Rio de Janeiro, 13 de julho de 2021 – Os funcionários públicos brasileiros e seus representantes devem abster-se de assediar membros da imprensa que os cobrem e as autoridades brasileiras devem garantir que repórteres possam fazer seu trabalho sem represálias, disse hoje o Comitê para Proteção de Jornalistas (CPJ).
Em 9 de julho, o advogado pessoal do presidente brasileiro Jair Bolsonaro, Frederick Wassef, enviou uma longa mensagem de texto ameaçadora, que o CPJ analisou, para Juliana Dal Piva, jornalista do portal nacional on-line UOL.
Na mensagem, Wassef perguntou se Dal Piva é uma “comunista” ou uma “soldada da esquerda brava”, e perguntou por que ela não se mudou para a China, onde “você desapareceria e não iriam nem encontrar o seu corpo”. Wassef também acusou Dal Piva de “atacar e tentar destruir o presidente do Brasil, sua família e seu advogado” e a chamou de “inimiga da pátria”.
Dal Piva entrevistou Wassef por telefone em 2 de julho para uma série de reportagens sobre suposta corrupção envolvendo o presidente e seus familiares; partes da entrevista de Wassef também foram incluídas no episódio de 9 de julho do podcast de Dal Piva no UOL “A vida secreta de Jair”, informou a jornalista ao CPJ em uma entrevista por telefone. A mensagem de texto de Wassef para a jornalista não fazia referência a uma notícia específica.
“É inaceitável que qualquer figura pública, muito menos o advogado do presidente, envie uma mensagem ameaçando uma jornalista por seu trabalho. Esta clara tentativa de assediar Juliana Dal Piva envia uma mensagem arrepiante a todos os jornalistas que cobrem política e corrupção no Brasil”, disse em Nova York a coordenadora do programa do CPJ para a América Central e do Sul, Natalie Southwick. “O Brasil é uma democracia e seus líderes devem estabelecer um tom que encoraje, em vez de impedir, o livre exercício do jornalismo de interesse público”.
Em uma entrevista por telefone, Wassef disse ao CPJ que não acreditava que a mensagem fosse ameaçadora e afirmou que estava simplesmente “fazendo perguntas” e que seus comentários haviam sido “tirados do contexto”.
“Eu não ataquei a jornalista Juliana Dal Piva, ao contrário, eu ataquei as ditaduras comunistas”, declarou Wassef. “Quando digo o que ‘eles’ farão com ela, não é o que farei. Eu não a estava ameaçando, eu a estava avisando”.
Wassef disse ao CPJ que sua mensagem não era em resposta a uma reportagem específica, mas que ele ficou frustrado com o que vê como um antigo esforço de Dal Piva e de outros repórteres para retratá-lo de uma forma negativa.
“Isto não tem nada a ver com seu trabalho ou com o que ela escreveu sobre o presidente”, afirmou Wassef.
Dal Piva disse ao CPJ que não respondeu à mensagem de texto de Wassef, que o UOL publicou junto com uma declaração de apoio a Dal Piva e, também, reafirmando seu ” compromisso com um jornalismo sério, independente, apartidário e voltado para atender o interesse público”.
“Eu sou brasileira com muito orgulho e não sou inimiga da pátria por fazer meu trabalho. Cobrir essa história é falar sobre a biografia do presidente da república. Os jornalistas tiveram um papel fundamental e cumprem sua responsabilidade profissional em acompanhar de perto o presidente. Essa é a responsabilidade do nosso tempo, cobrir o governo Bolsonaro”, disse Dal Piva ao CPJ.
O CPJ enviou um e-mail para a assessoria de imprensa da presidência brasileira, mas não recebeu nenhuma resposta.