Governo equatoriano interrompe programas para refutar críticas

Nova York, 2 de fevereiro de 2011Na última segunda-feira, as autoridades equatorianas interromperam um programa de notícias crítico ao governo para veicular uma réplica oficial à apresentadora, uma prática que tem se tornado frequente na administração do presidente Rafael Correa, segundo a pesquisa do Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ). A organização insta as autoridades equatorianas a encerrar esta prática, que tem efeito inibidor sobre o debate de temas de interesse público.

Na semana passada, durante o programa de notícias “Los Desayunos”, que é transmitido pela cadeia privada de televisão Teleamazonas, a apresentadora María Josefa Coronel havia criticado o governo pelas várias interrupções oficiais recentes durante seu programa, informou o grupo de defesa da liberdade de imprensa Fundamedios, com sede em Quito. Na segunda-feira, o governo ordenou à Teleamazonas que interrompesse o programa durante mais de dois minutos para transmitir uma resposta aos comentários de Coronel. Na “cadena” [nome pelo qual é conhecido este tipo de transmissão], um vídeo mostrou três mulheres recriminando Coronel por suas declarações críticas ao governo.

Foi a segunda refutação governamental no mesmo programa em menos de uma semana, segundo a Fundamedios. Em 25 de janeiro, “Los Desayunos” foi interrompido por um anúncio oficial de cinco minutos. Em uma fita levada ao estúdio por um funcionário do governo, uma voz masculina em off descrevia Coronel como “um ator político de oposição”, e acrescentava que ela era tendenciosa em seus comentários. A refutação oficial incluiu uma apresentação  em vídeo na qual três simpatizantes do governo – uma professora, uma dona de casa e uma trabalhadora autônoma – criticavam Coronel e a descreviam como uma ativista da oposição. 

Jornalistas equatorianos e defensores da liberdade de imprensa disseram ao CPJ que o governo estava utilizando a lei de radiodifusão, que autoriza as “cadenas”, para interromper programas críticos.

“O governo não pode usar a intimidação como forma de contestar seus críticos”, declarou Carlos Lauría, coordenador sênior do programa das Américas do CPJ. “Instamos as autoridades equatorianas a cessar esta prática absurda, que dificulta o debate sobre temas de interesse público, sem mencionar a própria cobertura informativa”.

Coronel também foi interrompida em outubro, depois da veiculação de comentários sugerindo que os congressistas do partido do governo eram irrelevantes, de acordo com a pesquisa do CPJ. Em 2010, o governo também obrigou a Teleamazonas a transmitir refutações em outros programas, inclusive no noticiário matinal “La Hora de Jorge Ortiz”.

Embora outros canais de televisão também tenham sido obrigados a transmitir “cadenas”, a Teleamazonas foi a emissora que enfrentou o maior número de tentativas de censura. Foi obrigada a ficar fora do ar durante três dias, em dezembro de 2009, depois de o órgão regulador declarar que a emissora havia “incitado a desordem pública” por uma matéria sobre as potenciais repercussões da exploração de gás natural perto da costa da ilha sulista de Puná.