Equipe da Rádio Darío em seu estúdio temporário. Incendiários atearam fogo na sede da emissora em abril. (Shannon O'Reilly)
Equipe da Rádio Darío em seu estúdio temporário. Incendiários atearam fogo na sede da emissora em abril. (Shannon O'Reilly)

Polícia da Nicarágua invade rádio independente Darío

Port of Spain, Trinidad e Tobago, 6 de dezembro de 2018 – Autoridades nicaraguenses devem parar de assediar os meios de comunicação independentes e permitir que eles informem sem interferência, disse hoje o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ).

Em 3 de dezembro, a polícia antimotim invadiu a Rádio Darío, uma emissora de rádio independente da Nicarágua que é crítica ao governo cada vez mais autoritário do presidente Daniel Ortega, deteve quatro de seus repórteres e rapidamente forçou a estação a sair do ar, segundo informações da imprensa.

“A Nicarágua se torna mais perigosa a cada dia para jornalistas independentes, com incursões em redação, detenções, interrogatórios invasivos e apreensão de equipamentos”, disse em Nova York Natalie Southwick, Coordenadora do Programa das Américas Central e do Sul do CPJ. “As autoridades nicaraguenses devem permitir que a Rádio Darío transmita com segurança e sem obstruções.”

Aníbal Toruño, proprietário da Rádio Darío na cidade de León, no oeste do país, disse ao CPJ que o chefe de polícia da cidade, Fidel Domínguez, liderou o ataque. Embora Domínguez não tivesse ordem judicial, Toruño disse que seus agentes ameaçaram arrombar a porta a menos que a emissora permitisse que entrassem.

A polícia algemou e interrogou quatro repórteres por várias horas e confiscou 10 telefones celulares e dois computadores. Toruño, que passou grande parte dos últimos seis meses trabalhando fora do país devido aos perigos que enfrenta na Nicarágua, acrescentou que Domínguez o acusou de ser terrorista e de planejar um golpe contra o governo de Ortega, e ameaçou prender jornalistas e seus famílias se continuassem a trabalhar para a Rádio Darío.

“Todos os dias as condições pioram para a mídia independente na Nicarágua”, disse Toruño ao CPJ em uma entrevista por telefone dos Estados Unidos.

Toruño disse que a polícia ocupou a estação por cerca de três horas naquela noite e forçou a emissora a sair do ar. Acrescentou que as transmissões recomeçaram no dia seguinte, mas que a Rádio Darío ainda não retomou sua programação completa de noticiários.

O departamento de relações públicas da Polícia Nacional da Nicarágua não respondeu a um e-mail do CPJ pedindo comentários. Funcionários que atenderam a vários telefonemas para a delegacia de León disseram ao CPJ que Domínguez era a única pessoa autorizada a comentar o incidente e que ele não estava disponível no momento das ligações.

O ataque desta semana foi o segundo maior incidente deste ano envolvendo a Rádio Darío, emissora privada e um dos poucos meios de comunicação fornecendo reportagens independentes e muitas vezes críticas sobre o governo Ortega em meio à violenta repressão de oito meses a manifestantes pró-democracia.

Em 20 de abril, multidões pró-governo incendiaram a Rádio Dario, danificando seriamente a emissora. A equipe do estúdio escapou, mas um guarda de segurança foi hospitalizado com queimaduras e dois dos incendiários morreram no incêndio, de acordo com as informações da imprensa. O ataque forçou a Rádio Darío a se mudar para outro prédio em León.

Inúmeros meios de comunicação independentes e jornalistas foram alvo da repressão. Um repórter foi morto a tiros em abril enquanto transmitia ao vivo via Facebook. Durante uma visita do CPJ à Nicarágua, em junho, os repórteres disseram que foram baleados por atiradores de elite, espancados ou tiveram seus equipamentos roubados pela polícia ou paramilitares pró-Ortega. Além disso, as autoridades deportaram vários correspondentes estrangeiros, de acordo com as informações da imprensa.

Desde abril, mais de 300 manifestantes foram mortos. Grupos de direitos humanos responsabilizam a polícia e os paramilitares pró-Ortega pela maioria dos assassinatos.