capital FM, Lassana Cassamá, que conversou com o CPJ por meio de um aplicativo de mensagens.
Ramalho disse ao CPJ que estava a cobrir uma entrevista coletiva de Pereira e estacionou seu carro nas proximidades, conforme orientação de um policial. Enquanto organizava sua mochila no carro, os homens atacaram-no, arrastaram-no do seu veículo e tentaram forçá-lo a entrar em um veículo branco sem identificação, disse o jornalista, acrescentando que o automóvel correspondia à descrição do que foi usado no sequestro de Silva neste mês.
Ramalho disse ao CPJ que os homens partiram os seus óculos e telefone no ataque. Ele também ficou com um edema e abscesso no olho esquerdo, que exigiu uma semana de tratamento médico, de acordo com um relatório médico que o jornalista apresentou às autoridades e que o CPJ reviu.
Contatada por telefone e e-mail, a porta-voz presidencial Pamela Ferreira encaminhou o CPJ para os comentários anteriores do Presidente Embaló sobre o suposto envolvimento de um membro da sua guarda no ataque.
Segundo noticiado pela imprensa, o presidente condenou o ataque e disse que a Guiné-Bissau não tinha cultura de rapto de jornalistas. Afirmou que o guarda que foi identificado como um dos agressores acompanhou-o ao Senegal e não se encontrava no país no momento da agressão.
Contactado pelo CPJ por meio de um aplicativo de mensagens, Queba Coma, porta-voz do Ministério Público, disse que as autoridades estão investigando a tentativa de sequestro, bem como o ataque a Silva e o caso de vandalismo à Rádio Capital FM no ano passado, documentado pelo CPJ. Coma informou que os inquéritos ainda estão em fase de investigação e que, portanto, os detalhes não podem ser divulgados.
Indira Baldé, chefe do sindicato de jornalistas local, conhecido como SINJOTECS, relatou ao CPJ por meio de um aplicativo de mensagens que o ataque sinalizou que a Guiné-Bissau está cada vez mais insegura para jornalistas. Bubacar Turé, vice-presidente da Liga Guineense de Direitos Humanos, sem fins lucrativos, disse ao CPJ em uma entrevista por telefone que a violência contra jornalistas e outros cidadãos no país foi organizada por grupos encorajados pelo tratamento do governo a tais questões.