Missão do CPJ à Bolívia encontra dificuldades para os meios de comunicação

Santa Cruz de la Sierra, Bolívia, 8 de junho de 2007 –Apesar da existência de um clima aberto para o exercício do jornalismo, a intolerância do presidente Evo Morales frente a críticas nos meios de comunicação está criando dificuldades para o trabalho dos repórteres, segundo os resultados preliminares de uma missão de uma semana de uma delegação do Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) à Bolívia. Morales, ainda que tenha se comprometido a respeitar a liberdade de imprensa, acusou os meios de comunicação de uma cobertura com inclinação contrária a sua administração.

A delegação, composta por Josh Friedman, integrante da diretoria do CPJ e jornalista laureado com o Prêmio Pulitzer, e por Carlos Lauría, Coordenador do Programa das Am…ricas do CPJ, se reuniu com Morales, com o Vice-presidente Álvaro García Linera, funcionários do governo, jornalistas, editores, executivos dos meios de comunicação e ativistas dos direitos humanos em La Paz e em Santa Cruz de la Sierra, cidade onde está radicada a maior oposição ao governo. O CPJ publicará um informe durante o próximo mês sobre as condiç’es da imprensa na Bolívia.

Jornalistas e executivos dos meios de comunicação afirmaram que Morales, o primeiro presidente indígena do país, … demasiadamente sensível às críticas.

“O governo do Presidente Morales acredita que qualquer crítica … parte de uma conspiração. Há liberdade de imprensa na Bolívia, mas as constantes agress’es verbais do Presidente estão enviando sinais inquietantes”, disse ao CPJ Pedro Rivero Jordán, diretor-executivo do jornal El Deber, de Santa Cruz, e presidente da Associação Nacional da Imprensa (ANP, sigla em espanhol).

Os jornalistas reconhecem que não estão sendo perseguidos pelas autoridades, mas assinalam que o constante volume de críticas contra a imprensa dificulta a cobertura de eventos como os protestos de rua.

Em janeiro, mais de uma dezena de jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas foram agredidos por manifestantes pró-governamentais na cidade de Cochabamba, no centro do país.

Morales acusa os meios de comunicação de usarem um vi…s político em sua cobertura e de tentarem desacreditar seu governo.

“O sistema capitalista utiliza os meios de comunicação contra o governo”, Morales, ex-líder cocalero eleito em dezembro de 2005, afirmou na reunião com o CPJ. “Os jornalistas simpatizam com meu governo; são os donos dos meios de comunicação que estão empenhados em uma campanha contra mim” assinalou Morales.

No entanto, Morales reafirmou seu compromisso com a liberdade de imprensa. “… importante proteger a liberdade de expressão, e nossa posição … a de que deve haver mais liberdade de expressão”, acrescentou Morales.

Os meios de comunicação bolivianos tamb…m expressaram sua preocupação ante os planos do governo para a Assembl…ia Constituinte, a qual está redigindo uma nova Constituição com a finalidade de fortalecer os direitos dos indígenas.

O Vice-presidente García Linera disse que o governo “não tem pensado em mecanismos estatais coercitivos para impor controle” sobre a imprensa. “Os excessos no uso da informação não serão controlados pelo Estado. Respeitamos e buscamos promover a liberdade de expressão”, expôs García Linera.

A delegação do CPJ tamb…m se reuniu com Gastón Núñez, funcionário que administra a rede de rádios comunitárias, um projeto de dois milh’es de dólares financiado pelo governo venezuelano. Mais de duas dezenas de rádios comunitárias já estão transmitindo para comunidades rurais e indígenas. Segundo Núñez, a rede não transmite propaganda governamental. Mas alguns dos jornalistas locais sustentam que a rede foi criada especificamente para dar voz à administração.