Rio de Janeiro, 18 de março de 2022 – As autoridades do estado brasileiro de Minas Gerais devem investigar prontamente os recentes ataques a jornalistas que cobriam um protesto de policiais e garantir que os responsáveis prestem contas, disse o Comitê para Proteção de Jornalistas (CPJ) na sexta-feira.
Em 9 de março, durante um protesto realizado por policiais de Minas Gerais em Belo Horizonte, capital do estado, participantes não identificados daquele protesto atiraram artefatos explosivos contra jornalistas, de acordo com diversas reportagens da imprensa, Murilo Rocha, diretor de jornalismo da Band Minas, que falou ao CPJ em uma entrevista telefônica, e vídeo das explosões postadas no Instagram da Band Minas.
Os explosivos não identificados provocaram uma lesão auditiva temporária nos jornalistas da Band Minas Laura França e Caio Tárcia, que estavam cobrindo o protesto, disse Rocha ao CPJ.
Os policiais que se manifestavam também gritaram insultos para Tárcia e o forçaram a deixar a área, acrescentou Rocha.
“As autoridades do estado brasileiro de Minas Gerais devem investigar o uso irresponsável de artefatos explosivos em um protesto realizado por policiais, que feriu os jornalistas Laura França e Caio Tárcia, e responsabilizar os perpetradores”, disse Natalie Southwick, coordenadora do programa para a América Latina e o Caribe do CPJ, em Nova York. “É profundamente perturbador que estes manifestantes tenham arriscado vidas e a segurança para intimidar jornalistas e impedi-los de informar livremente”.
Rocha disse à CPJ que uma explosão ocorreu perto de França e do cinegrafista Nicanor Mendes, e que os jornalistas não sabiam se tinham sido atingidos propositalmente. Mendes não foi ferido pela explosão, afirmou Rocha.
O explosivo que feriu Tárcia, repórter da rádio BandNews FM, afiliada da Band Minas, parece ter sido intencionalmente atirado contra o jornalista, declarou Rocha ao CPJ.
Em um comunicado publicado em 9 de março, a Band Minas condenou o comportamento dos manifestantes e cobrou da polícia militar estadual o “acompanhamento do protesto, garantindo a segurança dos envolvidos, inclusive dos profissionais da imprensa”.
Rocha disse ao CPJ que França e Tárcia relataram formalmente o incidente às polícias civil e militar do estado em 10 de março, mas não tinham recebido nenhuma resposta até quinta-feira, dia 17.
Anteriormente, em fevereiro, policiais que protestavam insultaram um jornalista e um cinegrafista da emissora privada TV Globo Minas e os impediram de cobrir uma manifestação em Belo Horizonte, segundo várias matérias veiculadas pela imprensa e uma declaração do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais.
A polícia está em greve em Minas Gerais desde o final de fevereiro, de acordo com reportagens.
“Está bem clara uma hostilidade contra a imprensa nessas manifestações dos policiais. Mas não é um caso isolado não”, disse Rocha ao CPJ.
“Há uma hostilidade generalizada contra a imprensa. A agressão verbal é constante”, acrescentou ele.
Em um e-mail para o CPJ, o núcleo de atendimento à imprensa do Governo do Estado de Minas Gerais disse que a polícia civil estadual estava investigando os ataques, mas não havia identificado nenhum suspeito.
O núcleo também afirmou que as autoridades estaduais estavam investigando se houve “comportamentos inadequados e inaceitáveis durante as manifestações das forças de segurança”.