Nova York, 13 de junho de 2012 – Autoridades do enclave angolano de Cabinda devem iniciar imediatamente uma investigação sobre o assalto à casa de um jornalista independente no domingo, disse hoje o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ).
Assaltantes não identificados saquearam a casa de José Manuel Gimbi, correspondente da emissora financiada pelo governo norte-americano Voz da América (VOA) e advogado de direitos humanos, por volta das 16h00, quando ninguém estava em casa, informou a estação. Os atacantes levaram itens relacionados ao trabalho do jornalista, incluindo dois computadores, o HD externo, um gravador, dois cartões de memória USB, e uma bolsa contendo importantes documentos relacionados ao seu trabalho, contou ao CPJ o advogado e mentor de Gimbi, Arão Tempo. A VOA noticiou que os assaltantes também roubaram alguns itens pessoais, incluindo livros e joias pertencentes à esposa de Gimbi.
Embora o motivo do ataque não esteja claro, jornalistas locais disseram ao CPJ acreditar que os assaltantes tivessem como alvo itens usados profissionalmente por Gimbi. A VOA informou que Gimbi não havia mencionado ter recebido ameaças recentemente. O jornalista prestou queixa ao escritório de Investigação Criminal de Cabinda, mas os policiais ainda não haviam ido até a casa, contou Tempo ao CPJ.
Gimbi é um dos dois únicos jornalistas independentes de Cabinda, volátil região onde o governo está preso em um conflito com a insurgência separatista. Ele recentemente entrevistou membros do partido de oposição UNITA sobre suas objeções às emendas propostas pelo governo para a lei eleitoral antes das eleições parlamentares marcadas para agosto. Na semana passada, ele cobriu um fórum de experts e membros da sociedade civil em Abuja, no qual os participantes abordaram questões que incluem a disparidade de riqueza em países ricos em petróleo, como Angola.
No passado, Gimbi foi alvo por seu jornalismo independente e atuação como advogado de direitos humanos, de acordo com a pesquisa do CPJ. Em 2011, pistoleiros invadiram sua casa e fizeram ameaças, segundo a pesquisa do CPJ.
“Condenamos o ataque à casa de José Manuel Gimbi, que é alvo permanente de ameaças e perseguição por seu jornalismo independente em Cabinda”, disse o Coordenador de Defesa dos Jornalistas da África no CPJ, Mohamed Keita. “Consideramos as autoridades de Cabinda responsáveis pelo bem-estar de Gimbi e pedimos que explorem todas as pistas sobre o caso, inclusive motivação política relacionada à sensível natureza do trabalho do jornalista”.
Romão Macário Lembe, vice-governador de Cabinda, disse hoje ao CPJ que não estava ciente do roubo. “Não havia tomado conhecimento de nada, nem pelo rádio nem por jornais independentes. Há coisas veiculadas pela VOA que não são verdadeiras. Minha primeira reação é colocar em dúvida a sua informação. Mas eu também não estou dizendo que é falsa. Eu vou tentar descobrir”. Ele também sugeriu que o roubo possa ter sido um ato aleatório. “Aqui há muitos assaltos. Os ladrões vêm de países vizinhos e voltam para lá. Nós investigamos, mas nunca os encontramos”.