Presidente da Guiné-Bissau insulta jornalista enquanto liberdade de imprensa diminui

O Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, participa numa reunião com o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, em São Petersburgo, Rússia, em julho de 2023. (Foto: TASS Host Photo Agency via Reuters/Sergei Bobylyov)

Nova Iorque, 29 de agosto de 2024 – No meio de tensão política na Guiné-Bissau, na sequência da dissolução do parlamento pelo Presidente Umaro Sissoco Embaló em dezembro, foi com naturalidade que o jornalista da rádio Ussumane Mané fez ao líder da África Ocidental uma pergunta que estava na boca de toda a gente: haverá eleições presidenciais este ano?

Embaló, um antigo general do exército que chegou ao poder a 27 de fevereiro de 2020, na sequência de um escrutínio contestado, respondeu com palavrões a Mané durante a conferência de imprensa de 13 de julho no aeroporto da capital, Bissau.

“Ele explodiu, disse-me: ‘Vai-te foder’”, afirmou Mané, que trabalha na Rádio Sol Mansi, de propriedade católica, ao CPJ. “Fiquei chocado. Não disse mais nada”.

O incidente é emblemático da relação frágil entre a administração de Embaló e a imprensa, com as diferenças a aumentarem desde que o presidente destituiu o parlamento, na sequência de confrontos que ele disse serem uma tentativa de golpe.

Desde julho, pelo menos 16 jornalistas foram obstruídos, expulsos ou mesmo agredidos pela polícia e por funcionários do governo quando tentavam reportar notícias.

“As explosões e ameaças do Presidente Embaló contra os media, juntamente com a violência policial contra jornalistas, pintam um quadro sombrio da liberdade de imprensa antes das eleições legislativas da Guiné-Bissau em novembro”, disse a coordenadora do programa CPJ África, Muthoki Mumo, em Nairobi. “As autoridades devem investigar os ataques à imprensa e garantir que os media possam fazer o seu trabalho livremente.”

A governar por decreto, Embaló planeia realizar eleições legislativas em novembro, ignorando os apelos dos partidos políticos para a realização de eleições presidenciais em 2024, que, segundo os analistas, são constitucionalmente exigidas 90 dias antes do termo do seu mandato expirar a 27 de fevereiro de 2025.

Outros incidentes dignos de registo incluem:

A porta-voz da presidência, Ndira Tavares, disse ao CPJ que estava confiante de que um incidente como o de Embaló insultar Mané não voltaria a acontecer e que a presidência estava “empenhada em manter um diálogo aberto e respeitoso” com a imprensa. A porta-voz descreveu o encontro do Presidente com os jornalistas a 5 de agosto como “muito produtivo e participativo”, mas não comentou a expulsão de Baldé da conferência de imprensa do Ministério da Saúde.

José Carlos Macedo Monteiro, Secretário de Estado da Ordem Pública, disse ao CPJ “que os que estão no estrangeiro não sabem o que se passa no país e não devem falar do que não sabem”, sem fornecer mais pormenores.

O Ministério da Administração Interna não respondeu ao pedido de comentário do CPJ enviado por correio eletrónico.

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