Rio de Janeiro, 6 de abril de 2022 – A empresa de mineração Brazil Iron precisa respeitar o direito dos jornalistas de informar sobre assuntos de interesse público, e não deve ameaçar os membros da imprensa com prisão, disse o Comitê para Proteção de Jornalistas (CPJ).
Em 28 de março, um funcionário da subsidiária brasileira da empresa britânica Brazil Iron na cidade de Piatã, no nordeste do país, chamou a polícia local depois que dois jornalistas da organização de reportagens investigativas Repórter Brasil chegaram ao escritório da empresa para obter comentários sobre o suposto impacto de suas atividades de mineração nas comunidades locais, segundo informações da imprensa, um comunicado da Repórter Brasil, e Ana Magalhães, coordenadora de jornalismo do veículo, que conversou com o CPJ por telefone.
Policiais armados da Polícia Militar do estado da Bahia informaram ao repórter Daniel Camargos e ao fotógrafo Fernando Martinho que a empresa os havia acusado de invasão de propriedade, segundo aquelas fontes. Na presença dos policiais, um funcionário da Brazil Iron pediu para ver imagens que os jornalistas haviam gravado fora da sede da empresa, que os jornalistas se recusaram a mostrar.
Os policiais levaram os jornalistas a uma delegacia e os liberaram, sem acusação, após cerca de uma hora, de acordo com as mesmas fontes.
“A Brazil Iron precisa abster-se de tentar intimidar jornalistas que procuram cobrir o impacto ambiental de seu trabalho, não deve ameaçar os repórteres ou terceirizar essa tarefa para a polícia”, disse Natalie Southwick, coordenadora do programa para a América Latina e Caribe do CPJ, em Nova York. “É uma afronta que uma empresa reaja a um pedido padrão de comentários chamando a polícia. Os jornalistas investigativos que cobrem a mineração no Brasil estão mantendo o público informado sobre um tema vital e devem poder fazê-lo sem medo de sofrer assédio.”
A Brazil Iron Ltd. é uma empresa britânica de capital fechado com uma subsidiária de mineração de ferro e manganês no Brasil.
“Foi uma clara tentativa de intimidação da imprensa”, afirmou Magalhães ao CPJ, qualificando o incidente como “uma intimidação gratuita porque os jornalistas estavam ali para ouvir a posição da empresa. É muito grave um jornalista buscar ouvir o outro lado e ser recebido assim.”
Em comunicado enviado ao CPJ pelo assessor de imprensa da Brazil Iron, Emerson Souza, a empresa disse que chamou a polícia “depois de tomar conhecimento de que a reportagem sobrevoou a área de operação da Mina Mocó com um drone”.
Magalhães relatou ao CPJ que os jornalistas usaram anteriormente um drone na área, mas ficaram em vias públicas e não dentro da propriedade da empresa.
O comunicado da empresa diz ainda que o seu funcionário “não solicitou a apreensão dos equipamentos, apenas pediu que fossem apresentadas as imagens, a fim de garantir que não mostrassem zonas críticas e de segurança”.
Magalhães disse ao CPJ que não havia sido notificada de queixa formal apresentada pela empresa. O CPJ enviou um e-mail à Polícia Civil e Militar do Estado da Bahia solicitando comentários, mas não recebeu nenhuma resposta.
A Repórter Brasil é uma organização de reportagem investigativa e de direitos humanos que frequentemente informa sobre questões ambientais. Em janeiro de 2021, foi alvo de ataques cibernéticos, ameaças e tentativa de invasão, conforme informou o CPJ na época.