O prefeito Marcelo Crivella (centro) visita um hospital na da cidade do Rio de Janeiro, Brasil, em 29 de abril de 2020. Uma reportagem recente alegou que a prefeitura de Crivella financiava grupos para monitorar e obstruir o trabalho de jornalistas. (AFP / Carl de Souza)

Reportagem: A prefeitura do Rio de Janeiro pagou funcionários para assediar jornalistas que cobrem a pandemia

Nova York, 1º de setembro de 2020 – A TV Globo divulgou ontem uma reportagem investigativa que expôs que a prefeitura do Rio de Janeiro, do prefeito Marcelo Crivella, usou recursos públicos para pagar grupos de funcionários municipais para monitorar e obstruir jornalistas em hospitais e bloquear equipes de reportagem de realizar a cobertura da pandemia COVID-19.

“É ultrajante que o gabinete do prefeito Crivella do Rio de Janeiro mobilize funcionários municipais para assediar jornalistas e suprimir descaradamente o acesso a informações críticas de saúde pública em meio a uma pandemia fatal”, disse Natalie Southwick, coordenadora do programa do CPJ para as Américas do Sul e Central. “Essa tentativa aberta de censura põe em risco não apenas a saúde do povo brasileiro, mas mina o direito democrático fundamental da imprensa de informar livremente. As autoridades do Rio devem encerrar imediatamente esta iniciativa terrível, permitir que jornalistas façam suas reportagens sem interferência e responsabilizar aqueles que aprovaram tais programas”.

De acordo com a apuração da Globo, os funcionários municipais regularmente incomodavam jornalistas que realizavam entrevistas perto dos hospitais, usando táticas como gravar os jornalistas com seus próprios telefones, interromper os repórteres ou entrevistados e gritar com eles até que os jornalistas fossem obrigados a encerrar as entrevistas.

Em nota à Globo, a prefeitura disse que o programa é uma forma de combater “informações falsas” que podem colocar em risco a saúde pública. Um representante da assessoria de comunicação do prefeito enviou ao CPJ um comunicado acusando a Globo de tentar “fazer manipulação da notícia na porta dos hospitais” e pressionar a prefeitura a destinar mais verbas publicitárias, e dizendo que a presença dos funcionários municipais fora dos hospitais era necessária para “rebater mentiras que são repetidas no noticiário da emissora” que supostamente colocam em risco a vida das pessoas.