Nova York, 16 de março de 2011-–O partido governante de Angola, MPLA, deve permitir que a imprensa cubra livremente eventos públicos, disse hoje o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) depois de vários incidentes recentes nos quais as autoridades impediram jornalistas de cobrirem eventos públicos relacionados ao partido de oposição do país.
Na terça-feira, policiais e funcionários da Assembleia Nacional de Angola negaram arbitrariamente a repórteres o acesso a uma audiência pública no gabinete do Comitê de Ética, de acordo com jornalistas locais. O comitê estava ouvindo o testemunho de Abilio Kamala Numa, secretário-geral do maior partido de oposição, UNITA, que enfrenta acusações de incitamento à desobediência civil por sua greve de fome em fevereiro em protesto contra o que ele chamou de abuso contra os direitos humanos e liberdade política pelo MPLA. A greve de fome de Numa foi desencadeada pela prisão de um militante da UNITA na província central de Huambo, segundo informações da imprensa.
Policiais e funcionários ameaçaram e agrediram o repórter Agostinho Gyeta da estação de rádio católica Ecclesia, jogando-o para fora do gabinete, informou a estação em uma transmissão da gravação do confronto. Seus equipamentos foram brevemente confiscados, de acordo com reportagens da imprensa.
Em 27 de fevereiro, oficiais de segurança do Estado impediram dois outros repórteres da Rádio Ecclesia, Zenina Volola e Matilde Vanda, de cobrirem a abertura do congresso da Organização das Mulheres Angolanas (OMA), a ala feminina do MPLA, segundo jornalistas locais. Volola teve negado o acesso ao gabinete e Vanda não pôde realizar entrevistas, de acordo com Teixeira Candido, porta-voz do Sindicato dos Jornalistas angolanos.
“O governo de Angola liderado pelo MPLA está tentando rudemente silenciar a cobertura do movimento de oposição”, disse o Coordenador para a Defesa dos Jornalistas na África, Mohamed Keita. “Pedimos às autoridades que cumpram a Constituição angolana, que garante o acesso dos cidadãos a diversas fontes de informação, não apenas à propaganda do partido no poder.”
Em 7 de março, forças de segurança da capital, Luanda, detiveram brevemente três jornalistas e um motorista do jornal semanal Novo Jornal que estavam cobrindo uma manifestação contra o governo na Praça Independence, de acordo com reportagens da imprensa e jornalistas locais. A polícia deteve os repórteres Pedro Cardoso e Ana Margoso, o fotojornalista Afonso Francisco, e o motorista Dálio Pandé por 10 horas, interrogando-os sobre suas ligações com os manifestantes e libertando-os sem acusações, contaram os jornalistas ao CPJ. Margoso disse à emissora financiada pelo governo norte-americano Voice of America que ela foi forçada a limpar a cela da delegacia e interrogada três vezes.
Em 5 de março, agentes de segurança invadiram a gráfica e impediram a distribuição da edição daquele dia dos semanários independentes Folha 8, Agora, e Jornal Angolense, que traziam manchetes sobre protestos marcados para 7 de março, de acordo com jornalistas locais.