São Paulo, 18 de novembro de 2015 – O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) insta as autoridades brasileiras a investigar a morte do blogueiro Ítalo Eduardo Diniz Barros, que foi morto a tiros no nordeste do Brasil na sexta-feira. Diniz, que também trabalhava como porta-voz do prefeito, frequentemente criticava as autoridades locais em seu blog, segundo colegas e informações da imprensa. Sua morte ocorre quatro dias depois de o jornalista de rádio Israel Gonçalves Silva ter sido morto no estado nordestino brasileiro de Pernambuco.
“Instamos as autoridades locais a investigarem completamente o assassinato de Ítalo Eduardo Diniz Barros e a determinarem o motivo”, disse em Nova York Carlos Lauría, coordenador sênior do Programa do CPJ para as Américas. “Jornalistas no Brasil devem poder reportar as notícias sem medo de represálias, a violência letal está silenciando as vozes críticas e limitando seriamente a habilidade dos brasileiros de se engajar em vigorosas discussões sobre temas de interesse público”.
Diniz foi morto a tiros por volta das 18h45, enquanto caminhava em uma das principais estradas de Governador Nunes Freire, cidade a cerca de 285 milhas (460 km) da capital do estado do Maranhão, São Luis, de acordo com informações da imprensa local que citaram testemunhas. Dois homens em uma motocicleta disparam contra Diniz quatro vezes antes de fugir e Diniz morreu mais tarde no hospital, disseram as reportagens. Um amigo que estava com ele no momento, identificado pela imprensa como Werbeth Matheus Castro, foi atingido, mas não ficou gravemente ferido.
Augusto Barros, o policial encarregado da investigação, disse ao site local da organização nacional de notícias Globo, “É cedo para falar sobre os motivos, mas há especulações de que a vítima postou sobre temas políticos e irritou os políticos ou outras pessoas da região. Obviamente, com ele sendo um blogueiro que trabalha com informação, esta linha não pode ser negligenciado. “.
Dois amigos e um conhecido de Diniz, com quem o CPJ falou, disseram que o blogueiro trabalhou como assessor de imprensa para Marcel Curió, prefeito de Governador Nunes Freire, e escrevia sobre escândalos e alegadas irregularidades por outros políticos locais. O blog de Diniz também contava com o conteúdo de outros blogs e publicações locais do Maranhão, bem como algumas reportagens originais. Além de suas opiniões políticas, o blog consistia de notícias de cidade pequena e artigos com aspectos locais.
Luciano Tavares, amigo de Diniz e blogueiro local, disse ao CPJ que acredita que o assassinato esteja relacionado com os textos de Diniz. “Ele era um blogueiro e criticou o ex-prefeito. Isso criou muita raiva entre os defensores [do ex-prefeito] “, disse Tavares.
Amigos de Diniz disseram ao CPJ que o blogueiro tinha recebido ameaças de morte anteriormente, inclusive na semana de sua morte. Poucos dias antes de ser baleado Diniz teria dito a colegas por um grupo WhatsApp para os blogueiros que recebeu uma ameaça de morte. Tavares, membro do grupo WhatsApp, disse que Diniz relatou todas as ameaças à polícia local. Quando o CPJ contatou a polícia, um porta-voz disse que eles não estavam fornecendo detalhes sobre o caso.
Um amigo, que falou a CPJ na condição de anonimato, disse que Diniz tinha recebido uma ameaça de morte há muito tempo, em 2012. “Nós estávamos sempre com medo por ele,” a pessoa, que conhecia Diniz desde a infância, mas estava com medo de dar um nome, disse ao CPJ via telefone. “Mas ele nunca teve medo de dizer o que pensava.”
O assassinato levou colegas da comunidade de blogueiros na cidade a temer pela sua segurança, de acordo com um dos amigos de Diniz, e um post escrito desde a sua morte.
“Blogueiros do Maranhão difundiram a história, que abalou o município e deixou a todos com os cabelos na parte de trás do seu pescoço de pé,” Jarivânio Alencar escreveu em um blog postado no sábado. “O crime parece ter sido uma mensagem para o resto de nós.”
O assassinato de Diniz ocorre três anos após Décio Sá, um blogueiro político na capital do estado do Maranhão, ter sido morto em represália direta por seu trabalho, de acordo com a pesquisa do CPJ. Sá escreveu sobre política para o jornal local O Estado do Maranhão por cerca de 17 anos, e era conhecido por sua cobertura de políticos e corrupção no Blog do Décio, que foi um dos blogs mais lidos no estado, segundo reportagens.
Pelo menos 16 jornalistas foram assassinados em represália por seu trabalho desde 2011, segundo o CPJ. O país ocupa o 11º lugar no Índice de Impunidade do CPJ, que destaca os países onde jornalistas são mortos e seus assassinos ficam em liberdade.