Criminosos incendeiam redação do jornal independente Canal de Moçambique em Maputo

Redação do jornal independente Canal de Moçambique após incêndio criminoso em 23 de agosto de 2020, em Maputo. (Lucas Menezes / Canal de Moçambique)

Nova York, 24 de agosto de 2020 – As autoridades moçambicanas devem conduzir em passo acelerado uma investigação meticulosa sobre o incêndio criminoso no Canal de Moçambique, disse hoje o Comitê para a Proteção dos Jornalistas.

Por volta das oito da noite de ontem na capital, Maputo, indivíduos não identificados invadiram as instalações do semanário independente de investigação e de sua publicação digital diária CanalMoz, jogaram gasolina nos móveis e equipamentos e os colocaram em chamas, segundo as informações da imprensa.

O incêndio destruiu a redação, o mobiliário e todo o equipamento utilizado para a produção de conteúdo, bem como o arquivo do jornal, de acordo com um comunicado da seção moçambicana do Media Institute of Southern Africa (MISA), um grupo regional de direitos de imprensa, que o CPJ analisou.

“O ataque ao escritório do Canal de Moçambique é o mais recente capítulo de um ambiente cada vez pior para a imprensa independente em Moçambique e uma ofensiva flagrante à democracia e ao direito do público de ser informado,” disse Angela Quintal, coordenadora do programa do CPJ para a África. “Pedimos às autoridades de Moçambique que investiguem o ataque de forma rápida e credível e garantam que não se torne mais um exemplo da impunidade que está a tornar-se norma com os ataques à imprensa no país.”

Em comunicado na sua página oficial do Facebook, o presidente moçambicano, Filipe Nyusi, disse condenar veementemente o ataque e ter instruído as autoridades a investigar.

Matias Guente, o editor executivo do jornal, disse ao CPJ por meio de aplicativo de mensagens, que os agressores “estão tentando fechar o jornal, porque sabem o quão relevantes somos para a democracia”.

Ele chamou o ataque de “terrorismo contra a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa”.

O Centro para a Democracia e Desenvolvimento em Moçambique, um grupo local de direitos humanos, afirmou em um comunicado analisado pelo CPJ que o ataque pode estar ligado a uma investigação do Canal de Moçambique sobre alegada corrupção entre altos funcionários envolvidos com o Ministério dos Recursos Minerais e Energia, que foi publicado na semana passada. O ministério suspendeu um acordo de marketing de combustível após essa investigação, de acordo com a declaração.

O porta-voz da polícia Orlando Mudumane não respondeu a um pedido de comentário via aplicativo de mensagens.

Guente e o Canal de Moçambique têm enfrentado perseguições e intimidações oficiais nos últimos anos, disse o jornalista ao CPJ.

Em 31 de dezembro de 2019, agressores não identificados espancaram Guente e tentaram sequestrá-lo, de acordo com notícias da época. Em junho de 2020, a Procuradoria-Geral da República interrogou-o por suposta violação de segredos de Estado para a publicação de informações sobre um contrato de segurança entre o governo e um consórcio multinacional de petróleo na província de Cabo Delgado, segundo reportagens e Guente.

Guente disse hoje ao CPJ que acredita que os incidentes estão relacionados, incluindo sua tentativa de sequestro, acrescentando que a polícia ainda não divulgou resultados sobre esta investigação mais de nove meses depois.

Até o momento, a polícia ainda não investigou de forma credível e informou sobre o sumiço do jornalista de rádio Ibraimo Mbaruco, desaparecido a 7 de abril em Cabo Delgado, depois de enviar uma mensagem de texto a um colega [dizendo] que ele estava “rodeado de soldados”, como o  CPJ documentou na época.

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